Mundo
Guerra no Médio Oriente
"Indigno e perigoso". ONU condena sistema de ajuda de Israel em Gaza
Um alto funcionário da ONU denunciou esta quarta-feira, ao 600.º dia da guerra, o novo sistema de distribuição de ajuda criado por Israel na Faixa de Gaza como uma “distração” indigna, após uma operação de distribuição caótica que deixou 47 feridos no dia anterior.
O novo modelo promovido por Israel e pelos Estados Unidos de delegar a distribuição de ajuda a uma empresa privada é “uma distração das atrocidades”, disse Philippe Lazzarini, chefe da Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinianos (UNRWA), em Tóquio.
“Vimos as imagens chocantes ontem (...) Foi caótico, indigno e perigoso”, frisou Lazzarini.
“O tempo está a esgotar-se para evitar a fome, pelo que os trabalhadores humanitários devem ser autorizados a fazer o seu trabalho de salvar vidas agora”, acrescentou, elogiando a “experiência e conhecimentos da Unrwa para chegar às pessoas necessitadas”. Lazzarini é persona non grata em Israel, que o acusa de chefiar uma “organização terrorista” ligada ao Hamas.
"Os horrores desta guerra estão a ser transmitidos ao vivo. Ninguém pode dizer que não sabia. As atrocidades estão a tornar-se a norma perante os nossos olhos. Toda uma população enfrenta fome aguda. Meio milhão de pessoas já estão à beira da fome", realçou. Para Philippe Lazzarini, "o modelo de distribuição de auxílio proposto por Israel não condiz com o princípio humanitário fundamental, vai privar grande parte de Gaza, as pessoas altamente vulneráveis, de auxílio desesperadamente necessário. Penso que é um desperdício de recursos e uma distração das atrocidades". No entanto, uma fonte militar israelita afirmou que a distribuição tinha sido “um sucesso”.
Desde então, várias centenas de camiões de ajuda humanitária foram autorizados por Israel a entrar no pequeno território devastado pela guerra e a braços com uma situação humanitária catastrófica.
Pelo menos 47 feridos durante distribuição de alimentos em Gaza
Na terça-feira, uma distribuição de ajuda num novo centro de distribuição gerido pela Fundação Humanitária de Gaza (GHF), uma organização criada de raiz com o apoio de Israel e dos Estados Unidos, transformou-se num caos em Rafah, no sul da Faixa de Gaza, quando milhares de palestinianos acorreram ao local, segundo os jornalistas da AFP.
“Cerca de 47 pessoas ficaram feridas, a maior parte delas por balas, e os tiros vieram do exército israelita”, disse Ajith Sunghay, chefe do Gabinete do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos nos Territórios Palestinianos Ocupados, aos jornalistas na manhã desta quarta-feira.
O centro de distribuição nos arredores da cidade de Rafah, no extremo sul de Gaza, foi inaugurado na segunda-feira pela Fundação Humanitária de Gaza (GHF, na sigla em inglês), registada nos Estados Unidos, que foi designada por Israel para assumir as operações de ajuda humanitária. A ONU e outras organizações humanitárias rejeitaram o novo sistema, alegando que não será capaz de satisfazer as necessidades dos 2,3 milhões de habitantes de Gaza e permite que Israel utilize os alimentos como arma para controlar a população. Alertaram ainda para o risco de atrito entre as tropas israelitas e as pessoas que procuram mantimentos.Os palestinianos estão desesperados por comida depois de quase três meses do encerramento das fronteiras pelos israelitas.
Israel afirma ter ajudado a estabelecer o novo mecanismo de ajuda para impedir o Hamas de desviar os mantimentos, mas não apresentou provas de desvio sistemático e as agências da ONU afirmam ter mecanismos para impedir o desvio de comida e outros suprimentos.
A GHF afirmou ter estabelecido quatro centros, dois dos quais já começaram a funcionar. Estão protegidos por empresas de segurança privada e possuem vedações de arame que conduzem os palestinianos para o que se assemelha a bases militares rodeadas por grandes barreiras de areia.
Frisou que os seus seguranças não dispararam contra a multidão, recuando antes de retomar as operações.
As forças israelitas estão estacionadas nas proximidades, naquilo que Israel chama o corredor Morag, uma zona militar que separa a cidade de Rafah, no sul — que está agora praticamente desabitada — do resto do território.
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, disse na terça-feira que "houve uma perda momentânea de controlo" no ponto de distribuição, acrescentando que "felizmente, conseguimos controlá-lo".
Repetiu que Israel planeia mover toda a população de Gaza para uma "zona isolada" no extremo sul do território, enquanto as tropas combatem o Hamas noutros locais.
A guerra desencadeada pelo Hamas entrou no seu 600.º dia esta quarta-feira, sem esperança de uma trégua nos bombardeamentos israelitas em Gaza ou da libertação dos reféns detidos desde o ataque do movimento islamita em 7 de outubro de 2023.600.º dia de guerra. Famílias acusam governo de inoperância
A pedido do Fórum das Famílias, a principal organização israelita que apela a um cessar-fogo que permita a libertação dos reféns, centenas de pessoas começaram a reunir-se em cruzamentos nas estradas israelitas às 6h29 (3h29 GMT), a hora a que começou o ataque do Hamas no sul do país, há 600 dias.
Os manifestantes juntaram-se junto a fitas amarelas gigantes, que simbolizam os reféns detidos na Faixa de Gaza.
Ao longo das estradas foram colocados cartazes com o número 600. Os manifestantes bloquearam a principal autoestrada urbana de Telavive, segundo um fotógrafo da AFP.
O filho de um dos reféns que foi morto pediu a intervenção dos Estados Unidos e acusou o governo israelita de inoperância.
"O pior e mais brutal governo da história de Israel condenou os restantes reféns à morte por tortura. Este governo declara abertamente que os reféns são a sua menor prioridade em Gaza, mesmo após a transferência da população, a guerra é eterna e as negociações para um acordo já foram frustradas", acusou o familiar de um dos reféns raptados pelo Hamas a 7 de outubro. Os familiares dos reféns deixam um apelo "ao presidente Trump, é o único que pode agir para interromper a guerra de vingança e garantir o regresso de todos, tanto vivos para reabilitação, como os mortos para enterro. Saiba que nós somos a maioria do povo, a maioria que diz que a devolução dos reféns é a primeira prioridade, parte do fim da morte e do sofrimento para ambos os lados. Use o seu poder com determinação para alcançar a paz e trazer os nossos entes queridos para casa".
“Vimos as imagens chocantes ontem (...) Foi caótico, indigno e perigoso”, frisou Lazzarini.
“O tempo está a esgotar-se para evitar a fome, pelo que os trabalhadores humanitários devem ser autorizados a fazer o seu trabalho de salvar vidas agora”, acrescentou, elogiando a “experiência e conhecimentos da Unrwa para chegar às pessoas necessitadas”. Lazzarini é persona non grata em Israel, que o acusa de chefiar uma “organização terrorista” ligada ao Hamas.
"Os horrores desta guerra estão a ser transmitidos ao vivo. Ninguém pode dizer que não sabia. As atrocidades estão a tornar-se a norma perante os nossos olhos. Toda uma população enfrenta fome aguda. Meio milhão de pessoas já estão à beira da fome", realçou. Para Philippe Lazzarini, "o modelo de distribuição de auxílio proposto por Israel não condiz com o princípio humanitário fundamental, vai privar grande parte de Gaza, as pessoas altamente vulneráveis, de auxílio desesperadamente necessário. Penso que é um desperdício de recursos e uma distração das atrocidades". No entanto, uma fonte militar israelita afirmou que a distribuição tinha sido “um sucesso”.
Sob forte pressão internacional, Israel levantou parcialmente, na semana passada, o bloqueio total que tinha imposto à Faixa de Gaza desde 2 de março, oficialmente para forçar o movimento islamita palestiniano a libertar os reféns que ainda mantém em seu poder.
Desde então, várias centenas de camiões de ajuda humanitária foram autorizados por Israel a entrar no pequeno território devastado pela guerra e a braços com uma situação humanitária catastrófica.
Pelo menos 47 feridos durante distribuição de alimentos em Gaza
Na terça-feira, uma distribuição de ajuda num novo centro de distribuição gerido pela Fundação Humanitária de Gaza (GHF), uma organização criada de raiz com o apoio de Israel e dos Estados Unidos, transformou-se num caos em Rafah, no sul da Faixa de Gaza, quando milhares de palestinianos acorreram ao local, segundo os jornalistas da AFP.
“Cerca de 47 pessoas ficaram feridas, a maior parte delas por balas, e os tiros vieram do exército israelita”, disse Ajith Sunghay, chefe do Gabinete do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos nos Territórios Palestinianos Ocupados, aos jornalistas na manhã desta quarta-feira.
O centro de distribuição nos arredores da cidade de Rafah, no extremo sul de Gaza, foi inaugurado na segunda-feira pela Fundação Humanitária de Gaza (GHF, na sigla em inglês), registada nos Estados Unidos, que foi designada por Israel para assumir as operações de ajuda humanitária. A ONU e outras organizações humanitárias rejeitaram o novo sistema, alegando que não será capaz de satisfazer as necessidades dos 2,3 milhões de habitantes de Gaza e permite que Israel utilize os alimentos como arma para controlar a população. Alertaram ainda para o risco de atrito entre as tropas israelitas e as pessoas que procuram mantimentos.Os palestinianos estão desesperados por comida depois de quase três meses do encerramento das fronteiras pelos israelitas.
Israel afirma ter ajudado a estabelecer o novo mecanismo de ajuda para impedir o Hamas de desviar os mantimentos, mas não apresentou provas de desvio sistemático e as agências da ONU afirmam ter mecanismos para impedir o desvio de comida e outros suprimentos.
A GHF afirmou ter estabelecido quatro centros, dois dos quais já começaram a funcionar. Estão protegidos por empresas de segurança privada e possuem vedações de arame que conduzem os palestinianos para o que se assemelha a bases militares rodeadas por grandes barreiras de areia.
Frisou que os seus seguranças não dispararam contra a multidão, recuando antes de retomar as operações.
As forças israelitas estão estacionadas nas proximidades, naquilo que Israel chama o corredor Morag, uma zona militar que separa a cidade de Rafah, no sul — que está agora praticamente desabitada — do resto do território.
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, disse na terça-feira que "houve uma perda momentânea de controlo" no ponto de distribuição, acrescentando que "felizmente, conseguimos controlá-lo".
Repetiu que Israel planeia mover toda a população de Gaza para uma "zona isolada" no extremo sul do território, enquanto as tropas combatem o Hamas noutros locais.
A guerra desencadeada pelo Hamas entrou no seu 600.º dia esta quarta-feira, sem esperança de uma trégua nos bombardeamentos israelitas em Gaza ou da libertação dos reféns detidos desde o ataque do movimento islamita em 7 de outubro de 2023.600.º dia de guerra. Famílias acusam governo de inoperância
A pedido do Fórum das Famílias, a principal organização israelita que apela a um cessar-fogo que permita a libertação dos reféns, centenas de pessoas começaram a reunir-se em cruzamentos nas estradas israelitas às 6h29 (3h29 GMT), a hora a que começou o ataque do Hamas no sul do país, há 600 dias.
Foto: Aviv Atlas - Reuters
Os manifestantes juntaram-se junto a fitas amarelas gigantes, que simbolizam os reféns detidos na Faixa de Gaza.
Ao longo das estradas foram colocados cartazes com o número 600. Os manifestantes bloquearam a principal autoestrada urbana de Telavive, segundo um fotógrafo da AFP.
O filho de um dos reféns que foi morto pediu a intervenção dos Estados Unidos e acusou o governo israelita de inoperância.
"O pior e mais brutal governo da história de Israel condenou os restantes reféns à morte por tortura. Este governo declara abertamente que os reféns são a sua menor prioridade em Gaza, mesmo após a transferência da população, a guerra é eterna e as negociações para um acordo já foram frustradas", acusou o familiar de um dos reféns raptados pelo Hamas a 7 de outubro. Os familiares dos reféns deixam um apelo "ao presidente Trump, é o único que pode agir para interromper a guerra de vingança e garantir o regresso de todos, tanto vivos para reabilitação, como os mortos para enterro. Saiba que nós somos a maioria do povo, a maioria que diz que a devolução dos reféns é a primeira prioridade, parte do fim da morte e do sofrimento para ambos os lados. Use o seu poder com determinação para alcançar a paz e trazer os nossos entes queridos para casa".
Ataques israelitas provocaram 16 mortos
Pelo menos 16 pessoas morreram durante a noite em vários ataques aéreos israelitas contra o território palestiniano, declarou esta quarta-feira a Defesa Civil da Faixa de Gaza, controlada pelo grupo islamita Hamas.
"As equipas da Defesa Civil retiraram 16 mártires, incluindo várias crianças, após ataques aéreos israelitas na Faixa de Gaza desde o amanhecer" de hoje, disse à agência de notícias France-Presse, Mahmoud Bassal, porta-voz da organização de socorro.
Bassal explicou que nove pessoas "da família do jornalista Osama al-Arabid" foram mortas perto de al-Saftawi, a norte da Cidade de Gaza."Várias crianças" estavam entre os mortos, segundo o porta-voz da Defesa Civil. Os ataques ocorreram por volta das 2h00, no horário local (00h00 em Lisboa).
Al-Arabid, que trabalha como vídeo-jornalista e editor para uma produtora local, ficou ferido, segundo a Defesa Civil.
No centro da Faixa de Gaza, seis membros da mesma família, os Aqilan, foram mortos num ataque na zona de Deir al-Balah, segundo a mesma fonte.
Bassal acrescentou que "um civil" foi morto em Abasan, a leste de Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza, sem adiantar mais pormenores. Contactado pela AFP, o exército israelita não respondeu de imediato, indicando ser difícil obter informações sobre estes ataques sem coordenadas precisas.Após abandonar o cessar-fogo de dois meses, Israel retomou a sua ofensiva na Faixa de Gaza em meados de março e intensificou as suas operações militares em 17 de maio, com o objetivo declarado de aniquilar o Hamas, libertar os últimos reféns que restavam e assumir o controlo do território.
Também esta quarta-feira, o exército israelita matou um palestiniano durante uma operação na cidade de Jit, na Cisjordânia ocupada, perto de Qalqilia.
O homem, identificado como Jasem Ibrahim al-Sada, foi baleado por soldados israelitas dentro da sua casa, segundo a sua família, que acrescentou que os soldados retiveram o corpo durante algum tempo antes de o entregarem ao Crescente Vermelho Palestiniano.
Pelo menos 16 pessoas morreram durante a noite em vários ataques aéreos israelitas contra o território palestiniano, declarou esta quarta-feira a Defesa Civil da Faixa de Gaza, controlada pelo grupo islamita Hamas.
"As equipas da Defesa Civil retiraram 16 mártires, incluindo várias crianças, após ataques aéreos israelitas na Faixa de Gaza desde o amanhecer" de hoje, disse à agência de notícias France-Presse, Mahmoud Bassal, porta-voz da organização de socorro.
Bassal explicou que nove pessoas "da família do jornalista Osama al-Arabid" foram mortas perto de al-Saftawi, a norte da Cidade de Gaza."Várias crianças" estavam entre os mortos, segundo o porta-voz da Defesa Civil. Os ataques ocorreram por volta das 2h00, no horário local (00h00 em Lisboa).
Al-Arabid, que trabalha como vídeo-jornalista e editor para uma produtora local, ficou ferido, segundo a Defesa Civil.
No centro da Faixa de Gaza, seis membros da mesma família, os Aqilan, foram mortos num ataque na zona de Deir al-Balah, segundo a mesma fonte.
Bassal acrescentou que "um civil" foi morto em Abasan, a leste de Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza, sem adiantar mais pormenores. Contactado pela AFP, o exército israelita não respondeu de imediato, indicando ser difícil obter informações sobre estes ataques sem coordenadas precisas.Após abandonar o cessar-fogo de dois meses, Israel retomou a sua ofensiva na Faixa de Gaza em meados de março e intensificou as suas operações militares em 17 de maio, com o objetivo declarado de aniquilar o Hamas, libertar os últimos reféns que restavam e assumir o controlo do território.
Também esta quarta-feira, o exército israelita matou um palestiniano durante uma operação na cidade de Jit, na Cisjordânia ocupada, perto de Qalqilia.
O homem, identificado como Jasem Ibrahim al-Sada, foi baleado por soldados israelitas dentro da sua casa, segundo a sua família, que acrescentou que os soldados retiveram o corpo durante algum tempo antes de o entregarem ao Crescente Vermelho Palestiniano.
c/ agências