Intercalares EUA. Democratas podem reconquistar o Congresso

por RTP
Nick Oxford - Reuters

As últimas sondagens, realizadas pelos vários órgãos de comunicação nos EUA, apontam para que os Republicanos assumam a maioria no Senado e os Democratas o controlo do Congresso. As eleições intercalares nos Estados Unidos decorrem esta terça-feira e os candidatos tentam cativar os votos dos indecisos.

Diversos estudos revelam que há seis em sete hipóteses de os Democratas ganharem o controlo do Congresso, mas apenas uma em sete hipóteses de dominarem o Senado, nas eleições intercalares nos Estados Unidos da América que terça-feira escolhem congressistas, senadores e governadores em 36 Estados.

João Ricardo Vasconcelos - RTP
Neste momento, os Republicanos controlam ambas as câmaras do Capitólio, o que tem facilitado a vida política do Presidente Donald Trump, que tem contado com o apoio das maiorias para fazer passar várias das suas medidas, mesmo as mais polémicas.Os americanos votam na terça-feira numas eleições intercalares que escolherão congressistas, senadores e governadores, em mais de cinco mil escolhas.

No entanto, as eleições intercalares devem alterar este cenário político, com a popularidade de Donald Trump em baixa e com o Partido Republicano a dificilmente conseguir contrariar os avanços Democratas, sobretudo nas eleições para governadores dos Estados (onde os Republicanos devem perder seis a 10 lugares) e para o Congresso (onde atualmente os Republicanos detêm 235 lugares, contra 193 dos Democratas – sete lugares estão vagos).

O controlo Republicano no Senado pode ser vital para Donald Trump, sobretudo se for criado um processo de impeachment, como indica a ameaça dos Democratas, que lançam suspeitas sobre o envolvimento do Presidente nas alegadas interferências russas nas eleições presidenciais.Esse processo para a destituição do Presidente terá de começar no Congresso (o que poderá provavelmente acontecer, com a previsível maioria Democrata), mas mesmo que seja aprovado na câmara baixa do Capitólio precisa de ser validado no Senado, por dois terços dos membros.

Mas sem uma maioria Republicana no Congresso, Trump pode contar com vários outros problemas, criados a partir do Capitólio, desde investigações sobre os seus negócios, ou sobre as finanças de familiares seus ou de figuras que lhe são próximas e sobre os quais os Democratas têm várias suspeições, como é o caso do secretário de Comércio, Wilbur Ross.

Outra consequência imediata é a dificuldade de manter a agenda legislativa Republicana, com afirmações de vários congressistas Democratas a prometer que travarão iniciativas como as que estavam delineadas nas áreas fiscais e de segurança social.

Com o controlo da maioria dos governos estaduais (como as sondagens indicam que deve acontecer), também a agenda legislativa dos Democratas deverá prevalecer, a nível local, onde o novo controlo terá uma capacidade de condicionar o trabalho dos congressistas e senadores dos respetivos Estados.

Um cenário é igualmente preocupante para as aspirações de reeleição de Donald Trump.

As investigações suscitadas pela maioria Democrata no Congresso e a falta de apoio de muitos dos governos estaduais poderá dificultar a base de apoio de que Trump precisa para tentar a reeleição dentro de dois anos.
Os Estados chave
Em algumas das eleições intercalares nos Estados Unidos, na terça-feira, está em jogo a real base de apoio do Partido Republicano de Trump.

Para cada eleitor, cada escolha é relevante, mas na noite eleitoral umas terão mais atenção do que outras, pelas consequências políticas, seja no que diz respeito ao controlo do Senado e do Congresso, seja pelo significado simbólico que lhes será dado pelos partidos, ou pela ideia que darão sobre a real base de apoio do Partido Republicano de Trump.

Uma das que merece um olhar cuidado decidirá o congressista pelo 45.º distrito da Califórnia, onde a Republicana Mimi Walters procurará segurar o seu lugar, numa corrida renhida contra a Democrata Katie Porter.

A congressista Republicana foi uma das mais acérrimas apoiantes de Trump na luta contra o sistema Obamacare, enquanto a sua adversária Democrata tem o apoio dos grupos progressistas na sua campanha a favor de um sistema de saúde que inclua todos os americanos.Saber quem vence estas eleições numa as mais populosas regiões dos Estados Unidos da América (EUA) dará uma perspetiva importante sobre a real base de apoio dos Democratas em relação a uma das bandeiras políticas que estará em jogo nas próximas presidenciais.

No Texas, os Republicanos jogam uma carta importante na tentativa de manterem o controlo do Senado (onde têm uma magra vantagem sobre os Democratas – 51 eleitos contra 49), numa corrida eleitoral onde Martha McSally vai testar a popularidade de Trump e das suas medidas anti-imigração (um tema relevante num Estado, tradicionalmente conservador, que tem uma longa fronteira com o México).

A Democrata Kyrsten Sinema sabe que tem uma tarefa difícil pela frente, depois de Donald Trump ter conseguido 49 por cento de votos neste círculo, mas procura capitalizar politicamente as vantagens decorrentes do facto de o senador que abandona o lugar, Jeff Flake, ter sido um forte crítico do presidente americano, apesar de ter sido eleito pelo Partido Republicano, estando empatada nas sondagens com Martha McSally.

A Florida é sempre um Estado importante em qualquer eleição e estas não são exceção, seja para o Congresso, para o Senado ou para o lugar de governador, onde Republicanos e Democratas estão numa acesa disputa, eleitor a eleitor.

As corridas eleitorais na Florida estão a ser consideradas tão relevantes por ambos os partidos que Donald Trump e Barack Obama marcaram comícios nesse Estado, na reta final da campanha, para continuar uma dura luta de palavras que os tem separado, nos discursos que ambos os estadistas têm feito nas últimas semanas, sobretudo divergindo em matérias que são particularmente importantes para os eleitores na Florida, como a questão racial e os cortes nos impostos anunciados pelo atual Presidente.

O Wisconsin será outro dos Estados a ter em mente, na noite eleitoral, pela disputa pelo lugar de governador, onde os Republicanos apresentam pela terceira vez Scott Walker, contra o Democrata Tony Evers.

Os Republicanos gostam de repetir que Walker é imbatível, mas a verdade é que as sondagens mais recentes indicam que a reeleição não está segura e alguns analistas apontam como explicação a sua próxima relação com Trump, que apareceu ao seu lado por várias vezes, durante o verão, o que tem sido lido como uma prova do efeito nefasto que o presidente tem junto de alguns setores de eleitorado.
Eleitorado mais jovem

As eleições intercalares de terça-feira nos Estados Unidos podem ser históricas pelas mudanças no perfil de muitos dos candidatos, impulsionados por um eleitorado mais jovem.

As sondagens indicam que 40 por cento de eleitores com idades compreendidas entre os 18 e os 29 anos dizem que “definitivamente irão votar”, contrastando com o histórico de participação deste eleitorado que é geralmente muito baixa (nas intercalares de 2014, apenas 20 por cento desses jovens votou).
Nas eleições em que os americanos vão escolher congressistas, senadores e governadores, em vários Estados, poderá haver muitas primeiras vezes na história política dos Estados Unidos da América, com as sondagens a indicarem que haverá níveis de votação muito elevados, sobretudo entre o eleitorado mais jovem.

As minorias, as mulheres e os indivíduos lésbicos, homossexuais, bissexuais e transgénero estão ainda muito pouco representados na política americana.

Mas estas eleições podem dar um contributo para tornar o cenário mais diversificado e igualitário, com candidatos de perfis pouco tradicionais a apresentar-se ao eleitorado.

Outros factos podem também fazer história nas eleições legislativas de terça-feira, como os números recorde de votação jovem, o que pode ajudar a compreender algumas modificações no perfil dos candidatos e nas mensagens de campanha.

C/Lusa
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