Investimentos chineses em Tel Aviv podem prejudicar apoio dos EUA a Israel

por Joana Raposo Santos - RTP
Em 2017, o então ministro israelita dos Transportes (à direita) inaugurava o início da construção de uma linha de ferro em Tel Aviv por parte da empresa China Railway Engineering Corporation. Foto: Baz Ratner - Reuters

A abertura de Israel ao investimento chinês em infraestruturas pode estar a colocar em causa o apoio da Administração Trump a esse país, nomeadamente no que diz respeito à anexação da Cisjordânia. A informação foi avançada por um membro do Governo norte-americano ao Jerusalem Post.

De acordo com a fonte do Jerusalem Post, “o Governo israelita está a tentar obter o melhor dos dois mundos” com os EUA e a China. “Querem a aprovação para a anexação e a continuidade dos benefícios económicos, diplomáticos e laços de segurança, enquanto continuam a abrir a porta à China para projetos decisivos de infraestruturas, tais como o 5G e as linhas ferroviárias”, considerou.

Recentemente decorreu uma licitação para construir duas linhas ferroviárias em Tel Aviv, sendo que três dos seis grupos internacionais que participaram na mesma incluem empresas públicas chinesas que já trabalharam em projetos ferroviários no Irão.Israel poderá estar a ver nos investimentos chineses uma oportunidade de financiamento para a colonização da Cisjordânia.

O membro do Governo norte-americano frisou ao Jerusalem Post que o comportamento de Israel está a “levantar questões” em Washington, “mesmo entre os mais fortes apoiantes de Israel dentro da Administração Trump”.

O alerta chega numa altura em que o embaixador dos Estados Unidos em Israel, David Friedman, se encontra em Washington para participar em reuniões na Casa Branca que têm como objetivo determinar a posição norte-americana quanto às opções de soberania que Israel está a considerar.

Outro membro da Administração Trump terá considerado, no entanto, “absurda” a ideia de que o apoio dos EUA a Israel e o “plano de paz” elaborado pelo Presidente norte-americano para essa região estejam relacionados com políticas chinesas. Ainda assim, admitiu que todos os elementos são tidos em conta na relação Israel-Estados Unidos.
Laços entre China e Irão levantam preocupações
Em meses recentes, os EUA têm pedido aos seus aliados que cortem laços com a China, pelo menos no que diga respeito a áreas que impliquem riscos de segurança e possam prejudicar ainda mais a relação económica entre Washington e Pequim.

O secretário de Estado Mike Pompeo reiterou esta posição na sexta-feira, durante um discurso no qual referiu que “qualquer investimento por parte de uma empresa detida pelo Estado chinês deve ser visto com suspeição”, apelando por isso aos aliados dos Estados Unidos para que “retirem as cortinas douradas dos laços económicos”. Em maio, a pressão exercida pela Administração Trump levou a que Israel selecionasse uma empresa local em vez de uma empresa chinesa para construir a maior planta de dessalinização do mundo.

A preocupação dos EUA quanto ao envolvimento de empresas chinesas em grandes projetos de infraestruturas em Israel, que Pompeo tinha já mencionado na sua visita a esse país do Médio Oriente no mês passado, deve-se parcialmente à capacidade dos serviços de inteligência da China de recolherem informações enquanto as empresas do Estado se dedicam aos projetos em questão.

Quase todas as empresas que licitaram para a construção das linhas de caminho de ferro em Tel Aviv têm laços com o Irão. É o caso da China Railway Engineering Corporation, que se encontra atualmente a construir uma linha de alta velocidade entre as cidades iranianas de Teerão e Isfahan.

Um relatório do instituto de pesquisa RAND para o Departamento de Defesa dos Estados Unidos publicado este ano alertou para o facto de a China ter laços apertados com o Irão, referindo que “o Partido Comunista poderá pedir às empresas chinesas que estão a concretizar negócios em Israel que partilhem determinadas visões com o Governo iraniano de modo a ganharem aliados e influência em Teerão”.

No mesmo relatório, um ex-funcionário da Agência de Segurança de Israel (Shin Bet) avisou que “se Israel tentar atacar o Irão, a China poderá prejudicar as operações de infraestruturas em Israel” em modo de retaliação.

Por estas razões, os Estados Unidos já avisaram Israel de que deve estabelecer um sistema mais robusto para pesar os riscos dos investimentos estrangeiros em infraestruturas. No final do ano passado, Israel criou um comité para avaliar este tipo de investimentos, mas as suas recomendações não são vinculativas e o grupo de especialistas não tem poder para cancelar os negócios que considere arriscados.
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