O Irão anunciou esta terça-feira que aumentou o enriquecimento do urânio para 60% na central de Fordo, um valor muito acima do limiar estabelecido pelo acordo internacional de 2015. Por sua vez, Washington expressou “profunda preocupação” com o avanço do programa nuclear iraniano.
A organização, citada pela agência de notícias estatal IRNA, explicou que “uma nova geração de centrifugadoras IR-6 substituiu máquinas mais antigas em Fordo para permitir um aumento maciço na produção”.
O Irão já tinha produzido urânio enriquecido a 60 por cento em Natanz, em abril de 2021, após um ataque às instalações que Teerão atribuiu a Israel. Apesar de o valor estar ainda longe dos 90 por cento necessários para a produção de uma bomba atómica, excede em larga escala o limiar de 3,67 por cento estabelecido no acordo nuclear de 2015.
O anúncio de Teerão ocorre dias depois de o Conselho de Governadores da Organização Internacional de Energia Atómica (AIEA) ter aprovado uma resolução que censura o Irão pela cooperação insuficiente na investigação em curso sobre vestígios de urânio encontrados em vários locais não declarados. A resolução, que foi apresentada pelos EUA, França, Alemanha e Reino Unido, ameaça levar o caso ao Conselho de Segurança das Nações Unidas se Teerão não começar a cooperar.
O Irão tem exigido, por sua vez, que a investigação seja encerrada como parte dos esforços para reavivar o acordo nuclear de 2015 entre Teerão e as potências mundiais.
Um dia depois da votação da AIEA, o porta-voz do Ministério iraniano dos Negócios Estrangeiros, Nasser Kanani, condenou a resolução e sugeriu que esta estava relacionada com a vaga de protestos que decorre no país. Kanani acusou os EUA e a União Europeia de estarem a tentar “aproveitar as condições recentes” com o objetivo de “exercer pressão política sobre o Irão” e prometeu retaliar.
Casa Branca expressa “profunda preocupação”
Um porta-voz da Casa Branca expressou, esta terça-feira, “profunda preocupação” com o avanço do programa nuclear iraniano.
"Continuamos a observar com profunda preocupação não apenas o progresso do programa nuclear do Irão, mas também a constante melhoria das suas capacidades de mísseis balísticos", disse John Kirby, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA.
"Vamos garantir que o presidente [norte-americano] dispõe de todas as opções necessárias”, disse ainda Kirby, sem fornecer mais detalhes.
Os EUA abandonaram unilateralmente o acordo nuclear com o Irão, conhecido por Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA), em 2018, impondo desde então duras sanções a Teerão. As negociações com vista à reativação do acordo foram retomadas em abril de 2021, mas estão paralisadas há meses, com ambos os lados a recusarem dar o primeiro passo de forma a chegarem a um entendimento.
O presidente Joe Biden "ainda acredita que a melhor maneira de chegar lá é por meio da diplomacia", mas "não estamos perto disso", disse John Kirby. “Preferiríamos essa via, mas estamos muito longe disso”, acrescentou.
c/agências