Irão. Cem pessoas enfrentam acusações que podem acabar em pena de morte

por Cristina Sambado - RTP
WANA (West Asia News Agency) via Reuters

Pelo menos uma centena de iranianos, detidos nas manifestações que decorrem há mais de 100 dias no país, enfrentam acusações passíveis de punição com pena de morte, alertou a organização não-governamental Iran Human Rights (IHR), com sede em Oslo.

No relatório divulgado pela Iran Human Rights, são identificados 100 detidos, cinco dos quais são mulheres, em risco de serem condenados à pena capital. Onze já estão no corredor da morte. A ONG alerta que muitos destes detidos têm acesso limitado a advogados. Segundo a IHR, desde setembro já morreram pelo menos 476 pessoas, das quais 64 eram crianças e nove delas meninas. Os números referem-se apenas aos protestos nas ruas.

Ao decretar condenações à morte e executar alguns manifestantes, as autoridades iranianas querem que as pessoas voltem para casa”, afirmou no relatório o diretor da Iran Human Rights, Mahmood Amiry-Moghaddam.

Para o responsável pela ONG, “o comportamento das autoridades teve um certo efeito”. “Mas o que observamos, de forma geral, foi um aumento da raiva contra as autoridades”.

Mahmood Amiry-Moghaddam considera que a “estratégia de semear o medo com as execuções fracassou”.Os protestos começaram a 16 de setembro após a morte de Mahsa Amini, uma jovem curda de 22 anos que, três dias antes, havia sido interpelada pela polícia da moralidade, que a manteve sob custódia, acusada de uso indevido do hijab, o véu islâmico.

“Apesar de mais de 100 dias desde o início dos protestos em todo o país, com centenas de mortos e milhares de presos, a revolta popular por mudanças reias e conquista de direitos fundamentais continua. O desafio que as pessoas enfrentam é o preço que têm de pagar para atingir esse objetivo”, acrescentou.

Este mês as autoridades iranianas já executaram duas pessoas, condenadas pelo seu papel nas manifestações, numa escalada de repressão por parte das autoridades iranianas que, de acordo com ativistas, visa semear o medo entre a população.

Majidreza Rahnavard, de 23 anos, foi enforcada em público no dia 12 de dezembro, depois de ter sido condenada por um tribunal de Machhad, no nordeste do Irão, de ter matado dois elementos das forças de segurança.

Quatro dias antes, Mohsen Shekari, também de 23 anos, tinha sido executado por ter ferido um elemento das forças de segurança.

De acordo com as autoridades judiciais iranianas, outras nove pessoas foram condenadas à morte, em ligação com os protestos. Duas pessoas vão ter o julgamento repetido.
Em novembro, a ONU revelou que pelo menos 14 mil pessoas tinham sido detidas desde o início dos protestos no Irão.


Ativistas dos Direitos Humanos publicaram, na segunda-feira, um relatório segundo o qual as execuções no Irão aumentaram 88 por cento em 2022 em comparação com 2021. Já as penas de morte registaram um aumento de oito por cento, a maioria por homicídio ou crimes relacionados com drogas.

A Amnistia Internacional afirma que o Irão está atrás da China na aplicação da pena de morte, com pelo menos 314 pessoas executadas em 2021.
pub