Irão. Trump autorizou ataques mas recuou na decisão

por Andreia Martins - RTP
Reuters

O Presidente norte-americano autorizou na quinta-feira um ataque contra Teerão como retaliação contra Teerão pelo abate de um drone não-tripulado. No entanto, Donald Trump cancelou a operação numa altura em que aviões e navios já estavam a ser mobilizados, avança o jornal The New York Times. Ainda que nenhum ataque tenha ocorrido, o Irão chegou a ser avisado que a operação estaria iminente, diz a agência Reuters.

Um dia depois de ter sido anunciado o abate de um drone norte-americano não-tripulado, a Administração Trump terá autorizado um ataque contra Teerão que visava sobretudo radares e baterias de mísseis.

De acordo com a agência Reuters, o Irão chegou a receber um aviso de que um ataque estaria iminente através de Omã, país com o qual tanto Estados Unidos como o Irão têm relações diplomáticas.

"Na mensagem enviada, Donald Trump dizia que era contra qualquer tipo de guerra com o Irão e que queria falar com o Irão sobre várias questões. Deu-nos um curto período de tempo para que respondêssemos, mas a resposta imediata do Irão foi que caberia ao Líder Supremo, o ayatollah Ali Khamenei, tomar uma decisão", disse um responsável iraniano à agência Reuters, sob condição de anonimato.

"Deixámos claro que o Líder é contra quaisquer conversações, mas a mensagem será entregue na mesma para que tome uma decisão. No entanto, reiteramos ao responsável omani que qualquer tipo de ataque contra o Irão terá consequências regionais e internacionais", afirmou outro responsável iraniano ouvido pela agência Reuters

Até às 19h00 locais, militares e responsáveis diplomáticos esperavam que ocorresse uma ofensiva norte-americana contra os iranianos após uma reunião na Casa Branca sobre a resposta ao ataque ir de quinta-feira na zona do Estreito de Ormuz, avança a edição online do jornal The New York Times.
Reportagem de João Ricardo Vasconcelos, correspondente da RTP em Washington

Os líderes do Congresso e dos Serviços Secretos norte-americanos estiveram reunidos na quinta-feira ao final da tarde para um briefing sobre o abate do aparelho, que a Casa Branca assegura que ocorreu em espaço aéreo internacional.

A operação ainda estava numa fase inicial quando foi abortada, de acordo com um responsável da Administração Trump. Nenhum míssil chegou a ser disparado, mas não se sabe ainda se houve mudança de ideias sobre a operação ou se os ataques foram cancelados apenas por questões logísticas ou estratégicas.

O NYT escreve que não é ainda claro se esta movimentação militar foi cancelada ou apenas adiada temporariamente. O ataque planeado teria acontecido às primeiras horas de sexta-feira em território iraniano, de forma a minimizar os riscos de atingir militares e civis, escreve o diário norte-americano.
Pentágono contra ação militar
Na quinta-feira, o Irão confirmou o abate de um avião norte-americano não-tripulado no sul do país, em águas territoriais iranianas. Washington nega qualquer violação do espaço aéreo iraniano e assegura que o aparelho foi visado numa altura em que se encontrava a 34 quilómetros da costa iraniana, ou seja, fora dos 22 quilómetros das águas territoriais de Teerão.

Na quinta-feira, ainda antes do briefing, o Presidente norte-americano avisava no Twitter: "O Irão cometeu um enorme erro!". Em declarações aos jornalistas, questionado sobre possíveis ataques contra Teerão, Donald Trump respondeu: "Em breve saberão".

De acordo com a imprensa norte-americana, vários responsáveis da Administração Trump, incluindo o secretário de Estado, Mike Pompeo, o conselheiro de Segurança Nacional, John Bolton, e ainda a diretora da C.I.A, Gina Haspel, apoiaram a ideia de uma retaliação militar.

Por outro lado, responsáveis de topo do Pentágono presentes na reunião de quinta-feira alertaram para os riscos que um ataque poderia trazer às forças norte-americanas destacadas naquela região do globo. Os líderes democratas lembraram que qualquer intervenção militar tem de ser aprovada pelo Congresso.

Este crescendo de tensão na região levou vários países a proibirem as companhias aéreas de sobrevoarem partes do território iraniano junto ao Estreito de Ormuz e do Golfo de Omã. Os Estados Unidos anunciaram esta proibição na quinta-feira, justificando a decisão com o "aumento das atividades militares e o aumento da tensão política na região". 

Já esta sexta-feira, a British Airways anunciou que vai seguir as recomendações da Administração Federal de Aviação dos Estados Unidos e evitar sobrevoar partes do território iraniano. Outras companhias aéreas, como a KLM, Lufthansa, Ethiad, e a Malaysia Airlines estão a alterar rotas de forma a evitar esta zona do Golfo Pérsico.

O abate do drone norte-americano na quinta-feira foi o mais recente desenvolvimento na recente escalada de tensão política e militar entre o Irão e os Estados Unidos. Na semana passada, dois petroleiros foram atingidos no Golfo de Omã, junto ao Estreito de Omã, ataque que Washington atribui aos iranianos. Em maio, seis navios foram igualmente atingidos naquela zona, com os Estados Unidos a apontarem o regime iraniano como culpado.

A tensão naquela região do globo tem sido crescente nos últimos meses. Em maio último, a Administração Trump destacou um porta-aviões Abraham Lincoln, um navio de guerra, bombardeiros e mais 1.500 soldados para o Médio Oriente com o objetivo de "passar uma mensagem" ao Irão.

Com este destacamento, os Estados Unidos pretendiam igualmente impedir eventuais sabotagens daquele país ao Estreito de Ormuz, local estratégico por onde passa um terço do petróleo que é consumido diariamente em todo o mundo, e que Teerão já ameaçou fechar em diversas ocasiões.

Estes desenvolvimentos acontecem um ano depois de o Presidente norte-americano ter anunciado, em maio de 2018, a retirada unilateral dos Estados Unidos do acordo nuclear assinado em 2015 ainda durante a Presidência de Barack Obama. 

A decisão de rasgar o entendimento levou à reposição de pesadas sanções contra Teerão que haviam sido levantadas em troca da limitação de produção nuclear, Com a decisão de abandonar o acordo, foram anunciadas sanções contra qualquer país ou empresa que continuasse a negociar com a República Islâmica. Os Estados Unidos reestabeleceram ainda um embargo ao crude iraniano e prometeram pesadas sanções contra os países que não interrompessem as importações.

Já este ano, em maio de 2019, foi a vez do Irão anunciar a retirada parcial do acordo sobre o programa nuclear. Na altura, o Presidente iraniano, Hassan Rouhani, ameaçou ultrapassar os limites de urânio enriquecido estabelecidos pelo entendimento, dando um prazo de 60 dias - que termina no início de julho - aos países que continuam a subscrever o acordo para que tentem compensar de forma significativa as perdas económicas e financeiras provocadas pela saída dos EUA do acordo.

Seguindo a Agência Internacional de Energia Atómica, o Irão cumpriu os termos do acordo sobre o programa nuclear nos últimos anos, mesmo após a saída dos Estados Unidos. No entanto, a Organização de Energia Atómica do Irão anunciou esta semana que Teerão está a apenas alguns dias de superar o limite estabelecido pelas potências no entendimento assinado em 2015. 
pub