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Guerra no Médio Oriente. A evolução do conflito

Israel intensificou ofensiva na Faixa de Gaza

por Cristina Sambado - RTP
Amir Cohen - Reuters

O exército israelita anunciou este sábado que tinha efetuado “ataques em grande escala” em Gaza, marcando o lançamento da intensificação da sua ofensiva no território palestiniano devastado pela guerra, onde vários dias de bombardeamentos intensos fizeram centenas de mortos.

Apesar das crescentes críticas internacionais à sua condução da guerra, desencadeada pelo ataque de 7 de outubro, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu avisou na segunda-feira que o exército entraria em breve em Gaza “em força” para “completar a operação e derrotar o Hamas”.

Poucas horas depois do fim do périplo de Donald Trump pelo Golfo, que tinha manifestado preocupação com a fome no território palestiniano, o exército israelita afirmou que “no último dia, lançou ataques em grande escala e transferiu forças para assumir o controlo de zonas da Faixa de Gaza”.

Isto faz parte das fases iniciais da Operação Carruagens de Gideão e da expansão da ofensiva na Faixa de Gaza, com o objetivo de alcançar todos os objetivos da guerra, incluindo a libertação dos reféns e a derrota do Hamas”, afirmou o exército na madrugada de sábado nas redes sociais.


Após uma trégua de dois meses, o exército israelita retomou a ofensiva em Gaza a 18 de março e apoderou-se de vastas áreas do território. No início de maio, o governo de Netanyahu anunciou um plano para “conquistar” Gaza, que Israel ocupou de 1967 a 2005, exigindo a deslocação interna da “maioria” dos seus 2,4 milhões de habitantes.

De acordo com dados das autoridades de saúde do território, controladas pelo Hamas, os bombardeamentos israelitas mataram cerca de 300 pessoas na Faixa de Gaza entre a meia-noite de quarta-feira até sexta-feira.
Só na sexta-feira, a Proteção Civil de Gaza registou mais de 100 vítimas dos ataques, a maioria das quais concentradas no norte da Faixa de Gaza.
Fontes locais indicaram à EFE que os alvos israelitas incluíram Jabalia e Beit Lahia, e que nesta cidade pelo menos quatro tanques israelitas cercaram e invadiram uma escola convertida em abrigo para dezenas de famílias deslocadas.

O ataque de 7 de outubro, levado a cabo pelo movimento islamita palestiniano Hamas, causou a morte de 1.218 pessoas do lado israelita, a maioria civis, segundo uma contagem da AFP baseada em dados oficiais. Das 251 pessoas raptadas na altura, 57 continuam detidas em Gaza, 34 das quais foram declaradas mortas pelo exército.

As represálias israelitas mataram pelo menos 53.119 pessoas em Gaza, a maioria civis, de acordo com os últimos dados do Ministério da Saúde do Hamas, que a ONU considera fiáveis.

Na sexta-feira, a principal associação de famílias de reféns de Israel apelou a Benjamin Netanyahu para não perder uma “oportunidade histórica” de libertar os seus entes queridos e para “unir os seus esforços aos do presidente Trump” para o conseguir, citando “grande preocupação à luz das informações sobre a intensificação dos ataques (israelitas) em Gaza”.

Mas o primeiro-ministro insistiu que só o aumento da pressão militar obrigaria o Hamas a libertar os reféns.
ONU rejeita plano privado de distribuição de ajuda humanitária
A Organização das Nações Unidas (ONU) rejeitou na sexta-feira o plano privado, apoiado por Washington e Israel, para distribuir ajuda humanitária em Gaza e exigiu que o Governo israelita permita sua atuação imediata na Faixa de Gaza.

"Para aqueles que propõem um mecanismo alternativo para a distribuição de ajuda, não percamos tempo: já temos um plano", disse Tom Fletcher, subsecretário-geral para os Assuntos Humanitários e Coordenador de Ajuda de Emergência, em comunicado. Numa altura em que Israel bloqueava a entrega de ajuda humanitária a Gaza pelo 75.º dia consecutivo.

"O plano tem o apoio de uma coligação de doadores e da grande maioria da comunidade internacional. Está pronto para ser ativado - hoje -, se nos deixarem fazer o nosso trabalho", afirmou Fletcher, qualificando-o como um plano "neutro e independente".

Fletcher recordou que a ONU dispõe de pessoal, redes de distribuição, "a confiança das comunidades", 160 mil paletes de ajuda humanitária prontas a serem distribuídas e o apoio da "grande maioria da comunidade internacional", acrescentando que cerca de nove mil camiões estão prontos para entrar no enclave.

A ajuda humanitária foi novamente bloqueada por Israel desde 2 de março, ameaçando centenas de milhares de pessoas de morrerem à fome. "Já o fizemos antes. Podemos fazê-lo novamente", disse Fletcher, que insistiu que a ONU sabe como chegar às comunidades "em extrema necessidade" para "evitar a fome", com dignidade e sem demora.

"Já chega. Exigimos uma distribuição rápida, segura e sem entraves da ajuda aos civis necessitados", concluiu o coordenador da ajuda de emergência da ONU.

A declaração da ONU surge depois de um grupo privado dos Estados Unidos, a Gaza Humanitarian Foundation, ter anunciado que começará a operar em Gaza no final deste mês para distribuir ajuda humanitária, num plano controverso apoiado por Israel.

A organização é composta por antigos militares norte-americanos, empresas privadas de segurança e operadores privados de ajuda humanitária.

A ONU já frisou que não vai trabalhar com a fundação porque o plano de distribuição não é imparcial, neutro ou independente.A ser concretizada, Israel assumirá o controlo da distribuição da ajuda na Faixa de Gaza com esta iniciativa.

No final da sua visita ao Golfo, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aliado de Israel, declarou: “Estamos interessados em Gaza. E vamos certificar-nos de que tudo se resolve. Há muita gente a morrer à fome”.

Desde o início da ofensiva em Gaza, em outubro de 2023, Israel apenas de forma intermitente permitiu a entrada de ajuda humanitária - alimentos, gasolina e medicamentos - no enclave, onde vivem cerca de dois milhões de palestinianos.

“Limpeza étnica”
Já o Alto-Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, afirmou na sexta-feira que "esta última vaga de bombardeamentos, que obrigou as pessoas a se deslocarem sob a ameaça de ataques ainda mais intensos, a destruição metódica de bairros inteiros e a recusa de ajuda humanitária sublinham que parece haver um impulso para uma mudança demográfica permanente em Gaza, que (...) equivale a uma limpeza étnica".

A escalada de ataques esta semana na Faixa de Gaza, incluindo os ataques israelitas a hospitais, está a agravar a "já desesperada" situação humanitária e pressagia uma situação "ainda pior", acrescentou.

Israel afirma que não existe uma crise humanitária em Gaza e acusa o Hamas de roubar a ajuda internacional. O Alto-Comissário teme que se trate do início de uma ofensiva israelita "ainda mais vasta" e apela a todas as partes para que ponham termo à situação.

"Temos de pôr fim a esta loucura", sublinhou.


Também na sexta-feira, o embaixador israelita na ONU, Danny Danon, manifestou-se "profundamente chocado" com o recente discurso de Tom Fletcher, chefe das operações humanitárias da ONU em Gaza, considerando um "sermão político irresponsável" que "destruiu qualquer noção de neutralidade".

Na terça-feira, durante uma reunião do Conselho de Segurança, Tom Fletcher criticou duramente as condições desumanas impostas "sem o menor constrangimento" por Israel no território palestiniano.

Danny Danon realçou, numa carta enviada na sexta-feira a Tom Fletcher, tornada pública pelo seu gabinete, que ficou "profundamente chocado e perturbado" com aquelas declarações.

"Teve a ousadia, na sua capacidade de alto funcionário da ONU, de se apresentar perante o Conselho de Segurança e invocar a acusação de genocídio sem provas, sem mandato, sem restrições", denunciou.

c/ agências
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