Israel sob fogo. Estrelas de Hollywood lamentam táctica do ocupante contra as ONG palestinianas

por Paulo Alexandre Amaral - RTP
Os colonatos israelitas nos territórios ocupados da Palestina são "uma provocação absurda", declarou o actor em 2017. DR

"Os actores Richard Gere, Claire Foy, Tilda Swinton e Susan Sarandon, o realizador Ken Loach, os músicos Jarvis Cocker e Massive Attack, os escritores Philip Pullman, Colm Tobin e Irvine Welsh". A listagem é feita pelo Middle East Monitor esta quinta-feira. São alguns dos signatários de uma carta onde constam os nomes de mais de uma centena de celebridades criticando a recente classificação de "grupos terroristas" atribuída por Israel a seis organizações palestinianas de defesa dos Direitos Humanos.

Em finais de Outubro passado, o executivo israelita do primeiro-ministro Naftali Bennet colocou seis organizações palestinianas na lista negra da classificação de “terroristas”: a Al-Haq, a Addammer, a União de Comités de Mulheres Palestinianas, o Centro de Investigação e Desenvolvimento Bisan, a União de Comités de Trabalho Agrícola e a Defesa Internacional da Infância - Palestina.

São acusadas de estarem ligadas à FPLP (Frente Popular de Libertação da Palestina) e enfrentam aquele que está a ser visto na comunidade internacional como o maior ato de repressão do ativismo político palestiniano em décadas. Mais do que um gesto simbólico, fazê-las entrar nesta “lista negra” abre a porta a que as forças de segurança de Israel tenham carta branca para invadir indiscriminadamente os seus escritórios e sedes, procedam a buscas, apreendam bens e façam detenções entre o seu pessoal.

A decisão desencadeou uma série de reacções da comunidade internacional, da União Europeia e mesmo dos ancestrais aliados dos israelitas, os Estados Unidos, com as relações a azedarem subitamente entre a Administração Biden – muito empurrada pelo sentimento no seio do Partido Democrático – e o executivo de Naftali Bennet.

Agora é o mundo das estrelas de Hollywood que se junta ao coro de protestos, com um nome a pontificar entre os signatários da carta que exige a Israel que recue na sua decisão de 22 de Outubro: Richard Gere.

Não é de agora que se conhece a posição do veterano actor em relação à ocupação israelita dos territórios da Palestina. Recentemente, Gere colou o sistema de ocupação à época Jim Crow na América, uma segregação racial que se manteve no Sul do país entre 1877 e 1964 com a implementação de um sistema segregacionista de Apartheid que ergeu um muro quase físico, impedindo as comunidades negras de acederem a espaços e serviços que então se reservavam apenas à população branca.

“É exatamente o que o velho Sul era na América. Os negros sabiam para onde podiam ir, podiam beber daquela fonte (…) não podiam comer naquele lugar”, declarou em 2017 a uma televisão israelita durante uma visita à Cisjordânia, denunciando os colonatos implantados nos territórios ocupados da Palestina como “uma provocação absurda”.

Agora, Richard Gere está entre os mais de 100 signatários de uma carta em que se critica a decisão do governo israelita de colar àquelas seis organizações o rótulo de “organização terrorista” – “um ataque sem precedentes contra os defensores dos Direitos Humanos palestinianos”, sublinha-se no documento.

“A classificação [de organização terrorista] visa seis dos mais importantes defensores dos Direitos Humanos palestinianos envolvidos no trabalho fundamental dos Direitos Humanos e acaba por afectar todos os aspetos da sociedade civil nos territórios ocupados”, refere a carta, lembrando que estas ONG providenciam assistência legal aos palestinianos, monitorizando igualmente actos de abuso por parte de Israel (e também do Hamas e da Autoridade Palestiniana) contra uma população já de si vulnerável a todos os níveis.
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