"Isto não é apropriado". Scholz lança críticas aos EUA após declarações do vice-presidente

por RTP
Foto: Wolfgang Rattay - Reuters

O chanceler alemão acusou este sábado o vice-presidente dos Estados Unidos, de tentativa de interferência nas eleições alemãs que se realizam na próxima semana, no dia 23 de fevereiro. No arranque da cimeira de Munique, na sexta-feira, JD Vance tinha apelado aos dirigentes alemães e europeus para deixarem de excluir partidos considerados extremistas.

Foi uma resposta incisiva do atual líder alemão ao discurso do vice-presidente norte-americano que na sexta-feira, a partir de Munique, tinha desafiado os países europeus a deixarem de marginalizar os partidos de extrema-direita.

Em concreto, sobre a Alemanha, JD Vance desafiou Berlim a deixar cair a cerca sanitária, que afasta a direita conservadora da AfD, partido de extrema-direita, de integrar o Governo federal.

"Não há espaço para firewalls", afirmou o vice-presidente norte-americano. Em alemão, esta separação é amplamente designada de Brandmauer, ou muro de fogo.

Olaf Scholz respondeu este sábado que a Alemanha não iria aceitar recomendações de política interna e assinalou que a Alternativa para a Alemanha tem tido um discurso de banalização das atrocidades cometidas pelo nazismo, pelo que existem “boas razões” para afastar o partido da governação.

“Para onde vai a nossa democracia a partir daqui cabe-nos a nós decidir”, vincou o chanceler alemão.

JD Vance tinha deixado também muitas críticas às restrições ao discurso de ódio na Europa, comparando-as a medidas de censura. Em resposta, Olaf Scholz vincou que “as democracias de hoje na Alemanha e na Europa são fundadas na consciência e perceção históricas de que as democracias podem ser destruídas por antidemocratas radicais”.

Por isso, foram criadas “instituições que garantem que as nossas democracias se podem defender dos seus inimigos e regras que não restringem nem limitam a nossa liberdade, mas protegem-na”.

Scholz não se coibiu na repreensão ao vice-presidente dos Estados Unidos. “Isto não é apropriado, especialmente entre amigos e aliados”, afirmou perante a audiência em Munique, num discurso recebido com aplausos.
A posição da oposição alemã

Estas declarações de Olaf Scholz surgem numa altura em que falta pouco mais de uma semana para as eleições federais na Alemanha.

A AfD, força anti-imigração e de extrema-direita, tem ocupado o segundo lugar nas últimas sondagens, com cerca de 20 por cento dos votos, mas deverá ficar arredada da governação, uma vez que mas nenhuma força política admite negociar uma coligação com o partido de Alice Weidel. Na sexta-feira, JD Vance esteve reunido com a líder da AfD, tendo endossado o partido como parceiro político

"Nunca mais ao fascismo, nunca mais ao racismo, nunca mais à guerra agressiva. É por isso que uma esmagadora maioria no nosso país se opõe a qualquer pessoa que glorifique ou justifique o Nacional-Socialismo criminoso", afirmou Scholz no discurso em Munique, referindo-se à ideologia do regime nazi que liderou a Alemanha entre 1933 e 1945.

As palavras do vice norte-americano foram igualmente criticadas pelo líder da oposição na Alemanha e rival de Scholz, Friedrich Merz, dirigente da CDU e provável novo chanceler da Alemanha após as eleições.

"Seguimos as regras impostas pelas nossas instituições democráticas", afirmou Merz num painel de discussão na conferência de Munique. A Alemanha apresenta-se como  uma firme defensora da liberdade de expressão, "mas as notícias falsas e o discurso de ódio continuam sujeitos a restrições legais", acrescentou o líder da CDU.

E foi mais longe, ao criticar abertamente a Administração Trump por banir a entrada da Associated Press na Sala Oval e no Air Force One por continuar a usar a designação “Golfo do México” em vez de “Golfo da América”.

“Face aos acontecimentos que ocorreram em [Washington] D.C. ontem [sexta-feira], nunca expulsaríamos uma agência de notícias da sala de imprensa do nosso chanceler”, apontou Friedrich Merz.
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