Japão prepara-se para despejar água da central nuclear de Fukushima no Pacífico

por Carla Quirino - RTP
Agência Kyodo via Reuters

A água usada na refrigeração da central nuclear de Fukushima será descartada para o mar nos próximos meses. As autoridades japonesas estão a tratar mais de um milhão de toneladas de água para retirar a maioria das substâncias radioativas e reiteram que não haverá perigo para o ambiente ou a saúde humana. Coreia do Sul e China associam-se às comunidades pesqueiras e opõem-se aos planos de Tóquio.

Em 2011, um tremor de terra de magnitude 9.0 na escala de Richter desencadeou um tsunami que destruiu quatro dos seis reatores da central nuclear de Fukushima Daiichi, a norte de Tóquio.

Desde a catástrofe, o Governo e a operadora Tepco têm estado a desmantelar o complexo, o que inclui a descontaminação, que deverá estar concluída nos próximos 30 a 40 anos.

Os reatores 5 e 6 foram poupados pela onda gigante, mas a central permaneceu encerrada.

Após o tsunami, o mais importante foi parar e arrefecer os reatores para evitar novas emissões de radioatividade. Para tal, foi despejada água nas instalações.Toda este líquido, incluindo água da chuva, tem sido acumulado em cerca de mil tanques, ao longo dos anos, após o acidente.

É esse milhão de toneladas de água o ponto da discórdia que junta pescadores, Coreia do Sul e China contra os planos de Tóquio.
Água tratada mas com presença de trítio
Os mais de mil tanques que armazenam a água usada na refrigeração da central nuclear de Fukushima atingiram a capacidade máxima e precisam de ser esvaziados. As autoridades japonesas anunciaram que estão a tratar a água para ser lançada ao Oceano Pacífico durante os próximos meses.

Essa água é tratada numa unidade especialmente projetada para Fukushima, o ALPS, onde o processo de filtragem remove todas as substâncias radioativas. Todas menos uma: o trítio.

O trítio é uma forma radioativa natural de hidrogénio que é tecnicamente difícil de separar da água, mas as autoridades alegam que é inofensivo em pequenas quantidades.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros do Japão declarou, em julho passado, que os reguladores consideraram seguro libertar a água e que esta será gradualmente descartada para o Oceano Pacífico através de um túnel, após ser tratada e diluída. Garantem que a água tratada não representará uma ameaça à saúde humana ou ao ambiente marinho.

Aos pescadores e às comunidades costeiras que dependem dos produtos marinhos para o sustento, juntam-se a Coreia do Sul e a China, que manifestam preocupação.

Citado pelo jornal britânico The Guardian, o secretário-geral do fórum das Ilhas do Pacífico, Henry Puna, adverte que o Japão “deveria adiar qualquer divulgação desse tipo até que tenhamos certeza sobre as implicações desta proposta no meio ambiente e na saúde humana, especialmente reconhecendo que a maioria de nossos povos do Pacífico são costeiros e que o oceano continua a ser parte integrante da sua subsistência”.

A Coreia do Sul observou que libertar a água pode representar uma “grave ameaça” à vida marinha.

Por sua vez, os sindicatos de pescadores manifestam-se contra o despejo e alertam que este causará alarme entre os consumidores, colocando em causa os esforços de uma década para tranquilizar o público quando à segurança dos produtos piscícolas do mar de Fukushima.

A Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) sai em defesa das autoridades japonesas e explica que as centrais em todo o mundo usam um processo semelhante para descartar águas residuais contendo concentrações de baixo nível de trítio e outros radionuclídeos.

A agências de notícias Kyodo avançou que a AIEA realizou várias análises de segurança do plano e comprometeu-se a emitir um relatório com os resultados.
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