"Uma terra de paz, sem armas nucleares nem ameaças nucleares". Eis o que os líderes das duas Coreias desejam para a península partilhada pelos seus países. O desejo mútuo ficou expresso publicamente durante a conferência de imprensa desta quarta-feira em Pyongyang, após a sua terceira cimeira em seis meses.
A Coreia do Norte prometeu abolir de forma permanente a sua principal bases de mísseis na presença de especialistas internacionais.
O Presidente norte-coreano, Kim Jong-un, expressou igualmente vontade de encerrar o seu principal complexo nuclear, na condição dos Estados Unidos da América cumprirem uma "ação recíproca", não especificada.
As promessas norte-coreanas podem dar um novo impulso às negociações nucleares entre Washington e Pyongyang, que marcam passo. O Presidente norte-americano, Donald Trump, já as considerou "muito excitantes", reagindo na sua plataforma habitual, o Twitter.
Kim Jong Un has agreed to allow Nuclear inspections, subject to final negotiations, and to permanently dismantle a test site and launch pad in the presence of international experts. In the meantime there will be no Rocket or Nuclear testing. Hero remains to continue being........
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) 19 de setembro de 2018
"Kim Jong-un concordou em deixar inspeções nucleares, sujeitas a uma negociação final, e a desmantelar de forma permanente um local de ensaios e de lançamento na presença de especialistas internacionais. Entretanto não haverá testes nucleares ou de mísseis", escreveu Trump.
Kim considerou que o acordo, assinado frente às câmaras de televisão, não era muito longo mas "portador de esperança do povo e do seu intenso desejo de reunificação".
As duas Coreias decidiram igualmente reduzir as tensões militares, organizar regularmente reuniões de famílias divididas pela guerra coreana e trabalhar no desenvolvimento de ligações ferroviárias e rodoviárias, entre outros acordos bilaterais.
As duas Coreias decidiram igualmente reduzir as tensões militares, organizar regularmente reuniões de famílias divididas pela guerra coreana e trabalhar no desenvolvimento de ligações ferroviárias e rodoviárias, entre outros acordos bilaterais.
Irão também apresentar uma candidatura conjunta para organizar os Jogos Olímpicos de 2032.
Kim Jong-un disse ainda que irá visitar a capital da Coreia do Sul num futuro próximo. Será a primeira visita de sempre de um Presidente da Coreia do Norte a Seul.
O Presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, esclareceu que a visita deverá ocorrer no final do ano, excepto em caso de "circunstâncias particulares".
Aquém das expetativas
Apesar dos sorrisos, as promessas de Kim foram vagas e deixaram de fora questões cruciais.
A sua cedência aparente, ao aceitar a presença de
especialistas de "países interessados" para supervisionarem o
encerramento da base de Sohae, o seu local de testes e de lançamento de
mísseis na cidade de Tongchang-ri, é vista com ceticismo pelos especialistas.
Mesmo sob sanções internacionais, Pyongyang realizou vários lançamentos
de mísseis a partir de Sohae. Mas realizou lançamentos igualmente de
outros locais, o que relativiza as promessas do líder norte-coreano.
Imagens satélite provam aliás que o desmantelamento da base já está em curso.
"Kim joga de forma brilhante: venham verificar que estou a desmantelar um único local que de qualquer forma já não utilizo, enquanto eu produzo em massa mísseis que a base me permitiu desenvolver", reage Vipin Narang, investigador do MIT.
A promessa de encerrar o complexo nuclear de Yongbyon - na vaga condicionante de Washington assumir "medidas correspondentes" - é igualmente desvalorizada. Jeffrey Lewis, especialista de controlo de armamento, afirmou que esta central de enriquecimento de urânio "foi construída com a intenção clara de ser sacrificada".
Esperava-se também que nesta cimeira, Moon Jae conseguisse uma lista completa dos ativos nucleares norte-coreanos. O encontro terminou sem vislumbre ou menção de tal.
"Sobre a questão da desnuclearização, o acordo não correspondeu às expetativas", reagiu à Agência France Presse Yoo Ho-yeol, da Universidade da Coreia.
"Kim joga de forma brilhante: venham verificar que estou a desmantelar um único local que de qualquer forma já não utilizo, enquanto eu produzo em massa mísseis que a base me permitiu desenvolver", reage Vipin Narang, investigador do MIT.
A promessa de encerrar o complexo nuclear de Yongbyon - na vaga condicionante de Washington assumir "medidas correspondentes" - é igualmente desvalorizada. Jeffrey Lewis, especialista de controlo de armamento, afirmou que esta central de enriquecimento de urânio "foi construída com a intenção clara de ser sacrificada".
Esperava-se também que nesta cimeira, Moon Jae conseguisse uma lista completa dos ativos nucleares norte-coreanos. O encontro terminou sem vislumbre ou menção de tal.
"Sobre a questão da desnuclearização, o acordo não correspondeu às expetativas", reagiu à Agência France Presse Yoo Ho-yeol, da Universidade da Coreia.
Dúvidas persistem
A visita de Moon tinha como objetivo principal desbloquear as negociações entre Pyongyang e os EUA mas, dada a limitação dos progressos verificados, Washington poderá manter-se distante.
As dúvidas poderão dissipar-se já na próxima semana, quando Moon Jae se reunir com Trump em Nova Iorque, durante a reunião da Assembleia Geral da ONU.
As dúvidas poderão dissipar-se já na próxima semana, quando Moon Jae se reunir com Trump em Nova Iorque, durante a reunião da Assembleia Geral da ONU.
No seu encontro histórico de junho com Donald Trump em Singapura, Kim reiterou um desejo vago norte-coreano da desnuclearização da Península Coreana. Mas Washington e Pyongyang têm um entendimento diferente desta promessa.
Apesar da Coreia do Norte ter unilateralmente terminado com os seus testes nucleares e de mísseis, não autorizou inspeções internacionais ao desmantelamento no seu único local de testes nucleares, ocorrido em maio.
Apesar da Coreia do Norte ter unilateralmente terminado com os seus testes nucleares e de mísseis, não autorizou inspeções internacionais ao desmantelamento no seu único local de testes nucleares, ocorrido em maio.
A recusa levou os críticos a por em causa as alegadas boas intenções do regime comunista norte-coreano e levou ao esfriamento das negociações com os EUA.
Em junho, os EUA exigiam uma "desnuclearização definitiva e completamente verificada", ao passo que a Coreia do Norte pretendia uma declaração oficial norte-americana para marcar o fim oficial da guerra da Coreia.
Em junho, os EUA exigiam uma "desnuclearização definitiva e completamente verificada", ao passo que a Coreia do Norte pretendia uma declaração oficial norte-americana para marcar o fim oficial da guerra da Coreia.
Os responsáveis de Seul esperam agora que o
Presidente sul-coreano convença Trump a reiniciar as conversações com
Pyongyang, depois do cancelamento da visita do Secretário de Estado
norte-americano à capital norte-coreana, o mês passado.