Kim Jong-un propõe nova cimeira com Donald Trump em carta “calorosa e muito positiva”

por Andreia Martins - RTP
A missiva de Kim Jong-un transmitia “um compromisso constante de concentração na desnuclearização da península”, revelou a porta-voz da Casa Branca EPA

Numa missiva endereçada à Casa Branca, o líder norte-coreano sugeriu um segundo encontro com o Presidente norte-americano, novamente com foco na desnuclearização da Península. Washington confirma que a coordenação de uma possível futura cimeira já começou, sem revelar o eventual local ou datas para o encontro.

Três meses depois da cimeira histórica realizada em Singapura a 12 de junho, Donald Trump e Kim Jong-un cogitam um novo encontro em que a desnuclearização volta a estar em cima da mesa.

“O principal objetivo da carta era solicitar uma reunião e ver como se pode concretizar um novo encontro com o Presidente”, afirmou Sarah Sanders, porta-voz da Casa Branca, em conferência de imprensa.

Sarah Sanders classificou ainda a missiva do líder norte-coreano como “calorosa e muito positiva”, e que a segunda reunião já está a ser preparada. Em resposta aos jornalistas, a porta-voz não quis revelar possíveis locais ou datas para a realização de uma possível cimeira.


A missiva de Kim Jong-un transmitia “um compromisso constante de concentração na desnuclearização da península”, disse a porta-voz em Washington.

A responsável da administração Trump saudou ainda a ausência de mísseis nucleares no desfile militar realizado no domingo que assinalou o 70º aniversário da fundação da Coreia do Norte.

A República Popular Democrática da Coreia foi proclamada a 9 de setembro de 1948, três anos após a divisão da península entre Estados Unidos e União Soviética no final da Segunda Guerra Mundial. O desfile militar de domingo para assinalar esta data contou com milhares de soldados, artilharia e tanques, bem como mísseis de curto alcance. No entanto, não marcaram presença os mísseis de longo alcance que resultaram nos últimos anos num crescente isolamento internacional de Pyongyang. “Um sinal de boa-fé”, afirmou Sarah Sanders.

O gesto deste desfile de celebração foi recebido com agrado pelo próprio Presidente norte-americano. No Twitter, Donald Trump destacou essa ausência dos mísseis nucleares e agradeceu ao líder norte-coreano.

“Obrigado ao Presidente Kim. Vamos ambos mostrar-lhes que estão todos errados! Não há nada como um diálogo favorável entre duas pessoas que se apreciam”, escreveu. "É uma mensagem forte e muito positiva da parte da Coreia do Norte", escreveu Donald Trump na rede social, considerando que o tema deste ano da parada militar foi "a paz e o desenvolvimento económico".
Ausência de progressos na desnuclearização

A realizar-se, este será o segundo encontro ao mais alto nível entre Donald Trump e Kim Jong-un. Os dois líderes marcaram presença numa cimeira histórica em Singapura, a 12 de junho, que marcou a primeira reunião de sempre entre os responsáveis dos dois países desde a fundação da Coreia do Norte.

Na cimeira de junho, os dois líderes assinaram um documento conjunto onde se comprometiam a um entendimento em quatro pontos essenciais: o compromisso no estabelecimento entre a Coreia do Norte e os Estados Unidos, a promessa de um "esforço conjunto" por parte de Washington e Pyongyang na promoção da paz e segurança da Península Coreana, esforços de "completa desnuclearização" da Península e ainda recuperação dos restos mortais de soldados prisioneiros de guerra e desaparecidos em combate durante a Guerra da Coreia.

Em relação ao último ponto do entendimento, sabe-se que já chegaram aos Estados Unidos um total de 55 caixas com restos mortais de soldados. Dois antigos combatentes já foram identificados, mas a sua identidade ainda não foi revelada ao público. Durante a guerra da Coreia, mais de 5.000 soldados norte-americanos foram dados como desaparecidos no território da atual Coreia do Norte.

No entanto, o resultado deste encontro bilateral viria a revelar-se pouco conclusivo, uma vez que as partes divergiram quanto a formas concretas de avançar com o processo de desnuclearização.

Após várias visitas por parte do secretário de Estado norte-americano a Pyongyang para detalhar os procedimentos necessários à desnuclearização, Donald Trump decidiu cancelar uma visita de Mike Pompeo à capital norte-coreana no final de agosto. Pela primeira vez desde a cimeira de Singapura, o Presidente norte-americano reconhecia publicamente que os esforços para o desmantelamento de armas nucleares tinham estagnado. Na altura, o jornal estatal da Coreia do Norte acusou os Estados Unidos de “jogo duplo” e de estar a planear “uma trama criminosa”.
Nova cimeira entre Coreias em setembro

Na segunda-feira, o conselheiro do Presidente norte-americano, John Bolton, já confirmava que existia uma “clara possibilidade” de um novo encontro entre os dois líderes. No entanto, teriam de ser os norte-coreanos a avançar com medidas concretas.

“O Presidente abriu as portas a Kim Jong-un e ao seu regime”, afirmou John Bolton sobre o encontro de junho. “Agora, Presidente Donald Trump não pode assumir a função dos norte-coreanos, eles são os únicos que podem avançar com medidas para a desnuclearização do seu país e é isso que esperamos”, acrescentou o conselheiro norte-americano.

De acordo com a imprensa, a Casa Branca pretendia agendar um segundo encontro entre Donald Trump e Kim Jong-un em setembro, em Nova Iorque, de forma a aproveitar a Assembleia Geral das Nações Unidas, que decorre entre 18 de setembro e 5 de outubro, mas o conselheiro da Administração Trump não acredita que o líder norte-coreano se desloque à sede da ONU.

A possibilidade de um novo encontro entre Kim Jong-un e Donald Trump surge numa altura em que os norte-coreanos preparam outra cimeira paralela de grande relevância, mais concretamente para o terceiro encontro deste ano entre os dois líderes coreanos. Em agosto, as diplomacias dos dois países anunciaram um encontro para o mês de setembro em Pyongyang, que deverá decorrer entre 18 e 20 de setembro.

Moon Jae-in e Kim Jong-un já estiveram reunidos desde o início do ano por duas vezes, com duas cimeiras realizadas na zona fronteiriça. Em abril, foi assinada a Declaração de Panmunjom, onde os dois líderes se comprometeram a trabalhar para a formalização do fim da Guerra da Coreia (1950-1953), que terminou com um armistício, bem como na desnuclearização da Península Coreana. Em maio, a cimeira entre os dois líderes serviu em grande parte para preparar o encontro de junho entre Kim Jong-un e Donald Trump.
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