Knesset proíbe protestos anti-Netanyahu em Israel devido à pandemia

por Graça Andrade Ramos - RTP
Israelitas protestam junto ao Knesset, o Parlamento de Israel, dia 29 de setembro de 2020, contra legislação que proíbe manifestações anti Benjamin Netanyahu Reuters

Por nove votos contra seis, a Comissão Parlamentar Judicial e Constitucional do Parlamento israelita, aprovou legislação a proibir os israelitas de se manifestarem a mais de um quilómetro das suas habitações. O combate à pandemia de Covid-19 foi a razão invocada, mas os críticos dizem que o verdadeiro objetivo da medida é acabar com as manifestações contra o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu e silenciar os seus opositores.

As alterações à Lei do Coronavírus aprovadas esta terça-feira, foram propostas pelo executivo israelita e terão de ser ainda aprovadas em plenário.

Mal foi anunciada a sua aprovação pelo Comité, milhares de israelitas reuniram-se à porta do Parlamento em protesto. Se a emenda for aprovada, como se espera, entrará em vigor à meia noite desta mesma terça-feira, por uma semana, eventualmente prorrogável até três semanas.

Qualquer extensão do período terá de ser aprovada pelo gabinete governamental e pode ser cancelada pelo Comité.

A alteração passou depois de acordos entre os representantes do Likud, de Netanyahu, e os do Partido Azul e Branco, seu parceiro no executivo israelita. O Likud cedeu na tentativa de prolongar a proibição para além do confinamento atualmente em vigor. "As tentativas perigosas do Likud, em tentar proibir os protestos até ao fim da crise do novo coronavírus, fracassaram", celebrou o ministro da Justiça, Avi Nissenkorn, do Azul e Branco.

Na prática, a nova legislação implicará que só pessoas que vivam a um quilómetro em torno da residência de Netanyahu, ou do Parlamento, poderão manifestar-se contra ele.

Os protestos contra o primeiro-ministro de Israel, acusado de várias fraudes e de corrupção, têm-se sucedido semanalmente, com os manifestantes a exigirem a sua demissão devido à forma como tem gerido a pandemia de Covid.19. Muitos têm viajado de outras cidades para integrar os protestos.

Esta terça-feira, os opositores do primeiro-ministro tocaram tambores e agitaram bandeiras à porta do Knesset, enquanto apelavam à liberdade de expressão.


"Estão a negar-nos o direito ao protesto, devido a razões políticas e não por razões sanitárias, e é incrível, a frustração bate tudo, bate tudo. É muito preocupante", reagiu um dos manifestantes, Efrat Ben Barak, de 40 anos, à agência Reuters.

Três dos manifestantes tentaram impedir funcionários autárquicos de retirar faixas colocadas ilegalmente e foram detidos, informou a polícia. Numa faixa lia-se o slogan "usam o coronavírus para impor a ditadura".

Israel está de novo sob confinamento desde 18 de setembro por três semanas, depois da ressurgência da pandemia ter feito subir o número de casos a mais de sete mil por dia entre a população de nove milhões de pessoas. Alguns hospitais aproximaram-se do ponto de rutura.
pub