Kremlin desvaloriza sanções norte-americanas contra Grupo Wagner

por Inês Moreira Santos - RTP
Reuters

Os Estados Unidos designaram o grupo Wagner como uma organização criminosa internacional, condenação que a Rússia desvaloriza. Esta segunda-feira, o Kremlin afirmou que as possíveis sanções ao grupo paramilitar russo não têm efeito prático.

“Não acho que, em termos práticos, tenha qualquer significado para o nosso país, e menos ainda para o organização militar privada Wagner (PMC)", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, em conferência de imprensa, esta segunda-feira.

Depois de, na sexta-feira, o porta-voz Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby,ter anunciado a designação do Grupo Wagner como “uma organização criminosa que comete atrocidades generalizadas e abusos dos direitos humanos", o fundador da organização de mercenários, Yevgeniy Prigozhin, escreveu à Casa Branca pedindo um esclarecimento sbre que “crime foi cometido pelo PMC Wagner?".

Washington afirmar que “o grupo paramilitar tem cerca de 50 mil" elementos destacados na Ucrânia e anunciou novas sanções contra o grupo paramilitar russo pelo seu envolvimento na guerra na Ucrânia. De acordo com as autoridades norte-americanas, a designação do Grupo Wagner como uma organização criminosa transnacional abre uma série de possibilidades para continuar a sancionar este grupo e os seus aliados no mundo.

"O Grupo Wagner está a tornar-se um centro de poder rival face às forças armadas russas e a outros ministérios russos", disse Kirby, referindo que os Estados Unidos estimam que entre os cerca de 50 mil operacionais destacados na Ucrânia, cerca de 40 mil são ex-condenados recrutados nas prisões russas.

Embora a maioria das suas atividades dos últimos anos sejam desconhecidas e anteriormente tenha negado qualquer ligação ao Grupo Wagner, Prigozhin assumiu a liderança da organização paramilitar, no ano passado, como forma de tentar recrutar condenados russos a juntar-se ofensiva russa na Ucrânia.
Grupo Wagner envia a Kiev corpos de soldados mortos em Soledar
O Grupo Wagner planeia enviar os corpos dos soldados ucranianos mortos em combates na cidade de Soledar, agora controlada pelos russos, afirmou no sábado Prigozhin, citado pela Reuters.

Segundo o site RIA FAN, o fundador do grupo de mercenários confirmou que serão enviados os corpos para o território controlado pela Ucrânia em quatro ou cinco comboios. Sem adiantar quantos militares ucranianos morreu no território, Prigozhin referiu que mereciam ser devolvidos à Ucrânia de "forma digna".

Também no fim de semana, o Financial Times comparou o Wagner ao histórico monge ortodoxo Grigory Rasputin (que teve considerável influência sobre a família do último czar da Rússia), referindo a cada vez maior influência da organização paramiliatar no Kremlin.

O chefe do grupo mercenário, Yevgeny Prigozhin, respondeu às comparações dizendo, no domingo, que o seu objetivo não era "estancar o sangue", mas "derramar o sangue dos inimigos da Rússia".

"Não estou muito familiarizado com a história de Rasputin, mas pelo que sei, uma qualidade importante de Rasputin é que ele estancava os sangramentos do jovem príncipe com encantamentos", cita o RIA FAN. "Infelizmente, não estanquei sangue. Sangrei os inimigos da nossa pátria. E não por encantamentos, mas por contacto direto com eles".
Kremlin nota "nervosismo" na entrega de tanques alemães a Kiev

O Kremlin diz ter notado "nervosismo" por parte da NATO e aliados, esta segunda-feira, referindo-se à falta de acordo na reunião do Grupo de Contacto para a Defesa da Ucrânia, sexta-feira, sobre a entrega dos blindados Leopard 2 a Kiev. As autoridades russas advertiram ainda que o povo ucraniano vai sofrer se o Ocidente enviar tanques para apoiar Kiev.

"Todos estes malabarismos jurídicos que vemos, a troca de declarações entre as capitais europeias. Vemos como algumas capitais europeias, incluindo Varsóvia, ameaçam isolar Berlim internacionalmente", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.

O responsável do gabinete presidencial da Rússia indicou que "tudo isto mostra como cresce, o nervosismo entre os membros da Aliança Atlântica".


Peskov referiu-se diretamente às declarações do vice-ministro dos Negócios Estrangeiros polaco, Arkadusz Mularczyk, que disse à agência ucraniana UNIAN, que a "Alemanha, ao negar-se a enviar os tanques (Leopoar 2) cai no isolamento internacional".

Assumindo-se contra a ajuda militar internacional à Ucrânia, Peskov afirmou que "todos os países, que de um modo ou outro participam no envio de armamento e no aumento do nível tecnológico das forças ucranianas, vão ser responsabilizados".

"O mais importante é que quem vai ter de pagar por todas estas ações, por esta pseudo ajuda, vai ser o povo ucraniano", afirmou Peskov.
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