Mais de 2000 migrantes da caravana à porta dos EUA

por Graça Andrade Ramos - RTP
Frente a frente entre migrantes e guardas norte-americanos, junto à cerca que separa o México e os Estados Unidos em Tijuana Jorge Duenes - Reuters

Após uma jornada de mais de três mil e duzentos quilómetros, muitos deles a pé, mais de dois mil migrantes de países da América Central chegaram ao seu destino, a fronteira com os Estados Unidos da América, mais precisamente à cidade mexicana de Tijuana.

Cerca de 800 chegaram em pequenos grupos nos últimos cinco dias. Esta quinta-feira de manhã, foram reforçados por um contingente de 1500, transportados em 22 autocarros de 50 lugares cada um.A chegada dos migrantes coincide com a realização da 26.ª Cimeira Ibero-Americana, sobre desenvolvimento sustentável, que se iniciou esta quinta-feira na capital guatemalteca, Antigua.

Tijuana é um dos principais pontos de chegada, mas raramente de saída, para centenas de pessoas que fogem da pobreza e da violência nos seus países ou de outras províncias mexicanas, e que acreditam poder encontrar segurança e trabalho nos EUA.

O Presidente norte-americano, Donald Trump, considera a recente caravana de migrantes uma "emergência nacional" e ordenou o reforço da segurança na fronteira com sete mil militares.

Já antes desta semana os abrigos e centros de acolhimento estavam cheios e a vaga massiva dos recém-chegados, muitos deles mulheres e crianças, ameaça desequilibrar as tensões em Tijuana.

"As pessoas continuam a chegar mas nós não estamos preparados para as receber", afirmou à Agência Reuters José Maria Garcia, diretor do centro de abrigo Juventud 2000.

Garcia afirma que não há memória recente da chegada de um tão grande numero de migrantes num tão curto espaço de tempo. Sublinha que já alertou as autoridades mexicanas de que os centros de migrantes esgotaram a capacidade, em Tijuana como em Mexicali.
Passar a noite na praia
Cerca de três mil pessoas esperam nos centros a resposta aos seus pedidos de asilo nos Estados Unidos, além de centenas de outros cidadãos de países da América central, afirma Cesar Palencia, diretor da equipa de trabalho da autarquia para os migrantes.

Dos 14 abrigos junto à fronteira de 3.200 quilómetros, 10 estão sobrelotados, afirma. Dezenas de pessoas da caravana acamparam terça-feira na praia, explica.

"As pessoas receberam-nos com gentileza, mas dizem que não há espaço para todos, por isso decidimos passar a noite na praia", confirmou à Reuters uma mulher hondurenha, sob anonimato, após lavar a cara numa casa de banho pública. "Foi uma noite terrível para mim e para os meus filhos", acrescenta.

Pedro Rios, do Comité de Amigos Americanos, um grupo religioso que trabalha com migrantes, lembra que os responsáveis fronteiriços americanos processam entre 75 a 100 pedidos de asilo por dia, pelo que os recém-chegados poderão só ser considerados dentro de um mês.

Muitos preferem tentar atravessar ilegalmente a fronteira, em vez de esperar a decisão ou arriscar a deportação.
Milhares ainda a caminho
Os migrantes recém chegados integram três caravanas de migrantes oriundos das Honduras, de El Salvador e da Guatemala, que juntaram milhares de pessoas desde meados de outubro.

De acordo com as autoridades mexicanas, a maioria, entre 4.000 e 5.000 pessoas, está atualmente a percorrer o estado de Sinaloa, ao longo da costa do Pacífico. O destino principal é Tijuana.

Mario Osuna, secretario para o desenvolvimento social da cidade, pede apoios ao Governo central. "A nossa maior preocupação", afirma, "é receber apoio do Governo central para podermos ter recursos para enfrentar esta situação." Haverá já tentativas de coordenação com o Governo do Presidente-eleito Andres Lopez Obrador.

As autoridades mexicanas têm pedido aos migrantes para registarem pedidos de asilo ao México sob risco de deportação. Uma mensagem que não é bem vista por muitos mexicanos, que reivindicam igualmente apoios sociais.
pub