Manifestações proibidas em várias cidades de França

por RTP
Uma pessoa passa pela montra vandalizada de uma loja em Lille, norte de França, durante motins causados pela morte de um jovem de 17 anos, abatido a tiro por um polícia Pascal Rossignol, Reuters

As prefeituras de diversas cidades francesas, como Marselha, Lyon e Bordéus, proibiram a realização de manifestações esta sexta-feira, após três noites de motins marcados por grande violência, após Nahel, um adolescente de 17 anos, ter sido abatido a tiro por um polícia, terça-feira, ao fugir de uma operação policial.

As interdições abrangem ainda Estrasburgo, Montpellier, Toulouse, Grenoble e Annecy e seguem-se a apelos a manifestações em 18 grandes cidades, pelas 20h00 locais (19h00 em Portugal), "contra o racismo, os crimes e as violências policiais" que enchem as redes sociais desde há dois dias.

Apesar da interdição, algumas dezenas de pessoas, alegadamente afiliadas com a extrema esquerda, começaram a reunir-se no centro de Lyon à hora anunciada nos apelos.

As cidades de Amiens e de Beauvais decretaram recolher obrigatório para os próximos dias. A responsável camarária de Lille, a socialista Martine Aubry, recusou seguir-lhes o exemplo, considerando que poderia "atiçar ainda mais a ira" dos manifestantes.

A presidente da câmara sublinhou ainda a "juventude" dos autores dos tumultos, com idades compreeendidas entre "os 13 e os 18 anos". "Estamos alidar na maioria com crianças. Não podemos discutir com eles", considerou, sublinhando a diferença destes protestos face ao motins de 2005.

O Conselho dos Imãs de França, CIF, já apelou à calma e ao regresso ao diálogo "por parte de cada um para que os habitantes dos bairros afetados não sejam as primeiras vítimas da cólera" e demarcando-se dos grupos que têm fomentado a destruição de equipamentos urbanos, de bens públicos e privados e os ataques às forças da ordem que tentam restaurar a segurança e combater numerosos incêndios.

O CIF dirige-se concretamente e "solenemente a todas as associações muçulmanas e imãs no terreno a desemprenhar o seu papel de apaziguamento das tensões e das violências urbanas" e "todos os muçulmanos de França a ajudar a restaurar a calma".
"Parece que estamos em guerra"
Esta sexta-feira a situação acalmou em Nanterre, o subúrbio de Paris onde ocorreu a morte de Nahel M., e onde a violência tem sido mais preocupante, como verificou o correspondente da RTP em Paris, José Manuel Rosendo.

Estrasburgo, onde dezenas de estabelecimentos de marca foram pilhados, incluindo uma grande loja de produtos Apple, registou esta tarde a situação mais problemática. "Nunca vi disto, tantos estabelecimentos estragados e pilhados", lamentou um membro da associação de comerciantes locais. "Com todas as lojas fechadas parece que estamos em guerra", reagiu uma testemunha dos confrontos entre jovens e polícia.

Também no grande centro comercial de Rosny2, em Seine-Saint-Denis, no departamento da Ile-de-France, na região metropolitana de Paris, a calma só regressou pelas 18h00 locais, mais de duas horas depois de parte de um grupo de "centenas" de jovens encapuçados, segundo a polícia, ter invadido o espaço causando o pânico entre lojistas e clientes. "Tinham de 12 a 15 anos", referiu uma testemunha. Uma loja FNAC e outra de comida rápida foram alvo de tentativas de pilhagem, assim como um supermercado.

O presidente da Câmara de Saint-Denis ordenou o encerramento do comércio a partir das 22h00 locais até às 05h00 de sábado. Nesta área as forças da ordem foram autorizadas a usar drones para captar imagens dos autores dos desacatos.

No centro de Marselha, dezenas de pequenos grupos de jovens têm lançado projéteis e sido impedidos pela polícia de pilhar lojas desde o início da tarde. As sedes das empresas de transporte públicos foram encerradas às 18h00 locais. O acesso ao porto foi proibido e um decreto da prefeitura instaurou a interdição de transportar fogo de artifício.
Uma morte na Guiana francesa
Durante a noite de quinta para sexta-feira, o incidente mais grave deu-se em Marselha, onde dois polícias à paisana foram isolados e atacados com violência à margem dos distúrbios- "Bloqueados por um incêndio de caixotes de lixo, os dois polícias foram tomados departe por um grupo de uma vintena de indivíduos", referiu a procuradoria local em comunicado. "Um deles foi reconhecido como polícia". Depois de terem saído do seu veículo, os dois homens foram "espancados com violência" tendo tido de ser hospitalizados.

Também na Guiana francesa, um homem de 50 anos, que assistia numa varanda aos confrontos na rua entre manifestantes e polícia, morreu pouco antes da meia-noite local, atingido por uma bala perdida. A polícia nega acusações de que recorreu a fogo real e denuncia disparos por parte dos manifestantes. O incidente está a ser investigado.

Em Tours, uma jornalista de uma televisão local foi agredida no centro da cidade quando captava imagens de uma viatura de turismo incendiada durante os motins. Foi "brutalizada" e a sua câmara "destruída", referiu o seu canal.

Em Lille, uma escola recentemente renovada foi incendiada com recurso a fogo de artifício e outras duas escolas foram também alvo de ataque. O rés-do-chão de uma junta de freguesia foi destruído num incêndio e uma sala polivalente no bairro de Hellemmes foi alvo de "dois ataques" com morteiro e uma viatura, de acordo com a Câmara.
Cancelamentos em catadupa
O ministro do Interior ordenou a a suspensão da circulação de transportes públicos a partir das 21h00 em todo o território, para dificultar as deslocações e a formação de grandes grupos de pessoas com o objetivo de destruir e pilhar.

Em Paris, os hotéis nas zonas mais afetadas pela violência registaram anulação de reservas em catadupa. Alguns países, entre os quais o Reino Unido, aconselharam os seus cidadãos a evitar a França nestes dias.

Também vários espectáculos e iniciativas culturais, incluindo um grande concerto de Mylène Farmer marcado para Paris, foram cancelados nas últimas horas.

Os motins e confrontos das últimas horas em França fizeram quase 300 feridos entre os polícias e resultaram em 875 detenções, um terço dos quais entre os 14 e os 18 anos. O ministro do Interior, Gérard Darmanin, elogiou o trabalho das forças da ordem e considerou durante a tarde que "as próximas horas serão determinantes". Entrevistado na TF1, anunciou eentretanto a mobilização de 45.000 polícias em todo o país para manter a ordem esta noite, mais 5.000 do que na noite de ontem.

O funeral de Nahel M. foi entratento marcado para este sábado à tarde.
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