Merkel não vai concorrer à reeleição para a presidência da CDU

por Andreia Martins - RTP
A chanceler alemã lidera a CDU desde abril de 2000 Ralph Orlowski - Reuters

A chanceler alemã não deverá concorrer a uma reeleição na União Democrática Cristã, partido que lidera há 18 anos. A informação é avançada esta segunda-feira pela agência France Presse. Esta decisão surge um dia após as eleições regionais de Hesse, em que os partidos da grande coligação (CDU e sociais-democratas) sofreram perdas significativas.

Com a tendência de queda da CDU, Angela Merkel mantêm-se como chanceler da Alemanha, posição que ocupa desde 2005, mas deverá renunciar ainda hoje à presidência do partido que lidera desde 2000.

A informação é avançada pela agência France Presse e vai ao encontro do que já tinha sido avançado por vários meios de comunicação alemães. Em declarações à agência EFE, um responsável do partido sob anonimato revelou que Angela Merkel já comunicou a sua decisão durante uma reunião da direção do partido.

"Merkel não se vai voltar a apresentar à presidência do partido", disse o responsável do partido, citado pela revista Der Spiegel e o jornal Handelsblatt.

No mesmo encontro, Angela Merkel terá mostrado disponibilidade para ocupar o cargo de chanceler até 2021, ano em que termina o atual mandato e em que se realizam as próximas eleições federais na Alemanha. Revelou ainda que não se pretende candidatar a qualquer cargo de topo na União Europeia.

Segundo o jornal alemão Bild, o antigo eurodeputado e ex-líder do grupo parlamentar dos democratas-cristãos (entre 2000 e 2002), Friedrich Merz, poderá anunciar a sua candidatura ainda esta segunda-feira.

Merz é considerado um representante da ala mais conservadora do partido e abandonou a política ativa em 2009, tendo deixado nesse ano o Bundestag. Desde então, ocupou várias posições de relevância em várias empresas do setor privado.

A agência Reuters avança que Jens Spahn, ministro da Saúde do presente Governo federal e crítico da chanceler, deverá concorrer à vaga deixada por Angela Merkel.

Outro nome sugerido pela imprensa alemã é o de Annegret Kramp-Karrenbauer, atual secretária-geral da CDU e figura próxima da atual liderança do partido.

A eleição do próximo presidente do partido acontece no próximo congresso, que se realiza em dezembro, na cidade de Hamburgo.
Fim de uma era
Este poderá ser o início do fim de uma era na política alemã e europeia perante o desvanecimento do poder da chanceler, numa altura de grande fragilidade de Bruxelas, em confronto aberto com o Governo italiano. Já esta segunda-feira, o comissário europeu para os Assuntos Económicos e Financeiros, Pierre Moscovici, afirmava que "a fragilidade de um país como a Alemanha ainda é uma ameaça para a Europa", sublinhando que o Governo germânico é "uma força motriz" dos parceiros europeus.

Angela Merkel defendeu no passado que a direção do partido e o cargo de presidente federal devem estar entregues à mesma pessoa, mas a convicção política não resistiu às pressões após o fraco resultado da CDU nas eleições regionais de Hesse, onde fica localizada a cidade de Frankfurt. O voto ditou a vitória do partido da chanceler, ainda que estes tenham sido os piores números da CDU naquela região desde 1966.

O escrutínio ficou marcado não só pela queda significativa dos dois partidos da "grande coligação" que lidera o Governo federal - a par com a CDU, os social-democratas do SPD obtiveram o pior resultado desde o final da II Guerra Mundial - mas também pela entrada da extrema-direita no parlamento regional.

As últimas projeções atribuem 27 a 28% de votos à CDU e 19,8% de votos ao SPD, ambos com uma queda superior a dez por cento em relação à última eleição, em 2013. Já o partido Alternativa para a Alemanha (AfD) alcançou entre 12 e 13%, o que permite a entrada de deputados eleitos pela extrema-direita na região de Hesse. Este era o último parlamento regional alemão num total de 16 assembleias que ainda não tinha deputados da AfD.

Volker Bouffier, primeiro-ministro de Hesse, reconheceu uma "perda dolorosa" de votos. O responsável regional considerou, no entanto, que o resultado das eleições regionais teve grande influência das clivagens na coligação governamental a nível nacional.
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