Migrantes escondem-se em floresta infestada de crocodilos

por RTP
Os migrantes esconderam-se numa zona de manguezais, onde vive uma população de crocodilos de água salgada Jairo Castilla - Reuters

Após atracarem no porto de Douglas, em Queensland, uma dezena de migrantes refugiou-se na floresta de Daintree, conhecida por ser o habitat natural de uma população de crocodilos de água salgada. A polícia australiana procede com as buscas após ter detido 15 migrantes.

No domingo de manhã, uma embarcação suspeita na foz do rio de Daintree levou os locais a alertarem as autoridades. Alguns encontraram o barco abandonado a flutuar, outros presenciaram a fuga dos passageiros da embarcação.

“Não vemos este tipo de coisas muitas vezes. Aliás, nunca vemos”, assegurou Dave Patterson, um operador de viagens turísticas por barco em Daintree ao Guardian Australia.

Não se sabe ao certo quantas pessoas estavam no barco, que as autoridades descreveram como uma “embarcação de pesca ilegal”. No entanto, Peter Dutton, ministro australiano dos Negócios Estrangeiros, já confirmou que esta trata-se “da primeira tentativa de contrabando de pessoas em mais de 1400 dias” na Austrália.

Dos passageiros dessa embarcação, 15 foram detidos pelas autoridades fronteiriças da Austrália, de acordo com Mark Ryan, ministro da Polícia de Queensland.

“[Os migrantes] serão avaliados pela Força de Fronteira Australiana e tratados de acordo com a lei australiana”, acrescentou Dutton.

Apesar disso, o Courier Mail, um jornal de Brisbane, avançou que ainda há migrantes em fuga. Após abandonarem a embarcação, os migrantes dirigiram-se para uma zona de manguezais, um tipo de vegetação costeira tropical que é conhecida na região por albergar crocodilos de água salgada.

Julia Leu, presidente do Conselho de Douglas, na Austrália, mora no limite do Parque Nacional de Daintree. É da opinião que os migrantes desaparecidos ainda continuam escondidos nos manguezais, uma vez que as estradas locais têm alguma afluência e que a população está informada sobre a situação.
“Deviam ser mandados para Nauru”
Steven Ciobo, nomeado como ministro da Indústria da Defesa este domingo, é da opinião de que estes migrantes devem ser enviados para Nauru, uma ilha onde a Austrália mantém campos de detenção de migrantes.

“Não deviam ser autorizados a permanecer na Austrália. Podemos não ser capazes de fazer isso de acordo com as convenções, mas temos de verificar o assunto”, afirmou em declarações à Sky News Australia.


De acordo com a lei internacional, a Austrália é obrigada a processar os pedidos de asilo de migrantes sem os expor a danos adicionais.
Como se processa a imigração na Austrália?
Durante algum tempo, a Austrália era o destino procurado por migrantes asiáticos que fugiam do conflito e da repressão política nos seus países, esperando obter asilo no continente australiano.

Por essa razão, nas eleições australianas de 2013, a coaligação liberal-nacional lançou a Operação Fronteiras Soberanas (OBS), que prometia “parar os barcos”. Na altura, Scott Morrinson, agora primeiro-ministro, fazia parte da coaligação como ministro da Imigração e Proteção de Fronteiras.

Desde essa altura, os migrantes que chegam de barco à costa australiana passaram a estar proibidos de entrar no país. A medida serve para, alegadamente, evitar o tráfico de migrantes por via marítima, no qual muitos acabam por morrer.

Com a operação, o número de migrantes que chegavam ao continente australiano de barco baixou drasticamente. Em 2013 chegaram 20587 migrantes por esta via. Nos anos seguintes, o número baixou para zero, de acordo com um documento de pesquisa parlamentar lançado o ano passado.

Mas se os requerentes de asilo deixaram de poder pisar o continente australiano, isso não os impediu de tentar a sua sorte. Só que acabam por não entrar na Austrália por ação do Governo, que intercepta os barcos que se dirigem à Austrália e envia os migrantes para campos de detenção fora do território, como na ilha de Nauru e na Papua-Nova Guiné.

Por estarem proibidos de ir para o continente, muitos não têm alternativa se não a de permanecerem nesses campos, que já foram considerados pela Amnistia Internacional como “prisões a céu aberto”.

De acordo com a UNICEF, entre 2013 e 2016, o Governo já gastou pelo menos 9,6 mil milhões de dólares australianos (cerca de seis mil milhões de euros) dos contribuintes na “manutenção do processamento offshore, na detenção obrigatória de migrantes no continente e no retorno de barcos”. Estima-se que só o processamento offshore custa a cada contribuinte mais de 400 mil dólares australianos (cerca de 292 mil euros) por ano.
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