Milão anuncia plano ambicioso para reduzir poluição após quarentena

por RTP
Em Milão o trânsito reduziu entre 30 a 75 por cento durante o período de quarentena. Foto: Daniele Mascolo - Reuters

A cidade italiana de Milão vai transformar 35 quilómetros de estradas em ciclovias e passeios, depois de um estudo ter concluído que elevados níveis de poluição do ar podem contribuir para a morte por Covid-19. O objetivo do plano Strade Aperte (Estradas Abertas) é aproveitar esta fase difícil para fazer mudanças que possam melhorar a segurança dos cidadãos e a qualidade ambiental.

Um estudo revelou recentemente que 78 por cento das mortes por Covid-19 em 66 regiões de Itália, Espanha, França e Alemanha ocorreram apenas em cinco regiões: as mais poluídas da lista.

Tanto Milão como toda a região da Lombardia estão entre os locais mais poluídos da Europa, tendo sido também dos mais atingidos pelo surto do novo coronavírus.

Com a quarentena domiciliária imposta nessa cidade do norte de Itália, o trânsito reduziu-se entre 30 a 75 por cento e, consequentemente, baixou também a poluição atmosférica.

Agora, perante o início do levantamento gradual de restrições que permitirá, eventualmente, o regresso de toda a população ao trabalho, as autoridades locais pretendem evitar que o uso de veículos próprios faça regredir a evolução na qualidade do ar.

Por essa razão, a cidade anunciou que 35 quilómetros de ruas serão transformados já durante o Verão que se aproxima, sendo a principal mudança a criação de ciclovias. Outra medida será o alargamento de passeios, o que permitirá aos peões circularem mais afastados uns dos outros, prevenindo o contágio por Covid-19.

O chamado plano Strade Aperte (Estradas Abertas), anunciado esta terça-feira, inclui ainda a imposição de um limite de velocidade de 30 quilómetros por hora nestes renovados espaços da cidade.
Importância do comércio ao ar livre para a economia
“Trabalhámos durante anos para reduzir o uso de carros. Se toda a gente conduzir um carro, deixa de haver espaço para a circulação de pessoas e para atividades comerciais ao ar livre”, argumentou Marco Granelli, vice-presidente da Câmara de Milão, citado pelo Guardian.

“Claro que queremos reabrir a economia, mas pensamos que devemos fazê-lo de forma diferente da anterior”, explicou. “Temos de repensar Milão nesta nova situação”.

Granelli frisou a importância do comércio que ocupa parte das ruas, nomeadamente esplanadas de restaurantes, cafés e bares e bancas de artesanato. “Quando a pandemia passar, as cidades que ainda possuírem este tipo de economia terão uma vantagem, e Milão quer estar nessa categoria”, afirmou.

Milão é uma cidade relativamente pequena e densa a nível populacional, com 1,4 milhões de habitantes, dos quais 55 por cento utilizam transportes públicos para se deslocarem aos locais de trabalho. Em média, cada trabalhador mora a cerca de quatro quilómetros do emprego, pelo que trocar o carro por transportes coletivos ou bicicletas é uma hipótese viável para muitos.

Janette Sadik-Khan, ex-comissária de Nova Iorque para os Transportes, está a ajudar Milão no plano de recuperação dos transportes públicos para garantir que todos os habitantes conseguirão deslocar-se facilmente e em segurança. Ao Guardian, afirmou que a cidade italiana poderá servir de exemplo para outras em todo o mundo.
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