Milícias xiitas Houthi assumem controlo do Palácio Presidencial do Iémen em Sanaa

por Graça Andrade Ramos, RTP
Um tanque junto a um depósito de armas do complexo do Palácio Presidencial do Iémen, na capital Sanaa. O Palácio foi tomado por milícias xiitas Houthis que saquearam os arsenais. Khaled Abdullah/Reuters

Após um breve confronto com a guarda presidencial, as milícias Houthis tomaram o complexo do Palácio Presidencial, na capital do Iémen, Sanaa, cerca das 12h00 GMT desta segunda-feira. Desmentem que se trate de um golpe armado garantindo estar a impedir o "contrabando de armas" por parte de pessoal da segurança do complexo.

Em comunicado, um membro do politburo do Ansaruallah, o braço político das milícias Houthi, adiantou que as suas forças entraram no Palácio Presidencial para evitar que a Guarda pilhasse as armas ali existentes.

"O que os comités populares fizeram foi impedir o contrabando de armas. Não assumiram o controlo do Palácio Presidencial, estão a protege-lo de roubos", garantiu Ali al-Quhoom num comunicado publicado num dos sites do grupo na Internet.

O ataque tinha sido confirmado horas antes por duas fontes envolvidas nos combates.

"Os milicianos Houthi entraram no complexo e estão a pilhar as armas dos arsenais", declarou à Agência France Presse um responsável militar iemenita.



Um alto quadro Houthi confirmou a notícia, na sua conta Facebook. Ali al-Bukaiti afirmou que o movimento Ansaruallah "tinha tomado o controlo do Palácio Presidencial".Os confrontos surgem depois de combates durante toda a manhã de segunda-feira entre as milícias xiitas e as forças governamentais, suspenso após um acordo de cessar fogo.

Apesar das garantias das milícias Houthi quanto ao Palácio Presidencial, há notícias de ataques igualmente à residência do Presidente do Iémen, Abd Rabbo Mansour Hadi.

"O Presidente do Iémen é alvo de um ataque de milícias armadas desde as 15h00" (12h00 GMT) a partir de casas próximas, afirmou na sua conta Twitter a ministra da Informação do Iémen, Nadia Sakkaf.

Pelas 15h12 GMT um 'responsável governamental' afirmava à Agência Reuters que o Presidente Hadi se mantinha na sua residência e "estava bem".

No seu tweet, Sakkaf refere apenas "milícias que procuram derrubar o Governo", mas acusou segunda-feira as milícias Houthi de tentarem um golpe de Estado.
Conselho de Segurança reúne
A tensão no Iémen compromete uma aliança importante das potências ocidentais com o Presidente Hadi para combater a al Qaeda no Iémen, que assumiu responsabilidades pelos ataques terroristas em Paris que vitiamaram 17 pessoas há duas semanas.

O secretário-geral da ONU Ban Ki Moon apelou já à suspensão imediata dos combates no Iémen.

O Conselho de Segurança da ONU tem agendada para esta tarde uma reunião de consulta de emergência sobre o Iémen, convocada pela Grã-Bretanha após os combates de segunda-feira e que se tornou ainda mais urgente pelo evoluir da situação nas últimas horas.Nos combates de segunda-feira morreram pelo menos nove pessoas e 90 ficaram feridas.

As milícias Houthi, apoiadas pelo Irão, controlam três quartos da capital imenita, Sanaa, desde uma ofensiva nacional em setembro. Acusam as forças governamentais de terem iniciado as hostilidades.

O exército refuta as acusações e aponta o dedo às milícias.

A ministra da Informação do Iémen reconheceu segunda-feira que as duas comitivas do primeiro-ministro e de altos responsáveis Houthis foram atacadas após uma reunuião de tréguas, admitindo existir uma "terceira parte", que não nomeou.

Sábado o chefe do gabinete do Presidente, Ahmed Awad bin Mubarak, terá sido raptado pelas milícias xiitas. Bin Mubarak é um dos autores do projeto da nova Constituição, que prevê um Iémen federal composto por seis regiões, de autoridade reforçada, algo que as milícias Houthi contestam, por recearem o aumento do poder das tribos sunitas do norte e a vitíoria de um movimento de secessão, a sul.
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