Myanmar. Libertados militares acusados de massacre de rohingyas

por RTP
As detenções ocorreram após o massacre de 2017, quando centenas de aldeias na zona de Rakhine foram pilhadas por militares Reuters

As autoridades de Myanmar soltaram sete soldados presos pelo homicídio de rohingyas na ofensiva militar de Rakhine de 2017, apenas alguns meses após a detenção. Foram os únicos naquele país asiático a serem detidos por crimes contra a minoria étnica, mas a pena de dez anos foi drasticamente reduzida.

Os sete soldados responsáveis pelo homicídio de dez rohingyas - condenados a dez anos de prisão pelo massacre na aldeia de Inn Din - foram libertados em novembro de 2018, revelou agora a agência Reuters

Os soldados cumpriram menos de um ano das suas penas. Estiveram, assim, menos tempo presos do que os jornalistas birmaneses detidos por investigarem o massacre de Inn Din, que permaneceram na cadeia de Insein durante mais de 16 meses e foram libertados apenas a 6 de maio.

"A sua pena foi reduzida pelo exército", afirmou um responsável de Naypyidaw, quando questionado sobre o sucedido. 

As detenções ocorreram após o massacre de 2017, quando centenas de aldeias na zona de Rakhine foram pilhadas por militares. Durante este ataques foram perpetrados homicídios em massa, violações em grupo e fogos postos. Como resultado, mais de 730 mil rohingyas foram obrigados a fugir para o Bangladesh.

As Nações Unidas consideram que este ataque foi feito com "intenções genocidas", para expulsar a etnia muçulmana da antiga Birmânia.
A situação política em Myanmar 
Após uma conturbada luta pela independência, o exército, liderado pelo general Ne Win, pôs em marcha em 1962 um golpe de Estado. A Birmânia, cuja designação foi posteriormente alterada para Myanmar, é desde então governada de facto pelas forças militares. 

A partir de 1988, Aung San Suu Kyi tornou-se uma figura de relevo no país, ao liderar o movimento pró-democrático. Ajudou a formar o partido Liga Nacional pela Democracia, mas foi seguidamente condenada a prisão domiciliária, o que duraria 21 anos.

Apesar da vitória do seu partido nas eleições de 1990, o exército recusou transferir o poder. Neste período, Suu Kyi ganhou o Prémio Nobel da Paz, cujo montante seria utilizado para o desenvolvimento da educação e da saúde no país. 

Nas eleições de 2012, conseguiu, finalmente, um lugar no Parlamento e, mais tarde, tornar-se-ia a Primeira Conselheira de Estado.
A condição dos rohingyas 
Durante a II Guerra Mundial, os muçulmanos rohingya foram aliados dos ingleses, lutando contra os budistas locais de Rakhine, aliados dos japoneses. Assim, após a independência em 1948, o novo Governo – maioritariamente budista – recusou cidadania aos rohingyas, dando origem a um longo percurso de discriminação e perseguição.Os rohingyas estão entre as minorias mais perseguidas no mundo.
 
As pessoas desta etnia não têm direito à cidadania; não podem ser proprietários de terras; não podem ter mais de dois filhos; não podem viajar sem autorização oficial.

O regime tentou expulsar a minoria do país e repovoar as respetivas terras com outros habitantes. Até agora, mais de 900 mil foram expulsos, sendo forçados a refugiar-se em países como o Bangladesh, a Malásia e a Indonésia.

O exército é também acusado de promover o trabalho forçado, abusos sexuais, a destruição de mesquitas e a proibição de atividades religiosas. As Nações Unidas têm vindo a denunciar constantes violações de Direitos humanos em Myanmar, empregando mesmo o termo genocídio. 

Enquanto o exército permanece uma força no espetro político birmanês, Aung San Suu Kyi, a Nobel da paz, minimizou a violência contra a minoria muçulmana, negou a existência de uma limpeza étnica em curso e afirmou que as tensões eram resultado de um "clima de medo" provocado por "uma perceção mundial que o poder muçulmano a nível global é "muito grande". 

A sua indiferença levou a inúmeros pedidos para que lhe fosse retirado o Nobel da Paz.
O budismo e a violência

O budismo é geralmente encarado como a mais pacífica das religiões. Os seus ensinamentos focam-se na paz do estado de espírito, na não-violência (ahinsa) e nas consequências negativas que a violência tem nos indivíduos.

Recentemente, budistas birmaneses têm estado à frente de várias ações violentas contra os rohingya, invocando a defesa da religião maioritária. O Islão é visto como uma ameaça a esta mesma identidade.

O problema não se verifica apenas em Myanmar, mas também no Sri Lanka, onde o grupo Bodu Bala Sena insiste no que considera ser o perigo da comunidade muçulmana, e na Tailândia, onde monges budistas e a minoria muçulmana têm sido protagonistas de um conflito.
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