"Não vou ser o vilão da história". O aviso de Cohen ao Presidente Trump

por Paulo Alexandre Amaral - RTP
Numa entrevista à cadeia de televisão ABC, Michael Cohen admitiu que durante mais de uma década mentiu para encobrir irregularidades de Donald Trump Jeenah Moon - Reuters

O ex-advogado de Donald Trump, Michael Cohen, saiu esta semana do tribunal de Manhattan com uma sentença de três anos, que deverá começar a cumprir a 6 de março de 2019. Foi condenado por encobrimento dos pagamentos a duas mulheres com quem Trump manteve relações extra-conjugais e que o então candidato às presidenciais norte-americanas temia que pudessem prejudicar a campanha. No rol da acusação estão também perjúrio perante o Congresso e crimes financeiros. Mas os encobrimentos levavam já mais de uma década, reconheceu o advogado, que se recusa a ser “o vilão desta história”.

Em causa estavam pagamentos feitos a duas mulheres para comprar o seu silêncio em relação a casos extra-conjugais do candidato à Presidência dos Estados Unidos, uma atriz da indústria porno e uma modelo da Playboy. Mas também mentir ao Congresso e crimes financeiros."Entreguei a minha lealdade a quem a não merecia" - Michael Cohen.

Numa entrevista à cadeia de televisão ABC, Michael Cohen admitiu que durante mais de uma década mentiu para encobrir irregularidades de Donald Trump e que voltou a fazê-lo já durante a campanha para as presidenciais de 2016.

“Ele [Trump] estava muito preocupado com o efeito que teria na eleição [se estas mulheres viessem a público]” e “deu-me ordens para fazer os pagamentos” que comparam o seu silêncio. O Presidente diz que Cohen agiu por sua conta e risco nesta matéria, mas o advogado é perentório: “Ele sabe a verdade. Eu sei a verdade. Outros sabem a verdade”.

“Uma e outra vez, senti que era o meu dever encobrir as suas ações sujas, em vez de ouvir a minha voz interior e a minha bússola moral [por culpa da] minha fraqueza e da lealdade cega a este homem que me levou a escolher o caminho da escuridão em vez do caminho da luz”, afirmou Michael Cohen numa entrevista à televisão ABC, para deixar um aviso à Administração Trump: “Eu não serei o vilão da sua história [Trump]”.
Trump empresário, Trump candidato
Na quarta-feira passada, Cohen ficou a conhecer a sentença de três anos que deverá cumprir a partir de março próximo por vários crimes dos quais se deu como culpado, crimes relacionados com as suas funções junto de Donald Trump, o empresário, mas também ao serviço de Donald Trump, o candidato a Presidência.

Michael Cohen, advogado de Trump durante mais de uma década e um dos seus principais confidentes, está a colaborar com o conselheiro especial Robert Mueller, que tem em mãos e deverá fechar em breve o dossier do conluio de Moscovo com a equipa de campanha que levou Donald Trump à Casa Branca. 

As respostas deixadas por Cohen à ABC deverão constituir fonte credível de preocupação para o Presidente, já que fornecem conteúdo legal às acusações que Donald Trump vem enfrentando desde que pôs os pés na Casa Branca. Sem adiantar pormenores à colaboração com a equipa de Mueller – “para não atrapalhar a investigação” – o ex-advogado de Trump mais do que uma vez deixou no ar aquela que é para já a mais negra das ameaças que pairam sobre a cabeça do 45.º Presidente dos Estados Unidos: “Eu não serei o vilão da sua história”.

Em relação ao dossier russo, questionado pelo repórter da ABC sobre se Trump estava a dizer a verdade relativamente à Rússia, Cohen limitou-se a um seco “não”.
"Ele sabe, eu sei"
Entretanto, Donald Trump já puxou do Twitter para retaliar contra o seu antigo confidente, acusando-o de ter agido apenas no sentido de “embaraçar o Presidente e conseguir uma pena mais leve, o que que conseguiu”. Cohen voltou a responder com um “isso não é verdade (…) Ele sabe a verdade. Eu sei a verdade”.



Michael Cohen lamentaria igualmente a tentativa de interferência do Presidente dos Estados Unidos na justiça quando Trump afirmou que o advogado deveria ser condenado a uma pena o mais pesada possível. Noutra referência aos tweets do Presidente, Cohen acusou-o ainda de, ao invés de admitir os seus erros, atacar a sua família (a mulher e o sogro), a quem alegadamente teria protegido num acordo com a justiça.

Afirmando-se determinado a corrigir os erros do passado, Cohen sublinhara perante o tribunal de Manhattan que a sua lealdade maior é devida aos filhos, à mulher e aos norte-americanos, lamentando os anos em que viveu “num encarceramento pessoal e mental, desde o dia em aceitei a oferta para trabalhar com um magnata do imobiliário cuja perspicácia admirava profundamente”.

Na realidade, rematou Cohen, “há pouco a admirar”.

“E aqui está a verdade: o povo dos Estados Unidos, as pessoas no resto do mundo, não acreditam no que ele diz. O homem não fala a verdade. E é triste que deva ser eu a assumir a responsabilidade pelos seus actos sujos”, acrescentou Michael Cohen, condenado a três anos de prisão e à restituição de 1,39 milhões de dólares e confisco de outros 500 mil pelos crimes de financiamento na campanha das Presidenciais de 2016.
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