Novo coronavírus acerta tiro em porta-aviões dos EUA

por Paulo Alexandre Amaral - RTP
Reuters

Uma centena de militares do porta-aviões USS Theodore Roosevelt vão ser desembarcados esta sexta-feira após ter sido atendido o pedido do comandante do vaso de guerra norte-americano que está atracado no porto de Guam, território americano na Micronésia, Pacífico. Serão cerca de 100 os membros da tripulação que contraíram covid-19, o que coloca em risco toda a população do navio de quase cinco mil tripulantes.

Depois de há apenas apenas dois dias o capitão Brett E. Crozier, comandante do vaso de guerra norte-americano, ter avançado com o número escasso de três infectado com o novo coronavírus, esta quinta-feira o balanço aponta para a centena, no que revela uma escalada na disseminação de Covid-19 no USS Theodore Roosevelt.

Brett E. Crozier tinha já deixado esse alerta para a dificuldade de conter a Covid-19 no "espaço limitado" de um vaso de guerra que transporta quase cinco mil tripulantes: “Retirar a maior parte da tripulação de um porta-aviões nuclear norte-americano (...) isolá-la durante duas semanas pode parecer uma medida extraordinária [mas] é um risco necessário”.

“Não estamos em guerra. Não há razão para os militares morrerem”, sustentava o capitão Brett E. Crozier em carta enviada à Marinha, após os primeiros três militares do USS Theodore Roosevelt terem testado positivo. Escassos dias depois, são agora 100 os infectados a bordo, depois de terem sido realizados 1300 testes.

Crozier aponta para uma ligação feita pelo navio o mês passado no Vietnam como causa do surto no USS Theodore Roosevelt. Segundo o comandante, milhares de militares terão saído para uma volta em Danang, uma cidade costeira do centro do país, quando na altura não estavam contabilizadas mais de duas dezenas de casos de Covid-19 na capital Hanói.

Entretanto, a ordem chegou para o desembarque de cerca de três mil tripulantes em Guam. A operação deverá decorrer esta sexta-feira e a Marinha norte-americana deverá usar várias instalações para o isolamento dos militares, incluindo hotéis.

A necessidade de remover os infectados com o novo coronavírus e também de estabelecer um calendário rotativo de quarentenas deverá manter o navio fora de serviço durante semanas, de acordo com o secretário da Marinha, Thomas Modly. Ficam entretanto garantidas a manutenção dos sistemas essenciais e a protecção do USS Theodore Roosevelt: “Não podemos nem iremos retirar todos os militares do navio”.

A palavra de ordem não deixa, e particularmente nesta crise, de ser o secretismo. Inicialmente o Pentágono esquivou-se à abordagem de qualquer problema a bordo da sua fortaleza militar no Pacífico, um navio que desde há décadas vem intervindo nas operações de guerra mais importantes dos Estados Unidos.
Secretismo é a palavra de ordem dos militares

O condicionamento da informação das estruturas militares não é prerrogativa dos norte-americanos, também os britânicos têm vindo a fazer do silêncio uma palavra de ordem no que respeita à condição do seu pessoal deslocado pelo mundo.

Questionado sobre a condição dos militares deslocados em várias regiões do mundo, o ministro britânico da Defesa, Jeremy Quin, remeteu-se ao silêncio, apesar da suspeita de que os contingentes militares espalhados pelo mundo são dos principais factores de propagação da doença (a própria Organização Mundial da Saúde já emitiu instruções a este respeito).

As tropas britânicas encontram-se precisamente nesta condição, participando em operações militares por várias regiões do planeta, inclusive em países e territórios que impuseram proibições de entrada para encetar o combate à pandemia de covid-19.

Nas últimas semanas, verificaram-se dezenas de movimentações da força aérea britânica para os Estados Unidos, Alemanha, Chipre, Belize, Estónia e Finlândia, países que emitiram uma proibição de entrada para cidadãos britânicos.

Um porta-voz do Ministério da Defesa garantiu entretanto que o Reino Unido “acatará [as medidas que outros países decidam pôr em prática] para mitigar a Covid-19”. Sobre a questão dos contingentes militares, o ministro Jeremy Quin foi categórico: “Não temos nada a dizer sobre aspectos pessoais ou detalhes de saúde do nosso pessoal”.
Tratar dos mortos

A dimensão da ameaça que representa o novo coronavírus pode medir-se pela procura do exército americano de sacos para corpos. A agência para a logística militar estima a necessidade de 100 mil sacos para envolver os cadáveres vítimas de covid-19.

A Casa Branca estima que a pandemia possa fazer entre 100 mil e 240 mil vítimas mortais nos Estados Unidos.

O Pentágono está num contra-relógio para responder ao que se julga ser necessário para fornecer hospitais e morgues, numa altura em que o número de mortos ultrapassou a cifra dos 5000 nos Estados Unidos. Só em Nova Iorque são 84 mil testados positivamente para mais de 2.200 mortes por covid-19.

Não só as vítimas mortais são agora mais do que cinco mil, como esta passada quarta-feira marca ainda um novo recorde diário no número de mortes: 1000 pessoas sucumbiram à Covid-19 em 24 horas. A quarta-feira confirmou ainda 25 mil novos casos, para um total nacional de 250 mil doentes infectados com o novo coronavírus.
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