"O que está em causa não é ganhar um estúpido jogo de culpa"

por Lusa
Reuters

O presidente do Conselho Europeu perguntou hoje a Boris Johnson qual a sua intenção, lembrando ao primeiro-ministro britânico que está em causa o futuro da Europa e do Reino Unido e não ganhar "um estúpido jogo de culpa".

"O que está em causa não é ganhar um estúpido jogo de culpa. O que está em causa é o futuro da Europa e do Reino Unido, assim como a segurança e os interesses dos nossos cidadãos. Não quer um acordo, não quer uma extensão, não quer revogar [o artigo 50.º], para onde vai?", questionou Donald Tusk numa publicação na sua conta na rede social Twitter.

O presidente do Conselho Europeu interpelou diretamente o primeiro-ministro britânico, identificando-o na publicação.

O `tweet` indignado de Donald Tusk é uma reação às informações, adiantadas por fonte do Governo britânico à BBC, de que Boris Johnson está a preparar-se para uma rutura das negociações com a União Europeia (UE), uma decisão tomada após um telefonema com a chanceler alemã, Angela Merkel.

Segundo a BBC, Merkel terá dito que a UE só vai aceitar um acordo que mantenha a Irlanda do Norte na união aduaneira europeia, o que contraria o plano do primeiro-ministro para resolver o impasse do `Brexit`.

Sem manter a província britânica alinhada com o mercado único europeu para evitar uma fronteira física na ilha da Irlanda, "ela disse que um acordo é altamente improvável", adiantou outra fonte do governo à Sky News.

O Governo britânico propôs na semana passada a criação de uma zona regulatória comum entre a Irlanda do Norte e a vizinha Irlanda para facilitar a circulação de bens agroalimentares e industriais.

Porém, o plano pressupõe que a Irlanda do Norte sai da união aduaneira europeia e fica a fazer parte de uma união aduaneira britânica quando o Reino Unido sair da UE, após o período de transição, no final de 2020.

O alinhamento com as regras do mercado comum na Irlanda do Norte teria de ser autorizado pelas autoridades autónomas da província britânica todos os quatro anos.

O Governo britânico considera que esta posição representa uma concessão e esperava que fosse suficiente para abrir negociações aprofundadas para chegar a um acordo a tempo do Conselho Europeu na próxima semana.

Outra fonte anónima, que a antiga ministra do Trabalho Amber Rudd disse à BBC Radio 4 acreditar ser o assessor do primeiro-ministro Dominic Cummings, adiantou à revista Spectator que, "se este acordo morrer nos próximos dias, não será ressuscitado".

Neste cenário, Londres vai tentar concretizar uma saída sem acordo a 31 de outubro, ameaçando com retaliações os países que aceitarem um eventual pedido de adiamento do `Brexit`.

Legislação em vigor estipula que o primeiro-ministro é obrigado a pedir uma extensão do processo do `Brexit` por mais três meses, até 31 de janeiro, se não for alcançado um acordo até 19 de outubro nem autorizada uma saída sem acordo.

"Vamos deixar claro, de forma privada e publica, que os países que se opuserem ao adiamento vão estar na frente da fila para uma futura cooperação - cooperação em assuntos dentro e fora das competências da UE. Aqueles que apoiarem o adiamento irão para o fim da fila", vincou a mesma fonte.

 

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