Ocupação da Cidade de Gaza. Portugal "profundamente preocupado"

O Governo português disse esta sexta-feira estar "profundamente preocupado" com a decisão israelita de ocupar a Cidade de Gaza. O Ministério dos Negócios Estrangeiros pediu a suspensão do plano de Benjamin Netanyahu e apelou a um cessar-fogo. Por todo o mundo as reações negativas multiplicam-se, com a Alemanha a anunciar mesmo a suspensão do envio de armas a Israel.

RTP /
Foto: Mahmoud Issa - Reuters

"O Governo português está profundamente preocupado com o novo plano do Governo de Israel de ocupação de Gaza", lê-se numa publicação do MNE português na rede social X.

Para o Ministério tutelado por Paulo Rangel, a intenção israleita "põe em causa os esforços para o cessar fogo e agrava a tragédia humanitária", pelo que "deve ser suspenso, dar lugar a cessar-fogo, libertação dos reféns e entrada urgente de ajuda".


Entretanto, em reação ao anúncio de Israel, a Alemanha anunciou que suspendeu a exportação de armas que Telavive poderia usar em Gaza.

"É cada vez mais difícil compreender" como o plano militar israelita permitiria atingir os seus objetivos na Faixa de Gaza, afirmou, em comunicado, o chanceler da Alemanha, país que é um dos principais aliados de Israel.

"Nessas circunstâncias, o Governo alemão não autoriza, até nova ordem, as exportações de equipamento militar que possa ser utilizado na Faixa de Gaza", declarou Friedrich Merz.

O Governo dos Países Baixos tomou uma decisão semelhante, revogando três licenças que tinha concedido para a exportação de peças de navios militares para Israel devido ao "risco de utilização final não intencional" em bombardeamentos israelitas de Gaza.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, também pediu a Israel que reconsidere a expansão da ocupação no enclave palestiniano.

A responsável europeia defendeu um "acesso imediato e sem obstáculos" da ajuda humanitária da Gaza "para entregar o que é urgentemente necessário no terreno".
"Controlo da cidade de Gaza"

As reações surgem depois de, na madrugada desta sexta-feira, o Gabinete de Segurança de Israel ter aprovado um plano para a tomada de controlo total da Cidade de Gaza.

Segundo fontes israelitas, o plano envolve a retirada dos civis palestinianos da cidade, situada no norte do território, e o lançamento de uma ofensiva terrestre nesse local.

"As Forças de Defesa de Israel vão preparar-se para tomar o controlo da Cidade de Gaza enquanto continuam a fornecer ajuda humanitária à população civil fora das zonas de combate", declarou o gabinete do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, em comunicado.

No início desta semana, a imprensa israelita revelou planos do Governo para a reocupação total da Faixa de Gaza. A decisão agora tomada, porém, contempla especificamente a Cidade de Gaza, a maior do enclave.
Hamas diz que plano "custará caro"
O Hamas avisou entretanto que Israel se prepara para cometer um "novo crime de guerra" com o seu plano de tomar o controlo da Cidade de Gaza, "uma aventura criminosa que lhe custará caro".

"A aprovação pelo gabinete sionista dos planos para ocupar a cidade de Gaza e de retirar os habitantes locais constitui um novo crime de guerra que o Exército de ocupação pretende cometer contra a cidade e os seus quase um milhão de habitantes", reagiu o movimento islâmico palestiniano num comunicado.

"Esta aventura criminosa custará caro [a Israel] e não será uma viagem fácil" para o Exército israelita, acrescenta o comunicado, divulgado no Telegram, em que o Hamas adverte que, se Telavive expandir a ofensiva em Gaza, tal significa "sacrificar" os reféns que continuam lá retidos.

A ONU também reagiu ao anúncio israelita, apelando ao Governo de Netanyahu que "trave imediatamente" o plano de ocupação.

"Vai contra a decisão do Tribunal Internacional de Justiça de que Israel deve pôr termo à sua ocupação o mais rapidamente possível, à concretização da solução de dois Estados e ao direito dos palestinianos à autodeterminação", alertou o alto-comissário para os Direitos Humanos, Volker Türk.

c/ Lusa
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