OMS agrava critérios sobre a qualidade do ar pela primeira vez desde 2005

por RTP
Ambientalistas com máscaras durante a audição de uma queixa judicial em Jacarta contra o Governo indonésio devido à poluição atmosférica, em 16 de setembro de 2021 Reuters

A poluição atmosférica causa anualmente sete milhões de mortes prematuras devido a doenças como asma, infeções pulmonares ou AVC, o que levou a Organização Mundial de Saúde a agravar quase todos padrões para a qualidade do ar, conhecidos como AQG [Air Quality Guidelines] e estabelecidos em 2005.

Apesar das indicações da OMS não serem juridicamente vinculativas, o seu impacto refletiu-se em diversas políticas ambientais adotadas globalmente. Nos últimos 16 anos, diversos estudos indicaram contudo que a saúde humana é afetada pela poluição atmosférica em concentrações muito mais baixas do que inicialmente se pensava. A gravidade das conclusões levou a organização a tomar medidas. “A OMS ajustou para baixo quase todas as referências padrão, e avisa que exceder os novos níveis implica riscos graves para a saúde”, referiu. “A sua aplicação pode salvar milhões de vidas”, acrescentou.

Os dados recolhidos indicaram “a que ponto a poluição atmosférica afeta todas as partes do corpo, do cérebro ao bebé em pleno desenvolvimento no ventre da mãe e isto em concentrações mais fracas do que as observadas precedentemente”, explicou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanon Ghebreyesus, em conferência de imprensa esta quarta-feira, ao explicar as razões dos novos padrões.


“Nada é mais essencial à vida do que o ar. E no entanto, devido à poluição atmosférica, o simples facto de respirar provoca sete milhões de óbitos por ano”, principalmente devido a doenças não transmissíveis, acrescentou Ghebreyesus.
Ameaça global
A OMS considera a poluição atmosférica como uma das ameaças ambientais mais graves à saúde humana, à semelhança das alterações climáticas, considerando urgente reduzir a exposição a partículas e gases poluentes, “a par de outros grandes riscos para a saúde, como uma dieta não saudável e o fumo de tabaco”. A organização das Nações Unidas para a saúde humana refere ainda que melhorar a qualidade do ar poderá ajudar a mitigar as alterações climáticas e vice-versa.

“As provas acumuladas são suficientes para justificar ações de redução da exposição da população a poluentes atmosféricos chave, não apenas em certos países ou regiões mas à escala global”, referiu a OMS.

Tanto as partículas PM10 e PM2.5 penetram profundamente nos pulmões, mas estas últimas podem até mesmo entrar na corrente sanguínea, causando primariamente problemas cardiovasculares e respiratórias, mas afetando igualmente outros órgãos. Para estas partículas, as referências padrão foram cortadas para metade.

“A poluição atmosférica é uma ameaça em todos os países, mas afeta mais gravemente pessoas dos países de médio e baixo rendimentos”, referiu Tedros Adhanon Ghebreyesus.
Doenças associadas
Em 2019, mais de 90 por cento da população mundial vivia em áreas onde a exposição ao PM2.5 a longo-prazo excedia as recomendações AQG da OMS de 2005. O Sudoeste Asiático é a região do planeta mais afetada.

Apesar da qualidade do ar ter melhorado de forma dramática nos países mais ricos desde os anos 90 do século XX, o custo global em vidas e de perda de anos de vida saudável mal desceu, à medida que o desenvolvimento económico de países mais pobres piorava a qualidade do ar.

Os poluentes atmosféricos podem afetar o crescimento e funções pulmonares em crianças e causar infeções respiratórias e asma grave. Nos adultos, doenças coronárias e AVC são as principais causas de morte prematura associadas.

Começam a surgir ainda provas de relação entre a diabetes e condições neuro-degenerativas e a poluição atmosférica, referiu a OMS.

As novas diretrizes foram anunciadas escassas semanas antes da conferência COP26 sobre o clima, marcada entre 31 de outubro e 12 de novembro em Glasgow., na Escócia.
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