OMS sem recursos para combater variante Delta. Há escassez de vacinas, oxigénio e máscaras

por RTP
Denis Balibouse - Reuters

A Organização Mundial da Saúde (OMS) precisa de um financiamento urgente de 11,5 mil milhões de dólares para combater a variante Delta do SARS-CoV-2, numa altura em que se receia que os países desenvolvidos estarão a negligenciar parte dos programas de combate à Covid-19. Perante a escassez de vacinas, medicamentos, oxigénio e máscaras em hospitais de países mais pobres, a OMS apela ainda a uma ajuda de 7,7 mil milhões para suprir estas necessidades das nações com menos recursos.

De acordo com um documento a que a Reuters teve acesso, parte do dinheiro que a OMS está a solicitar é necessária para a compra de testes, oxigénio e máscaras faciais para hospitais com menos recursos. Um quarto desse financiamento será, além disso, para comprar centenas de milhões de vacinas para os países mais pobres.

O referido documento, ainda sujeito a alterações, indica a Reuters, apresenta os resultados e as necessidades financeiras do Acelerador de Acesso a Recursos contra a Covid-19 (ACT-A), o programa co-liderado pela OMS para distribuir vacinas contra a Covid-19, medicamentos, oxigénio e testes de forma justa em todo o mundo.

Este programa foi criado no início da pandemia, contudo continua com financiamento insuficiente, visto que muitos Governos e paceiros da OMS continuam a tentar responder às necessidades e combater a Covid-10 "de maneira diferente", explicou uma autoridade do ACT-A à Reuters, sob condição de anonimato.

Continuando a ser subfinanciada, a iniciativa da OMS reduziu em quase cinco mil milhões de dólares o pedido total de financiamento, revela ainda o documento. A entidade precisa, no entanto, de 16,8 mil milhões, quase tanto quanto o que angariou até agora, e desses, 7,7 mil milhões são necessários com urgência.

De acordo com os dados disponibilizados, a OMS necessita, então, de 11,5 mil milhões com urgência para combater a variante Delta, 7,7 mil milhões para adquirir oxigénio, testes e máscaras faciais, e ainda 3,8 mil milhões de dólares para comprar 760 milhões de doses vacinas eficazes contra a covid-19.

"Essas necessidades de compra precisam ser efetuadas nos próximos meses ou as doses da vacina serão perdidas", alerta o documento.

Já na semana passada o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirmou que eram necessários 7,7 mil milhões de dólares com urgência, mas não divulgou os planos dos gastos e nem referiu quanto dinheiro extra era destinado à aquisição de vacinas.
Programa COVAX em risco?
Esta recente escassez de recursos financeiros pode, segundo a Reuters, pôr em causa o futuro a longo prazo deste programa do OMS, que se tem esforçado para garantir meios e equipamentos para combater a pandemia.

De facto, o projeto de doação de vacinas COVAX depende cada vez mais de doações dos países mais desenvolvidos, e não dos seus próprios meios, depois de o principal fabricante da Índia ter restringido as exportações de vacinas para aumentar as vacinações internas.

Outra das necessidades imediatas da ACT-A, referidas no documento, é o financiamento de 1,2 mil milhões de dólares para adquirir oxigénio para tratar doente com Covid-19 em países mais pobres, onde os stocks são reduzidos.

O oxigénio está na lista de prioridades da OMS porque as vacinas não estão disponíveis, explicou ainda o funcionário da ACT-A, destacando as percussões da escassez de vacinas à medida que a variantes Delta se espalha por 132 países.

Até agora, de facto, a COVAX entregou cerca de 180 milhões de vacinas, um valor muito aquém da sua meta de dois mil milhões até o final deste ano.

O oxigénio é necessário para "controlar os casos de morte exponencial causados ​​pela variante Delta", indica o documento.

A procura global pelo oxigénio medicinal é, atualmente, 12 vezes superior ao período antes da pandemia, segundo o documento, e são muitos os países que têm escassez de recursos para o adquirir.

A necessidade urgente de adquirir meios para um tratamento tão básico contra a covid-19, um ano e meio após o início da pandemia, revela que "não houve muitos progressos".

"O que era urgente há três meses ainda é urgente agora", sublinha a entdade. "A desigualdade no acesso às ferramentas contra a Covid-19 que salvam vidas nunca foi tão aparente".

Se nos países ricos, a maioria das pessoas já foi vacinada, nos mais pobres os grupos mais vulneráveis ​​ainda aguardam a primeira dose e faltam materiais básicos, como máscaras faciais e outros equipamento de proteção individual.

"A morte evitável e a pressão insustentável sobre os sistemas de saúde estão a aumentar em muitos países devido ao acesso insuficiente a oxigénio e EPI", conclui o documento.

A solicitação de financiamento por parte da OMS surge na mesma altura em que decorre uma revisão do ACT-A, sendo esperado um relatório sobre os resultados e incumprimentos do programa já no mês de setembro, realizado pela consultoria DalbergGlobal Development Advisors.
pub