Partygate. Novas fotografias de Boris Johnson em festa põem polícia em causa

por Carla Quirino - RTP
ITV News via Reuters

A credibilidade do inquérito da polícia sobre a saga Partygate pode ser abalada com a divulgação de diversas fotografias obtidas pela ITV News que mostram o primeiro-ministro britânico a fazer um brinde a 13 de novembro de 2020 num gabinete, encontro que tinha anteriormente negado.

Primeiro dado: o Reino Unido estava mergulhado no segundo confinamento pandémico e estava proibido o convívio de pessoas de diferentes famílias no mesmo espaço interior.

Segundo dado: fotografias de uma sala onde os copos e garrafas vazias em cima da mesa sugerem ambiente de festa.

E quem festeja? É o terceiro dado: as fotografias dadas a conhecer pela emissora britânica ITV News mostram Boris Johnson segurando um copo com pelo menos seis outras pessoas, em redor de uma mesa com várias garrafas de vinho vazias, biscoitos e batatas fritas. A reunião terá ocorrido para celebrar a despedida do então chefe de comunicação do primeiro-ministro, Lee Cain.
Operação Hillman
Desencadeado um inquérito pela Polícia Metropolitana britânica, a propósito de alegadas festas que terão acontecido no N.º 10 de Downing Street, foram apuradas indícios de "claras" de violações.

A investigação da polícia, conhecida por Operação Hillman, realizou-se com uma equipa de 12 agentes que estudou 510 fotografias e imagens de câmaras de segurança. Na semana passada, a Polícia Metropolitana encerrou a investigação.

A vice-comissária em exercício Helen Ball declarou que tinham sido emitidas 126 multas, incluindo uma dirigida a Johnson. A coima para o primeiro-ministro dizia respeito a um evento numa das salas do Número 10 onde teria festejado o seu aniversário a 19 de junho.

De acordo com a publicação britânica The Guardian, fontes de Westminster continuaram a afirmar que o primeiro-ministro tinha participado em várias reuniões que violaram as regras de distanciamento social. A decisão de fechar as investigações parecia sugerir que Johnson não havia violado nenhuma regra.

Agora que este conjunto de fotografias surge na comunicação social, o escrutínio policial pode sofrer um revés na credibilidade.
Novas fotos, mais festas, uma única multa
Se as mesmas fotografias já constavam na documentação inicial, "é ingénuo que a Polícia Metropolitana pense que a pessoa que forneceu as fotos não as forneceria tambem aos media, se a polícia decidisse não tomar medidas contra o primeiro-ministro nos outros eventos", observou Brian Paddick, membro da Câmara dos Lordes.

"O público vai querer saber de que mais provas a polícia precisava para dar ao primeiro-ministro um aviso de multa fixa, quando as fotos parecerem mostrar, além de qualquer dúvida razoável, que ele deveria ter recebido uma".

Desde o início da semana que a polícia se tem recusado a responder a perguntas sobre as festas no gabinete do Executivo.

O Gabinete Independente de Conduta Policial (IOPC, na sigla inglesa) foi instado a investigar por que razão Johnson não foi multado pelo evento.

ITV News via Reuters

Daisy Cooper, vice-líder dos Liberais Democratas, escreveu ao diretor-geral da instituição de vigilância da polícia, Michael Lockwood, a pedir esclarecimentos sobre a decisão do término do inquérito.

Em declarações ao Guardian, Cooper afirmou: "A Polícia Metropolitana até agora não ofereceu qualquer esclarecimento sobre o processo de tomada de decisão. Eles não estabeleceram os limites probatórios que usaram para determinar se as multas deveriam ser emitidas".

"O resultado dessa falta de transparência é que a divulgação de fotos como a do primeiro-ministro a beber em Downing Street, numa ocasião pela qual ele não foi multado, provavelmente criará uma considerável confusão pública", sublinhou.

"Em particular, é difícil entender por que alguns indivíduos, em particular membros mais jovens da equipa, que participaram das mesmas reuniões que o primeiro-ministro, receberam questionários e multas, enquanto o primeiro-ministro não", rematou Cooper.

Por sua vez, a vice-líder do Partido Trabalhista, Angela Rayner, acusou Johnson de mentir sobre partidos que violam as regras em Downing Street e disse que "rebaixou o seu cargo".

"É absolutamente claro que houve uma festa, que ele compareceu, que estava a brindar a um dos seus colegas", disse o legislador conservador Roger Gale à Times Radio. "E, portanto, ele enganou-nos".

Thangam Debonnaire, líder do Partido Trabalhista, disse à Sky News que o primeiro-ministro deveria "fazer a coisa decente" e renunciar. Isto porque, enquanto a sociedade civil estava a cumprir as regras, ele "divertia-se com os seus amigos".
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