A credibilidade do inquérito da polícia sobre a saga Partygate pode ser abalada com a divulgação de diversas fotografias obtidas pela ITV News que mostram o primeiro-ministro britânico a fazer um brinde a 13 de novembro de 2020 num gabinete, encontro que tinha anteriormente negado.
Primeiro dado: o Reino Unido estava mergulhado no segundo confinamento pandémico e estava proibido o convívio de pessoas de diferentes famílias no mesmo espaço interior.
Segundo dado: fotografias de uma sala onde os copos e garrafas vazias em cima da mesa sugerem ambiente de festa.
E quem festeja? É o terceiro dado: as fotografias dadas a conhecer pela emissora britânica ITV News mostram Boris Johnson segurando um copo com pelo menos seis outras pessoas, em redor de uma mesa com várias garrafas de vinho vazias, biscoitos e batatas fritas.
A reunião terá ocorrido para celebrar a despedida do então chefe de comunicação do primeiro-ministro, Lee Cain.
Operação Hillman
Desencadeado um inquérito pela Polícia Metropolitana britânica, a propósito de alegadas festas que terão acontecido no N.º 10 de Downing Street, foram apuradas indícios de "claras" de violações.
A investigação da polícia, conhecida por Operação Hillman, realizou-se com uma equipa de 12 agentes que estudou 510 fotografias e imagens de câmaras de segurança.
Na semana passada, a Polícia Metropolitana encerrou a investigação.
Agora que este conjunto de fotografias surge na comunicação social, o escrutínio policial pode sofrer um revés na credibilidade.
Novas fotos, mais festas, uma única multa
Se as mesmas fotografias já constavam na documentação inicial, "é ingénuo que a Polícia Metropolitana pense que a pessoa que forneceu as fotos não as forneceria tambem aos media, se a polícia decidisse não tomar medidas contra o primeiro-ministro nos outros eventos", observou Brian Paddick, membro da Câmara dos Lordes.
Desde o início da semana que a polícia se tem recusado a responder a perguntas sobre as festas no gabinete do Executivo.
O Gabinete Independente de Conduta Policial (IOPC, na sigla inglesa) foi instado a investigar por que razão Johnson não foi multado pelo evento.
ITV News via Reuters
Daisy Cooper, vice-líder dos Liberais Democratas, escreveu ao diretor-geral da instituição de vigilância da polícia, Michael Lockwood, a pedir esclarecimentos sobre a decisão do término do inquérito.
"O resultado dessa falta de transparência é que a divulgação de fotos como a do primeiro-ministro a beber em Downing Street, numa ocasião pela qual ele não foi multado, provavelmente criará uma considerável confusão pública", sublinhou.
"Em particular, é difícil entender por que alguns indivíduos, em particular membros mais jovens da equipa, que participaram das mesmas reuniões que o primeiro-ministro, receberam questionários e multas, enquanto o primeiro-ministro não", rematou Cooper.
Por sua vez, a vice-líder do Partido Trabalhista, Angela Rayner, acusou Johnson de mentir sobre partidos que violam as regras em Downing Street e disse que "rebaixou o seu cargo".
"É absolutamente claro que houve uma festa, que ele compareceu, que estava a brindar a um dos seus colegas", disse o legislador conservador Roger Gale à Times Radio. "E, portanto, ele enganou-nos".
Thangam Debonnaire, líder do Partido Trabalhista, disse à Sky News que o primeiro-ministro deveria "fazer a coisa decente" e renunciar. Isto porque, enquanto a sociedade civil estava a cumprir as regras, ele "divertia-se com os seus amigos".