Pequim engolida pela terceira tempestade de poeira em cinco semanas

por Graça Andrade Ramos - RTP
Uma habitante de Pequim arriscou sair à rua e circular dia 16 de abril de 2021, apesar dos avisos quanto a mais uma tempestade de poeira em cinco semanas Reuters

Tem estado a ser difícil circular e simplesmente respirar nas ruas de Pequim nas últimas horas, devido a tempestades de areia e de poeira oriundas da Mongólia e do nordeste da China, atingidas por uma grave seca. Os serviços meteorológicos chineses emitiram um alerta para quinta e sexta-feira, devido à tempestade que está a afetar áreas do norte do país com ventos ciclónicos, areia, chuva e neve.

Foi o terceiro aviso desde 15 de março, quando a pior tempestade numa década fez seis mortos, tendo sido seguida de outra igualmente grave a 28 de março.

Desta vez, a quantidade de poeira no ar é menor, mas os ventos sopram mais fortes. Até sexta-feira deverão levar mais rapidamente as partículas até à China central e de leste, de acordo com a Administração Meteorológica da China.

Na manhã de quinta-feira, devido ao terceiro ciclone do ano, múltiplas áreas da Mongólia Interior, uma região autónoma da China, foram afetadas por nuvens de areia empurradas por ventos de categoria nove, com a visibilidade a reduzir-se a menos de 300 metros. Os residentes de Pequim foram aconselhados a ficar em casa e quem saiu à rua debateu-se com rajadas violentas e poeirentas e chuva lamacenta. Nalgumas zonas registaram-se trovoadas.


As autoridades disseram às escolas e instituições de tempos livres para cancelarem as atividades exteriores.

Aulas de educação física, eventos de desporto ao ar livre e outras atividades sociais foram suspensas por questões de segurança.

Várias pessoas registaram o ambiente para a posteridade, mas os maiores problemas podem estar por vir.

Poluíção em níveis graves
A poluição elevou os níveis de PM10, micropartículas que quando inaladas provocam inúmeras doenças respiratórias e cardíacas graves, a 999 microgramas por metro cúbico. É quase duas vezes o estádio “perigoso” habitualmente indicado pelo índex em tempo real da poluição atmosférica de Pequim e muito acima do máximo indicado pela OMS. A Organização Mundial de Saúde recomenda níveis de 20 microgramas de PM10 por metro cúbico num período de 24h e alerta para a “relação quantitativa próxima entre a exposição a altas concentrações de micropartículas (PM10 e PM25) e o aumento de mortalidade de morbilidade, tanto diariamente como a longo prazo”.

“Não me sinto bem. Já tivemos várias tempestades de poeira este ano”, queixou-se Gary Zi, residente em Pequim onde trabalha no setor financeiro. “A qualidade do ar está muito pior do que noutros anos. É difícil respirar. A areia entra-nos nos olhos e no nariz”, acrescentou.

Penso que é das alterações climáticas”, afirmou outro residente, Xie, enquanto limpava a poeira do seu motociclo perto do China World Trade Center. “Não podemos fazer grande coisa”.

Mais de metade das tempestades de areia e de poeira que afetam a região da capital chinesa têm origem externa, a maioria do sul da Mongólia, e as autoridades de Pequim têm estado a plantar milhões de árvores ao longo da fronteira para as tentar bloquear, como parte do projeto “Grande Muralha Verde”.

Os resultados da iniciativa são para já imprevisíveis.
Investigação in situ
O Governo enviou entretanto para a Mongólia Interior uma equipa de especialistas em arborização e meteorologia, para investigar as causas e estudar respostas, referiu o Global Times.

Zhang Mingyng, meteorologista de Pequim que já trabalhou para os serviços meteorológicos oficiais, afirmou ao jornal que as tempestades estão a piorar.

Estão a ser mais frequentes este ano em comparação com anos anteriores. O grupo de especialistas vai tentar perceber em campo porque é que isto está a suceder, para saber se isto está ligado à região donde provém a poeira ou se há outros fatores a afetar o tempo”, referiu. A equipa junta especialistas da Administração Nacional de Florestas e Predarias da China (NFGA) e da Administração Meteorológica da China e já se encontra nas Prefeituras de Liga Alxa e da Liga Xilingol, na Mongólia Interior, para investigações locais.

O especialista sublinhou ao Global Times que as pesquisas deverão ter lugar sobretudo no Deserto de Badain Jaran e no Deserto de Tengger, os dois desertos em Alxa que afetam diretamente o tempo no nordeste e no norte da China.

A NFGA já disse que as tempestades que atingem com cada vez mais frequência Pequim e outras áreas da China se devem ao clima cada vez mais seco na Mongólia e no nordeste do país, que tende a soltar o solo, o qual se transforma em poeira e em areia, que rapidamente são levantadas e levadas pelos ventos.
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