Plano de paz. Trump apresentou solução de dois Estados com Palestina ausente

por RTP
O primeiro-ministro palestiniano acusou Trump e Netanyahu de estarem a usar o acordo como uma manobra de diversão numa altura de instabilidade para ambos Joshua Roberts - Reuters

O Presidente dos Estados Unidos apresentou, esta terça-feira, os contornos do novo plano de paz no Médio Oriente. Apresentando a sua "visão", Donald Trump defendeu uma "solução realista" de dois Estados e anunciou que Jerusalém "permanecerá capital indivisível de Israel". Trump reconheceu ainda a soberania israelita nos colonatos. De fora das negociações e ausente na cerimónia esteve a Palestina, que rejeitou o acordo mesmo antes de serem revelados os detalhes.

“Hoje, Israel dá um grande passo em direção à paz”, começou por dizer Donald Trump na cerimónia de apresentação do plano de paz para o Médio Oriente, na Casa Branca.

Apresentando o seu ponto de vista, o Presidente dos Estados Unidos defendeu uma “solução realista” de dois Estados em Israel, “que abarca o risco que um estado palestiniano representa para a segurança de Israel".

Donald Trump argumenta que esta solução “dá aos palestinianos o tempo de que precisam para implementar e enfrentar os desafios do estatuto de Estado”. Numa carta enviada ao presidente da Autoridade Nacional Palestiniana, Mahmoud Abbas, Trump explica que o plano exige um congelamento na construção de novos colonatos israelitas por um período de quatro anos, permitindo à Palestina consolidar o seu Estado.

“Durante esse período, os palestinianos podem usar todas as deliberações apropriadas para estudar o acordo, negociar com Israel, alcançar os critérios de Estado e tornar-se um Estado verdadeiramente independente e maravilhoso”, disse Donald Trump.

O presidente dos Estados Unidos acrescentou, por sua vez, que a criação de um Estado palestiniano fica condicionada a “uma clara rejeição do terrorismo”.

Durante o seu discurso, Donald Trump reconheceu ainda a anexação de colonatos israelitas em território palestiniano, admitindo que Israel terá soberania no Vale do Jordão.
Jerusalém, o ponto sensível do conflito
O presidente norte-americano anunciou, de seguida, que Jerusalém “permanecerá capital indivisível de Israel”. Trump lembrou que os EUA já tinham assumido essa condição quando transferiram a embaixada dos EUA em Israel para Jerusalém.

O estatuto de Jerusalém sempre foi um dos pontos mais sensíveis do conflito israelo-palestiniano, sendo reivindicada como capital tanto por Israel como pela Palestina.

Como solução para esta questão, o plano de paz designa Jerusalém Oriental como capital da Palestina, “onde os EUA implementarão, orgulhosamente, uma embaixada”, declarou Donald Trump.

“Presidente Abbas, quero que saiba que caso escolha o caminho para a paz, os EUA e muitos outros países irão apoiá-lo”, disse Trump, sublinhando que esta pode ser a “última oportunidade” para os palestinianos.
Ausência da Autoridade Palestiniana
Ao lado de Donald Trump nesta terça-feira, bem como nos encontros para negociações do plano de paz, esteve Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro israelita. As lideranças palestinianas, por sua vez, não marcaram presença durante a cerimónia, levantando todas as dúvidas sobre a eficiência do plano.

A Autoridade Palestiniana já se tinha ausentado no encontro desta segunda-feira, tendo inclusivamente Mahmoud Abbas rejeitado as chamadas telefónicas do Presidente dos Estados Unidos.

O primeiro-ministro palestiniano, Mohammad Shtayyeh, acusou Trump e Netanyahu de estarem a usar o acordo como uma manobra de diversão numa altura de instabilidade para ambos.

“Este plano serve agora para proteger Trump de ser destituído e proteger Netanyahu de ir para a cadeia - e não, não é um plano de paz”, declarou Shtayyeh. Donald Trump enfrenta um processo de impeachment por abuso de poder e Netanyahu arrisca pena de prisão efectiva caso seja condenado em vários casos de corrupção. Horas antes do anúncio do acordo, Benjamin Netanyahu foi acusado formalmente de corrupção pela justiça israelita.

“Nós rejeitamos esse plano e pedimos à comunidade internacional para não participar nisto, já que contradiz os fundamentos do direito internacional e os direitos inalienáveis dos palestinianos”, disse o primeiro-ministro palestiniano na segunda-feira.

Esta terça-feira, o presidente da Autoridade Nacional Palestiniana disse que o plano de paz apresentado por Trump se trata de uma “conspiração”. O movimento palestiniano Hamas também rejeitou o plano, apelidando-o de “agressivo” e “sem sentido”.

À conta da decisão de Trump de avançar apenas com a parceria israelita, Abbas deixou já claro que os norte-americanos não voltarão a ser vistos como um negociador honesto.
Netanyahu e o seu “melhor amigo” Trump
Ao contrário da Palestina, Israel congratulou-se com o plano de paz que considera ser “excecional”.

Discursando a seguir a Trump, Netanyahu disse que este é “um dia histórico” em que se delineou um “caminho realista para uma paz duradoura”.

“É um grande plano para Israel, é um grande plano para a paz. Francamente, Senhor Presidente, dado tudo o que já fez por Israel, eu não estou surpreendido. Tem sido o melhor amigo que Israel alguma vez teve na Casa Branca”
, afirmou o primeiro-ministro israelita.

Netanyahu agradeceu ainda a Trump por reconhecer a soberania de Israel sobre o Vale do Jordão e partes da Judeia e Samaria (Cisjordânia), onde se encontram os colonatos judeus. Este reconhecimento é, salientou Netanyahu, essencial para a segurança israelita.

“Pela primeira vez em muitas décadas eu posso dizer: vai resultar”, declarou o Presidente norte-americano, sublinhando que se trata de um plano “histórico”.

Na opinião de Trump, o acordo – que foi trabalhado nos últimos três anos pelo seu genro, Jared Kushner, conjuntamente com outros dois elementos da Administração Trump – é “o mais arrojado”, argumentando que soluções anteriores falharam no passado por serem “muito leves”.
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