"Podiam ter feito um acordo". Trump culpa Ucrânia pela guerra com a Rússia

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Kevin Lamarque - Reuters

O presidente norte-americano culpa a Ucrânia pela guerra com a Rússia, afirmando que Kiev "podia ter feito um acordo". Donald Trump criticou duramente o seu homólogo ucraniano, afirmando estar "desapontado" com o facto de Volodymyr Zelensky ter condenado a reunião entre Washington e Moscovo sem a presença de Kiev.

Em conferência de imprensa na sua residência em Mar-a-Lago, na Florida, Donald Trump teceu duras críticas a Volodymyr Zelensky, que criticou a reunião que decorreu na terça-feira entre os EUA e a Rússia, na Arábia Saudita, denunciando o que considera serem discussões “sobre a Ucrânia sem a Ucrânia”.

"Estou muito desapontado" com estas declarações, respondeu Donald Trump, insinuando de seguida que a Ucrânia é responsável pela guerra com a Rússia.

"Hoje ouvi dizer não fomos convidados. Bem, vocês [Ucrânia] estão lá há três anos. Deviam ter acabado com isto há três anos. Nunca o deviam ter começado", disse Trump, acrescentando que a Ucrânia “podia ter feito um acordo” para evitar a guerra.


Trump aumentou também a pressão sobre Zelensky para realizar eleições – ecoando uma das principais exigências de Moscovo.

Tal como Vladimir Putin, Trump também levanta dúvidas sobre a atual legitimidade de Zelensky para representar os ucranianos à mesa das negociações, uma vez que o mandato expirou em maio do ano passado e, desde então, não convocou eleições. A Ucrânia está sob a lei marcial desde o início da ofensiva russa e a Constituição ucraniana proíbe a realização de eleições enquanto se encontrar em vigor esta lei.

"Temos uma situação em que não houve eleições na Ucrânia, em que temos essencialmente lei marcial e em que o líder da Ucrânia - lamento dizê-lo - mas tem 4% de votos favoráveis", respondeu Trump quando questionado se Washington apoiaria a realização de eleições em Kiev.

O presidente norte-americano acusou ainda a Ucrânia de desvios da ajuda norte-americana desde o início do conflito.

"O presidente Zelensky disse-me na semana passada que não sabia onde estava metade do dinheiro que lhes tínhamos dado", afirmou Trump.
Trump “muito mais confiante” num acordo com a Rússia
Apesar disso, o presidente dos EUA disse estar “muito mais confiante” num acordo com a Rússia, afirmando que as conversações de terça-feira foram “muito boas”. "Acho que tenho o poder de acabar com esta guerra", disse Trump.

"A Rússia quer fazer alguma coisa. Querem acabar com a barbárie selvagem", afirmou Trump sem especificar.

Questionado sobre um possível encontro com o presidente russo antes do final do mês, Donald Trump limitou-se a acenar com a cabeça e a responder: "provavelmente".

O Kremlin também adiantou que Putin e Trump poderão encontrar-se antes do final de fevereiro, embora reconheça que um encontro entre os dois líderes demore a preparar.

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que as conversações entre Washington e Moscovo realizadas na terça-feira foram “um passo muito, muito importante” para um “acordo pacífico”.

"Foi dado um passo muito, muito importante para criar condições para uma solução pacífica", disse o porta-voz do Kremlin, segundo as agências russas. "Ambos os lados demonstraram a vontade política necessária, ou seja, a Rússia e os Estados Unidos", acrescentou.

Entretanto o enviado especial de Donald Trump, Keith Kellogg chegou esta quarta-feira a Kiev e traz na bagagem as “preocupações” que saíram do encontro entre Russia a Estados Unidos.

À chegada Keith Kellogg garantiu compreender as preocupações ucranianas, mas a missão é obter respostas por parte de Zelensky para depois as fazer chegar a Trump e ao representante russo, para ver “se desta vez” se acerta.
Representantes de Washington e Moscovo estiveram reunidos em Riade, Arábia Saudita, na terça-feira. Nas conversações, os EUA e a Rússia concordaram em formar equipas de “alto nível” para negociar os termos do fim da guerra, excluindo a Ucrânia e os países da Europa deste processo.

Em resposta, França convocou uma segunda reunião para discutir o conflito na Ucrânia e a segurança europeia para esta quarta-feira, alargando o convite aos países europeus que não estiveram presentes no encontro de segunda-feira, assim como ao Canadá, aliado e membro da NATO.

c/ agências
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