Forças da ordem usaram a força para retirar do ministério do Ambiente, em Beirute, dezenas de jovens ativistas que tinham de manhã ocupado as instalações, sentando-se pacificamente num corredor junto ao gabinete do ministro, Mohammad Machnouk.
"Continuaremos!", "Revolução!", "A nossa vontade é a mais forte", foram algumas das palavras de ordem gritadas pela multidão fora do Ministério.
A campanha de cidadãos "Vocês Tresandam", que dirige o movimento de protesto contra a crise de recolha do lixo que dura há mês e meio, afirma que vários dos seus apoiantes foram "espancados" pela polícia anti-motim durante a evacuação forçada do Ministério.
Na sua página Facebook, o movimento afirma que um dos organizadores, "Lucien Bourjeily e um grupo de jovens participantes no sit-in foram espancados (durante a retirada forçada) e estão incomunicáveis".
A Cruz Vermelha libanesa afirma que "tratou no local 15 pessoas retiradas pela polícia, um por asfixia e 14 por pancadas" recebidas. Um décimo-sexto ferido foi hospitalizado e tratar-se-á de Lucien Bourjeily.
"Fora Machnouk!"
Os organizadores do protesto tinham exigido a demissão do ministro do Ambiente, Mohammad Machnouk, até às 19h00 locais (16h00 GMT). A operação de retirada forçada coincidiu com o fim do prazo. Machnouk estaria dentro do Ministério na altura do protesto, ouvindo os manifestantes gritar "Fora! Fora! Machnouk fora!", durante horas.
Outra palavra de ordem usada durante o sit-in ecoou o nome do movimento, "vocês tresandam!". Os manifestantes cantaram ainda o hino nacional do Líbano e gritaram "pacífico, pacífico!", para indicar a natureza do protesto.
Um membro dos serviços de segurança explicou à Agência France Presse (AFP) que os jornalistas que estavam a acompanhar a manifestação foram primeiro retirados do local e só depois se efetuou a retirada forçadas dos ativistas.
No ministério permaneceram 14 manifestantes após a evacuação forçada das instalações.
"O ministro do Interior, Nouhad Machnouk, enviou um emissário para negociar com eles mas eles afirmaram que só sairiam algemados", acrescentou a mesma fonte.
Este último grupo foi retirado cerca de duas horas depois da evacuação do ministério.
Ministro não se demite
O protesto contra a crise do lixo inclui-se num movimento geral libanês contra a corrupção. Iniciou-se após o encerramento da maior estação de tratamento de lixo do Líbano em meados de julho e o consequente acumular de lixo nas ruas.
"O lixo está diante de todas as casas. Quem é o responsável por esta situação? É ele, o ministro do Ambiente que assume esta responsabilidade", afirmou o militante Marwan Maalouf, citado pela AFP.
De acordo com uma fonte próxima do primeiro-ministro Tammam Salam, o ministro Mohammad Machnouk não deverá ser afastado, embora possa abandonar a comissão ministerial criada para tratar da crise do lixo.
Oficialmente o governo não reagiu aos protestos e reivindicações nas ruas. Sábado, uma manifestação organizada na Praça do Mártires no centro de Beirute, reuniu dezenas de milhares de pessoas no maior protesto anti-Governo desde o início da crise.
A multidão acusou a classe política de ser cúplice da corrupção.
Eleições adiadas
O protesto desta terça-feira prova a escalada dos protestos de uma população aparentemente farta com o que considera corrupção endémica, disfuncão do Estado e paralisação das instituições públicas.
Por duas vezes desde 2009 os deputados libaneses prolongaram os seus próprios mandatos devido a divisões políticas. Mostram-se ainda incapazes de eleger um Presidente da República, cargo vago desde maio de 2014.
Os manifestantes contra a crise do lixo exigem também a realização de eleições legislativas.
O presidente do Parlamento, Nahib Berri, apelou a um encontro de diálogo com os dirigentes do movimento, dia 9 de setembro, mas os militantes rejeitaram o convite afirmando que se trata de uma forma de desviar a atenção das suas reivindicações.