Presidenciais de Novembro. Trump perde para Biden com fuga do voto das mulheres brancas

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Brian Snyder - Reuters

Donald Trump poderá estar a perder um dos seus trunfos que lhe permitiram chegar à presidência dos Estados Unidos. Cada vez mais mulheres brancas licenciadas, antigas apoiantes de Trump, admitem alterar a sua intenção de voto em novembro. Segundo as sondagens, o presidente norte-americano está a perder vantagem neste grupo eleitoral em Estados considerados decisivos nas eleições.

Homens brancos da classe operária podem ter sido os impulsionadores da vitória de Donald Trump nas eleições de 2016, mas há um outro grupo-chave para esse triunfo: as mulheres brancas com um diploma universitário.

Depois de terem favorecido Barack Obama em 2008 e 2012, este grupo de eleitores votou em massa e ajudou Trump a alcançar o número de votos necessário para chegar à presidência.

Quatro anos depois das últimas eleições, há sinais de que Trump perdeu o apoio deste grupo eleitoral, o que poderá prejudicar a sua desejada vitória nas eleições que decorrem a 3 de novembro.

“Se eu votasse novamente em Donald Trump em 2020, seria não só um fracasso enquanto americana, mas também enquanto ser humano”
, disse Claudia Luckenbach-Boman a The Guardian.

“Eu realmente falhei para com os meus concidadãos americanos. Estou extremamente dececionada comigo mesma e às vezes tenho medo de falar sobre isso”, acrescentou.

Em novembro de 2016, Claudia Luckenbach-Boman era uma estudante universitária de 19 anos que votava pela primeira vez. Proveniente de uma família republicana, Luckenbach-Boman explica que votou em Trump porque acreditava que era a mudança que os EUA precisavam.

Com apenas alguns meses da sua presidência, percebi que o maior erro que cometi como cidadã americana foi não me ter informado”, admitiu a jovem, atualmente com 23 anos.

A intenção de voto de Claudia Luckenbach-Boman não será certamente a mesma de há quatro anos. A jovem norte-americana disse ao jornal britânico que em novembro votará em Joe Biden, o rival democrata de Trump.
Eleitoras podem impulsionar Biden à vitória
Claudia Luckenbach-Boman não é a única votante do sexo feminino a alterar a sua preferência de voto. As mais recentes sondagens colocam Joe Biden na liderança, com 15 por cento de vantagem sobre Trump, e os votos das mulheres brancas com formação universitária poderão estar a ser decisivos. Em 2016, Trump já perdia terreno entre este grupo eleitoral, mas a vantagem de Hillary Clinton era de apenas sete por cento. Em junho deste ano, uma sondagem do New York Times colocou Trump atrás de Biden neste campo em 39 por cento.

Para além disso, muitas destas eleitoras votarão em Estados decisivos que habitualmente determinam o resultado das eleições e onde Biden já leva vantagem sobre Trump em seis deles. No Wisconsin e no Michigan, as pesquisas colocam Biden à frente de Trump em 6,4 por cento e 8,4 por cento, respetivamente. Na Pensilvânia, Estado onde Biden nasceu e onde Trump liderava, o democrata está também a conquistar antigos eleitores do atual presidente norte-americano.

Tendo em conta a reviravolta de 2016, com Trump a contrariar todas as sondagens que lhe negavam a vitória, os democratas permanecem cautelosos. No entanto, as pesquisas sugerem que, a menos de 100 dias do dia que marca a ida às urnas, mesmo os Estados tradicionalmente republicanos não estão fora do alcance dos democratas.

Assim como Claudia Luckenbach-Boman, muitas ex-apoiantes de Trump estão desapontadas com a liderança de Trump, com as promessas que não cumpriu, e esperam a vitória de Biden em Novembro.

“Eu só me quero desculpar ao mundo”, disse Julie ao jornal britânico. “Sinto-me tão culpada por ter feito parte desse voto idiota”, acrescentou, justificando que a sua intenção de voto foi uma combinação de preocupação com a área da saúde e a desconfiança relativamente a Clinton.

“Estou corroída de culpa”, disse Monica Rey Haft, advogada que mora nos arredores de Dallas. “Eu sei que não foi o meu voto sozinho que o pôs lá, mas eu acho que no caso de muitos dos republicanos foi falta de informação, era nojo e desdém por Hillary Clinton e as suas políticas e eu lamento isso. Arrependo-me de não estar mais informada”, lamentou a ex-apoiante de Trump.

Mesmo perante os comportamentos de Trump antes e durante as eleições, Rey Haft confiou o seu voto no candidato republicano, acreditando que o presidente dos EUA mudaria de atitude. “Eu pensei que ele se ia comportar como um ser humano, que iria mudar”, afirmou a norte-americana.

“Passados uns dias, provavelmente foram vários tweets ou alguma coisa que eu ouvi ele dizer e pensei: ‘Meu Deus. Isto é quem esta pessoa é’. E pensei imediatamente que ele não seria adequado”, confessou Rey Haft.
Pandemia prejudica Trump
As sucessivas decisões controversas de Trump durante a pandemia de Covid-19 também não têm favorecido a imagem do presidente.

Nancy Shively, professora nos arredores de Tulsa, não esconde o seu desagrado relativamente à política de Trump. “Donald Trump é claramente um ser humano defeituoso. Ele é incapaz de demonstrar qualquer tipo de empatia com alguém que não seja ele próprio”, lamentou Shively.

Com 61 anos e duas doenças auto-imunes, Shively está particularmente preocupada com as intenções da Administração Trump de reabrir as escolas apesar de o país ter vindo a registar um aumento contínuo do número de casos.

“Por mais envergonhada que esteja por ter votado em Trump, se eu tiver de voltar para a sala de aula, o facto de eu ter votado nele e de ele ter sido um desastre ao lidar com o vírus, esse voto pode significar que eu não vou sobreviver”, disse Shively.

“Há uma linha reta entre a sua eleição e os 140 mil americanos mortos que podiam não ter morrido. Isto deixa-me profundamente triste e arrependida”, lamentou a professora.

Os EUA são o país mais afetado pela pandemia em todo o mundo. Dos cerca de 16 milhões de infetados em todo o mundo, mais de quatro milhões são norte-americanos. O país regista ainda perto de 150 mil mortos.
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