Presidente deposto da Guiné-Bissau chegou "são e salvo" ao Senegal

Umaro Sissoco Embaló, deposto na quarta-feira por um golpe militar, chegou ao Senegal a bordo de um avião fretado por este país.

RTP /
Umaro Sissoco Embaló em fevereiro de 2025 em Moscovo, na Rússia. Foto: Kristina Kormilitsyna - Reuters

O presidente deposto da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, chegou na quinta-feira ao Senegal a bordo de um voo especial, após intervenção do líder regional do bloco da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO).A informação foi confirmada pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros do Senegal em comunicado citado pela agência Reuters. 

A decisão da retirada foi tomada após o presidente senegalês, Bassirou Diomaye Faye, ter participado numa cimeira extraordinária da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) marcada virtualmente para analisar a situação na Guiné-Bissau.

Os militares assumiram na quarta-feira o "controlo total" do país, antes ainda de serem divulgados os resultados das eleições de 23 de novembro. Entretanto, os general Horta Inta-A foi empossado presidente de transição numa cerimónia que decorreu no Estado-Maior General das Forças Armadas guineense.

O candidato Fernando Dias, que reclama vitória nas eleições de domingo, condenou entretanto o golpe militar no país e pediu à comunidade internacional para "fazer valer a democracia na Guiné-Bissau, não a ditadura".

"Nós condenamos este golpe de Estado, nós condenamos o comportamento do [presidente cessante e recandidato] Umaro Sissoco Embaló. Ele não é democrata, é um ditador e nós não podemos admitir que uma situação do género aconteça, porque vai-se repetir mais vezes", alertou em declarações à Lusa.
Guiné-Bissau: golpe ou farsa?
Na altura, Fernando Dias dizia aguardar "medidas" a sair das reuniões da CEDEAO e da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) convocadas para quinta-feira sobre a situação da Guiné-Bissau. "Nós estamos a pedir a toda a comunidade internacional no sentido de fazer valer a democracia na Guiné-Bissau, não a ditadura", apontou, deixando ainda uma nota de esperança nas posições da União Africana, da União Europeia e das Nações Unidas.

Fernando Dias declarou à Lusa a sua convicção de que não existiu um golpe de Estado na Guiné-Bissau: "O candidato Umaro Sissoco Embaló percebeu que não tem condições para ganhar as eleições. É óbvia a tentativa de alterar resultados a partir das comissões regionais das eleições, onde enviou policiais armados".

O candidato apontou a tentativa de falsear os resultados em várias regiões, o que não aconteceu fruto da ação de pessoas do povo e de representantes da sua candidatura, ao que se seguiram tentativas no mesmo sentido na Comissão Nacional de Eleições, em Bissau, também aí sem sucesso.

"Como não conseguiram, então o Sissoco compreendeu que já não tem outra saída a não ser arrumar as botas e ir para a sua residência. Então preferiu transferir o poder para os militares com a simulação do golpe de Estado", declarou Fernando Dias, falando por telefone a partir de um local seguro, após ter conseguido escapar de polícias armados que invadiram a sua sede da campanha na quarta-feira.
Simões Pereira detido em Bissau e incontactável
Fernando Dias denunciou ainda a situação do líder do PAIGC, Domingos Simões Pereira, alegadamente detido na segunda esquadra de Bissau: "Não está bem", disse, sublinhando que se encontra incontactável e sem acesso a medicação.

Afirmando desconhecer "o que está a acontecer de concreto" com o seu apoiante (Domingos Simões Pereira viu a sua candidatura excluída pelo Supremo Tribunal), Fernando Dias contou que na quarta-feira, quando a sua sede de campanha foi invadida, no "puxa-puxa" foram ajudados por elementos da juventude e conseguiram escapar por uma porta traseira.

"Estávamos juntos com o Domingos Simões Pereira e, de repente, (...) fomos para direções diferentes (...) e ele foi parar na Base Aérea, pensando que lá ia ter maior segurança (...). Mas o tio do Embaló que é comandante (na base) (...) soube e pegaram o Domingos e levaram-no para a segunda esquadra", relatou.

"Neste momento, o Domingos não está bem na segunda esquadra porque não está a ter acesso aos familiares, a visitas e está a ter problemas de tomar remédios três vezes por dia e nós não sabemos o que está a acontecer de concreto", disse, afirmando que também lhe foi retirado o telefone.

Segundo Fernando Dias, por ordens de Sissoco Embaló, foi retirada a segurança aos candidatos e líderes políticos.

"Não temos nem segurança de Estado e nem segurança da CEDEAO (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental), que está no país. Nós estamos com a segurança privada, que são os militantes do nosso partido (...), por isso é que escolhemos o lugar certo onde eu estou neste momento", declarou.

c/ Lusa
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