Da preocupação ao embaraço, os círculos políticos da Bélgica procuram ainda digerir a estadia do presidente destituído do Governo catalão e de cinco dos seus consellers em Bruxelas, a cidade-sede dos diretórios da União Europeia. Esta manhã o vice-primeiro-ministro belga, Kris Peeters, saiu a público para opinar que Carles Puigdemont deveria ter ficado em Barcelona.
Ouvido na manhã desta terça-feira pela estação pública belga VRT, o vice-primeiro-ministro não quis estender-se nos comentários sobre a chegada de Carles Puigdemont, na véspera, ao país, escusando-se a “adiantar acontecimentos”, como observou a correspondente do jornal catalão La Vanguardia em Bruxelas.
No primeiro dia em solo belga – já depois de a Procuradoria espanhola o ter acusado de rebelião, sedição e desvio de fundos públicos – Puigdemont encontrou-se com Paul Bekaert, advogado belga especializado em Direitos Humanos que passou as últimas três décadas a defender membros da ETA que demandaram a Bélgica. O que fez crescer a especulação em torno de um eventual pedido de asilo.
Se vier a fazê-lo, o chefe destituído da Generalitat poderá tornar-se a semente de uma verdadeira crise diplomática a três: Espanha, Bélgica e a própria União Europeia, em particular com o seu braço executivo, a Comissão Europeia.
Psst. @KRLS en la sede del @EUPARTYEFA pic.twitter.com/Q9kROGGPbP
— Miquel Roig (@miquelroig) 31 de outubro de 2017
As primeiras imagens em Bruxelas: Carles Puigdemont foi repetidamente questionado por jornalistas sobre o que tenciona fazer. Remeteu para a conferência de imprensa.
Outro cenário, escreve a imprensa espanhola, poderia passar por uma mera tentativa de ganhar tempo, após o desencadear do processo por parte da Fiscalía em Madrid, e, em simultâneo, fazer a “internacionalização” da aplicação do artigo 155 da Constituição de Espanha, que enquadrou a suspensão do estatuto autonómico catalão – um objetivo enunciado por um assessor parlamentar do PDeCAT (Partido Democrático Europeu Catalão), de Puigdemont.
“Está em jogo a credibilidade do país”
O facto é que o incómodo belga é nesta altura palpável desde os órgãos do poder executivo até às fileiras da oposição.
Logo na segunda-feira Gwendolyn Rutten, número um da Open-VLD, a formação liberal flamenca que integra a complexa aliança governativa belga, instava o Governo a deixar “os conflitos externos onde eles pertencem, no exterior”. Da N-VA, formação soberanista, saiu a mensagem clara de que não houve qualquer convite endereçado a Carles Puigdemont e demais comitiva de conselheiros catalães afastados por força do artigo 155.
À cabeça da oposição, o líder socialista Elio Di Rupo, francófono, considerou “urgente” que o primeiro-ministro, Charles Michel, “dê explicações”, dado que “está em jogo a credibilidade do país”.
De acordo com Michel, um eventual reconhecimento – ou não – da independência catalã é um tema fora da mesa do Governo belga, assim como uma possível concessão de asilo a Puigdemont. Pese embora mantenha uma linha de condenação da violência ocorrida durante o referendo independentista, a 1 de outubro, e de apelo ao diálogo.
Por seu turno, o chefe da diplomacia espanhola, Alfonso Dastis, afirmou já esta manhã à rádio Cadena SER que uma concessão de asilo seria “surpreendente”: “Não seria uma situação de normalidade”.
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