Quatro detidos de Barcelona acusados de assassinatos terroristas

por RTP
Juan Medina - Reuters

A Procuradoria-geral espanhola pediu esta tarde a pena de prisão preventiva sem fiança para os quatro suspeitos dos atentados da Catalunha. Fonte judicial revelou que vão ser acusados de homicídios de cariz terrorista. Os quatro testemunharam esta terça-feira pela primeira vez perante o juiz instrutor Fernando Andreu, à porta-fechada.

Dois dos quatro reconheceram algum envolvimento com os membros da célula terrorista responsável pelos atentados que quinta-feira passada abalaram as Ramblas, em Barcelona, e a localidade balnear de Cambrils, seis horas depois.

Em ambos os casos, os terroristas usaram veículos para tentar atropelar quem passeava em zonas pedonais.

Os quatro, Mohamed Houli Chemlal, Dris Oukabir, Salah El Karib e Mohamed Aallaa, foram detidos imediatamente antes ou logo depois dos atentados.

Esta terça-feira, chegaram cerca das oito e meia da manhã à sede do Tribunal, acusados de quatro crimes: de pertencer a uma organização terrorista, assassinato, estragos e posse de explosivos.

Todos os crimes se relacionam com uma célula terrorista liderada por um imã, de Ripoll, onde viviam e que os terá radicalizado.

As investigações da polícia prosseguem agora em Vilafranca del Penedès, a cerca de 15 quilómetros de Subirats, onde foi morto o condutor da carrinha usada no atentado de Barcelona, e em Ripoll, onde terão sido encontrados novos indícios de atividade terrorista.

Um outro fio de pesquisa está a ser seguido em Marrocos, onde foi detido um indivíduo com relações com os presumíveis autores dos atentados em Barcelona e Cambrils.
Imã queria imolar-se
Um dos acusados, Mohamed Houli Chemlal, afirmou mesmo que o imã, Abdelbaki es Satty, era o grande responsável pela operação e que queria imolar-se.

O imã terá morrido na noite de quarta-feira ou às primeiras horas de quinta-feira, quando preparava bombas numa casa em Alcanar, a 200 quilómetros de Barcelona.

A sua morte e a perda da maioria do material explosivo, terão levado os restantes membros da célula a modificar a estratégia de ataque e os alvos, levando-os a atacar as Ramblas e depois Cambrils.

Cinco membros da célula morreram precisamente em Cambrils, abatidos por agentes dos Mossos de Esquadra, a polícia catalã.

Já o condutor da carrinha que atropelou dezenas de pessoas nas Ramblas, identificado como Younes Abouyaaqoub, de 22 anos, foi abatido a tiro segunda-feira, depois de andar fugido durante o fim de semana com a cabeça a prémio.
Alvo era a Sagrada Família
A grande revelação do dia coube a Mohamed Houli Chemlal, o alegado terrorista que ficou ferido na casa de Alcanar, na noite anterior aos atentados de Barcelona.

Chemlal afirmou esta terça-feira em tribunal que a ideia inicial do atentado era atacar a igreja da Sagrada Família, um ícone de Barcelona idealizado por Gaudí, além de outros monumentos.
Chemlal foi ouvido durante quase uma hora e meia em Madrid e confirmou as suspeitas das autoridades de como estava a ser planeado um atentado "de maior alcance", segundo o jornal espanhol El Mundo.
Mohamed Chemlal - 21 anos - indicou ainda como eram fabricadas as bombas e como conseguiram os materiais para as produzir, identificando ainda outros membros da célula jihadista que organizava o atentado.

Mohamed Houli Chemlal tinha ficado ferido na explosão da casa em Alcanar, em Tarragona, na passada quinta-feira, onde os terroristas preparavam explosivos para o que se julgava ser um plano mais ambicioso de ataque em Barcelona e que agora se veio a confirmar.

O testemunho de Chemlal terá sido crucial para entender o modo de funcionamento e a estratégia da célula terrorista dos atentados da Catalunha, que causaram 15 mortos e mais de 100 feridos. 

A Procuradoria-Geral espanhola pediu ainda que fosse aplicada pena de prisão para Mohamed Houli Chemlal, o primeiro suspeito a ser ouvido esta terça-feira.

Já o advogado de defesa de Mohamed Houli Chemlal pediu que o suspeito saísse em liberdade condicional.
Carrinhas alugadas para mudanças
Houli Chamlal foi o primeiro dos quatro suspeitos a ser ouvido esta tarde. O segundo foi Dris Oukabir, de 28 anos, cujo passaporte foi encontrado na carrinha usada no atentado das Ramblas e que tinha sido alugada em seu nome.

Oukabir foi detido pela polícia após os atentados e começou por dizer que um seu irmão mais novo, Moussa de 17 anos e um dos homens abatido pela polícia em Cambrils, lhe tinha roubado o passaporte para alugar as carrinhas usadas pelos terroristas.

Esta terça-feira, contudo, Oukabir mudou o depoimento e admitiu ter sido ele mesmo a alugar duas carrinhas, afirmando que mentiu de início "por medo" e que desconhecia o uso que seria dado aos veículos.

De acordo com fontes judiciais citadas pelo jornal El Mundo, Oukabir afirmou assim ao juiz que lhe pediram ajuda para conseguir a carrinha de modo a levar alguns móveis até um apartamento para onde três membros da célula se iam mudar.

O suspeito também identificou o imã, es Satty, como o ideólogo do grupo mas referiu apenas que o via sempre "rodeado de jovens". Negou ainda que tivesse viajado com outros membros da célula até Paris, cinco dias antes dos atentados, referindo que o seu destino foi Marrocos por assuntos não relacionados com os atentados.

Oukabir apresentou-se diante do juiz com roupas sujas, desalinhado e de aspecto cansado, afirmaram ao La Vanguardia fontes judiciais. O suspeito quis saber apenas em que prisão iria ficar detido, se ali ficaria seguro e pediu para avisarem a sua namorada sobre o que lhe estava a suceder.

À semelhança de Chamlal, o Ministério Público também pediu pena de prisão para Oukabir, que já tinha cadastro num caso de abuso sexual.
Célula com 12 elementos
Depois de Dris Oukabir foram ouvidos Mohamed Aallaa, de 27 anos e Salah El Karib, de 34 anos, ouvidos cada um durante apenas meia hora por Fernando Andreu.

Aallaa, dono do Audi A3 usado em Cambrils, reconheceu a propriedade do veículo mas afirmou não ser ele quem o conduzia habitualmente.

Já El Karib, gerente de loja, reconheceu que empresta habitualmente o cartão de crédito a outras pessoas para compras, mediante uma comissão.

Afirmou que foi por isso que tanto Dris Oukabir como o imã Es Satty compraram através do seu nome bilhetes para viajar para Marrocos.

As ligações confirmadas são suficientes para a investigação implicar os quatro suspeitos como membros da célula terrorista formada pelo imã Abdelbaki es Satty em Ripoll e que integrava pelo menos 12 membros.

Além dos quatro, do imã, morto em Alcanar, e do condutor da carrinha, Younes Abouyaaqoub, foram identificados como terroristas cinco outros homens, todos mortos no atentado de Cambrils.

São eles Moussa Oukabir, de 17 anos, irmão de Dris Oukabir; Said Aalla, de 19 anos, cujo cartão de crédito foi encontrado numa furgoneta abandonada em Cambrils; El Houssaine Aboyaaqoub, irmão de Younes e menor de idade; Mohamed Hychami, de 24 anos, implicado também no aluguer dos veículos usados pelos terroristas; e o seu irmão, Omar Hychami, menor de idade.

As autoridades espanholas identificam ainda Youssef Aalla, que poderá tanto estar em fuga e procurado como ser o segundo morto na explosão da casa de Alcanar.
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