Referendo abre a Vladimir Putin janela de poder até 2036

por Joana Raposo Santos - RTP
Terão participado na votação 65 por cento de cidadãos russos, dos quais 78 por cento apoiaram as mudanças constitucionais. Foto: Sputnik via Reuters

O Presidente russo, Vladimir Putin, poderá ficar no poder até 2036, depois de uma emenda à Constituição que lhe abre esse caminho ter sido aprovada por 78 por cento dos eleitores, de acordo com os resultados preliminares. A oposição considera esta uma "manobra" de Putin e não confia nos resultados da votação.

Os russos foram chamados às urnas na quarta-feira para um referendo sobre emendas constitucionais. Uma dessas mudanças à Constituição permite a Putin, que lidera o país há duas décadas, recandidatar-se à presidência em 2024 e em 2030, o que significa que poderá continuar no poder por mais 16 anos.

A campanha eleitoral que promovia este referendo praticamente não fazia referência a esta emenda em específico, preocupando-se antes em descrever a mudança constitucional como um regresso aos antigos valores familiares e desvalorizando o facto de a aprovação poder manter Putin no poder durante a próxima década e meia.

Se vencer as duas próximas eleições presidenciais, o atual líder tornar-se-á o que mais tempo esteve no poder na História da Rússia.

“O nosso país, a nossa Constituição, a nossa decisão”. Foi este o slogan da campanha para a reforma constitucional. Os panfletos que explicavam a mudança mencionavam uma série de emendas, entre as quais uma para passar a definir o casamento como “a união entre um homem e uma mulher”.

Segundo a Comissão Eleitoral Central da Rússia, os resultados preliminares apontavam na noite de quarta-feira para uma aprovação de 76,24 por cento, depois de metade dos boletins de voto terem sido processados. Após pressão das autoridades sobre os funcionários públicos para que votassem, 99,9 por cento das Forças Armadas foram às urnas.

Já esta quinta-feira, a mesma Comissão lançou no Twitter os resultados iniciais, cinco horas depois de as urnas terem encerrado. Terão participado na votação 65 por cento de cidadãos russos, dos quais 78 por cento apoiaram as mudanças constitucionais.

O Governo russo abriu as votações antecipadas na semana passada para alegadamente encorajar o distanciamento social devido à pandemia de Covid-19, mas declarou quarta-feira um feriado nacional para, segundo os críticos, incentivar mais eleitores a irem presencialmente às urnas.

Em comunicado, a Comissão Eleitoral Central defendeu o processo, alegando que “durante todo o período de votação não foi encontrada nenhuma violação séria que pudesse ter exigido a intervenção da Comissão”.
"Votar pelo país no qual queremos viver"
O próprio Presidente russo tem evitado pronunciar-se sobre a sobre o seu futuro enquanto líder. Apenas raras vezes sugeriu que “poderia” voltar a candidatar-se no final do mandato, para bem do país, tendo em conta a debilitada e fragmentada oposição. Recentemente disse também que “um Presidente que não possa candidatar-se a outro mandato não pode ser uma figura forte”.

Um dia antes da votação, uma mensagem de vídeo transmitida pela televisão russa mostrou Putin em frente a um novo monumento de homenagem aos soldados soviéticos mortos na II Guerra Mundial, onde falou ao povo.

“Eles lutaram para que nós pudéssemos viver em paz, trabalhar, amar, ter valor e sentir orgulho da Rússia, um país com uma civilização única e uma grande cultura que une os destinos, esperanças e aspirações de muitas gerações”, declarou o líder.

Vamos votar pelo país no qual queremos viver, com a melhor educação e cuidados de saúde, um sistema fiável de proteção social e um governo responsável pelo povo. Vamos votar por um país para o benefício do qual temos trabalhado e que queremos passar aos nossos filhos e netos”, acrescentou.
Oposição frustrada com resultados
Apesar da evidente popularidade do Presidente entre a população, muitos são os que querem ver o fim do seu mandato e que, por essa razão, se opuseram ao resultado do referendo. Alexey Navalny, adversário político de Putin, considera que os resultados da votação são “falsos” e uma “enorme mentira”, apelando a manifestações contra o atual líder.

“Neste momento, um enorme número de pessoas está frustrado com os resultados. Eu votei ‘não’, toda a gente votou ‘não’, e o resultado é um sólido ‘sim’”, lamentou, citado pela CNN. “Estes resultados não têm nada a ver com a opinião dos cidadãos russos”.

Navalny defendeu ainda que Putin perdeu esta votação ainda antes de a mesma ter começado. “No final de contas, ele recusou-se a realizar um verdadeiro referendo de acordo com todas as regras e com observadores independentes presentes. Porque percebeu que, se existissem regras, iria perder. Ele apenas consegue ganhar quando é o próprio a desenhar os números”.

Várias organizações independentes têm levantado dúvidas sobre os resultados das votações e criticado a falta de regulação deste referendo. Após conhecidos os resultados preliminares, um grupo de ativistas deitou-se na conhecida Praça Vermelha, em Moscovo, na forma dos números 2036 – ano até ao qual Putin poderá ficar no poder.

c/ agências
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