Republicanos bloqueiam projeto de financiamento que incluía ajuda a Ucrânia e Israel

por Cristina Sambado - RTP
Jon Cherry - Reuters

O Senado norte-americano bloqueou um projeto de lei de financiamento suplementar que incluía ajuda financeira à Ucrânia, Israel e Taiwan, bem como verbas destinadas a reforçar a segurança das fronteiras. A votação foi de 49 contra 51. Todos os republicanos opuseram-se ao avanço do diploma.

A votação aumenta a probabilidade de o Congresso não conseguir aprovar mais fundos para a Ucrânia antes do final do ano. A Casa Branca avisou que Kiev necessita urgentemente de mais ajuda. A votação ocorreu um dia depois de os democratas do Senado terem formalizado um projeto de lei suplementar de segurança de 111 mil milhões de dólares, que reflete o pedido de financiamento que Joe Biden apresentou em outubro para prestar assistência aos aliados dos EUA no estrangeiro.

Antes da votação, Joe Biden exortou o Congresso a aprovar o projeto de lei, alertando que a falta de ação só beneficiaria Vladimir Putin, o presidente russo, na guerra contra a Ucrânia.

"Quem está preparado para deixar de responsabilizar Putin por este comportamento? Quem de nós está realmente preparado para fazer isso?" frisou Biden. "Eu não estou preparado para me afastar, e acho que o povo americano também não está".
Já o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, dirigiu-se aos líderes do grupo de nações do G7 e apelou que confundissem Vladimir Putin vencendo "a batalha das motivações" e não mostrando fraqueza. Os líderes do G7 reuniram-se por vídeo, num curto espaço de tempo, numa demonstração de solidariedade para com o líder ucraniano, que incluiu a tentativa de dar novo fôlego às sanções contra a Rússia.

Zelensky agradeceu o apoio dos líderes do G7 e avisou que Moscovo está a contar com o colapso do apoio ocidental à Ucrânia.

"A Rússia acredita que a América e a Europa vão mostrar fraqueza e não vão manter o apoio à Ucrânia ao nível adequado. Putin acredita que o mundo livre não aplicará plenamente as suas próprias sanções e a elite russa troça das dúvidas do mundo sobre a utilização dos ativos russos para compensar os danos causados pela agressão russa", sublinhou.

Para o presidente ucraniano, "tudo isto faz parte de uma questão muito mais vasta - o que pode a liberdade fazer e o que podem as ditaduras fazer. Temos de responder a estas questões em conjunto".

No entanto, esses argumentos não conseguiram influenciar os republicanos do Senado na quarta-feira. Apesar do projeto de lei de financiamento suplementar incluir uma série de medidas de segurança nas fronteiras, os republicanos de ambas as câmaras insistiram que a legislação deve ir mais longe na restrição dos pedidos de asilo e liberdade condicional dos imigrantes. Propostas que são um obstáculo para muitos democratas, tornando pouco claro como um projeto de lei possa passar no Congresso dividido.

Na quarta-feira, o presidente norte-americano afirmou que estava disposto a fazer "compromissos significativos na fronteira", mas acusou os republicanos de adotar uma abordagem de tudo ou nada nas negociações sobre imigração.

As tensões que se vivem no Senado dos EUA espelharam-se, na terça-feira, numa reunião secreta do Senado sobre a Ucrânia se transformou numa crise de gritos. Zelensky, que deveria ter participado na reunião por videoconferência, foi forçado a cancelar devido a um problema de "última hora", segundo o líder da maioria democrata no Senado, Chuck Schumer.
"Isso tem que ser uma negociação", disse Biden. “Os republicanos pensam que podem conseguir tudo o que querem sem qualquer compromisso bipartidário. Essa não é a resposta."

Apesar da ausência do presidente ucraniano, Schumer acusou os republicanos de terem "sequestrado" a reunião para discutir a segurança das fronteiras. Uma acusação que levou republicanos a criticaram o líder da maioria democrata por se recusar a abordar as questões cruciais que criaram o atual impasse.

"Os republicanos estão a abandonar a reunião porque as pessoas que lá estão não estão dispostas a discutir o que é necessário para chegar a um acordo", afirmou o senador Mitt Romney, republicano do Utah.

Sem uma resolução à vista, os republicanos do Senado bloquearam com sucesso o avanço do projeto de lei suplementar sobre segurança.

Apesar de os republicanos terem manifestado sérias preocupações quanto às disposições do projeto de lei relativas às fronteiras, os dez mil milhões de dólares destinados à ajuda a Israel suscitaram críticas por parte de Bernie Sanders.

Numa carta enviada aos seus colegas na terça-feira, o senador progressista do Vermont alertou para o risco de passar um "cheque em branco" a Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, numa altura em que o número de mortos em Gaza continua a aumentar.

"Não, não penso que devamos atribuir 10,1 mil milhões de dólares ao governo de extrema-direita de Netanyahu para que continue a sua atual estratégia militar", escreveu Sanders. "O que o Governo de Netanyahu está a fazer é imoral, viola o Direito Internacional e os Estados Unidos não devem ser cúmplices dessas ações".

Depois que ficar claro que o projeto de lei não avançaria na quarta-feira, Sanders juntou-se aos republicanos na oposição à moção processual. Schumer votou inicialmente a favor do projeto de lei, mas depois mudou o seu voto para "não", uma manobra processual que lhe permitirá retomar a legislação numa data posterior.
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