"Se não travarmos Putin, não haverá lugares seguros". Primeira-dama ucraniana deixa alerta à Europa

por Joana Raposo Santos - RTP
Numa carta aberta, Olena Zelenska lamenta ainda que as mulheres e crianças do país se vejam forçadas a viver há dias em abrigos e caves. Foto: Instagram (@Olena Zelenska)

A primeira-dama ucraniana condenou, numa carta aberta, aquele que considera um "assassínio em massa" dos civis do seu país pelos militares russos. A mulher de Volodymyr Zelensky relembra todos os que vivem há dias em abrigos no subsolo, pede mais corredores humanitários e deixa um alerta: as forças de Vladimir Putin podem entrar "já amanhã" nas cidades europeias.

Para Olena Zelenska, a invasão que aconteceu a 24 de fevereiro era impensável num país até então “pacífico e cheio de vida”. Agora, o que diz estar a acontecer é “o assassínio em massa dos civis ucranianos”, e não uma “operação especial”, como alega a Rússia.

“Talvez o mais assustador e devastador desta invasão seja as mortes de crianças. A Alice, de oito anos, que morreu nas ruas de Okhtyrka enquanto o avô tentava protegê-la. Ou a Polina, de Kiev, que morreu com os seus pais num bombardeamento”, enumerou a primeira-dama na carta aberta.

“Quando a Rússia diz que não está a travar uma guerra contra os civis, eu invoco os nomes destas crianças assassinadas”.

Olena Zelenska lamenta ainda que as mulheres e crianças do país se vejam forçadas a viver há dias em abrigos e caves, “encurraladas no subsolo”, algo que considera “uma realidade horrível”.

“Em algumas cidades, as famílias não podem sair dos abrigos durante vários dias seguidos por causa do bombardeamento indiscriminado e deliberado das infraestruturas civis”, denunciou a mulher de Volodymyr Zelensky.

“A visão dos primeiros recém-nascidos desta guerra foi o teto dos seus abrigos, as suas primeiras respirações foram o ar acre do subsolo, e foram recebidos por uma comunidade presa e aterrorizada. Neste momento, há dezenas de crianças que nunca conheceram a paz nas suas vidas”, relatou na carta, referindo-se aos bebés nascidos nas maternidades improvisadas em caves.


A primeira-dama lembrou também as pessoas que precisam de cuidados hospitalares que agora não podem receber e que, por isso, correm perigo de vida. “Quão fácil é injetar insulina numa cave? Ou conseguir medicação para a asma sob fogo cerrado?”, questionou. “Para não mencionar os milhares de pacientes com cancro cujo acesso essencial à quimioterapia e radiação ficou agora indefinidamente adiado”.

Olena Zelenska frisa que “a guerra contra estas pessoas inocentes é um duplo crime” e lamenta que haja neste momento estradas inundadas de refugiados.

“Olhem nos olhos destas mulheres e crianças cansadas, que carregam a dor de deixar para trás os seus entes queridos e a vida como a conheciam”, apelou, elogiando os homens que levam as famílias até às fronteiras e voltam para trás, para lutarem pelo país. “Apesar de todo este horror, os ucranianos não desistem”, assinalou.
“Se não travarmos Putin, não haverá lugares seguros”
Num ataque ao Kremlin, a mulher do primeiro-ministro ucraniano escreve que o presidente russo, Vladimir Putin, “pensou que iria lançar um ataque relâmpago na Ucrânia”, mas “subestimou o nosso país, o nosso povo e o nosso patriotismo”.

“Os propagandistas do Kremlin gabavam-se de que os ucranianos os receberiam com flores, mas afinal foram recebidos com cocktails Molotov”.

Olena Zelenska explica que a Ucrânia quer paz, mas irá defender as suas fronteiras e a sua identidade acima de tudo. “Isto nunca iremos ceder”, assegurou, passando a apelar a mais corredores humanitários por onde possa entrar ajuda humanitária e sair as pessoas que queiram escapar da insegurança.

A carta aberta lança ainda o pedido “àqueles que estão no poder” para que encerrem o espaço aéreo ucraniano. “Encerrem os céus e nós trataremos da guerra por nós próprios no solo”.

Por último, a primeira-dama deixou um alerta. “A guerra na Ucrânia não é uma guerra ‘algures por aí’. Esta é uma guerra na Europa, perto das fronteiras da União Europeia. A Ucrânia está a travar as forças que podem amanhã entrar agressivamente nas vossas cidades sob o pretexto do salvamento de civis”.

“Na semana passada, para mim e para o meu povo, isto iria parecer um exagero, mas é a realidade que vivemos hoje”, avisa. “Se não travarmos Putin, que ameaça começar uma guerra nuclear, não haverá qualquer lugar seguro no mundo para nenhum de nós”.

Numa nota final, Olena Zelenska diz confiar que a união no amor à Ucrânia levará Kiev a vencer esta guerra. “Glória à Ucrânia”, acrescenta.

A mulher de Volodymyr Zelensky foi guionista e é conhecida na Ucrânia pela sua campanha por melhores refeições escolares e por encorajar o uso da língua ucraniana pelo resto do mundo.
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