"Se queremos construir uma Europa, teremos de ser nós a construí-la"

por Carlos Santos Neves - RTP
Marcelo Rebelo de Sousa acompanha a chanceler alemã, Angela Merkel, na ideia de que a União Europeia não pode já contar “completamente com outros” Ricardo Castelo - Reuters

A acompanhar a linha de política externa agora traçada pela chanceler alemã, o Presidente da República sustentou esta segunda-feira que a União Europeia não pode já “contar com a iniciativa, a liderança, a benevolência e a condescendência de aliados, amigos ou vizinhos”. Na abertura da conferência Europa, para onde vamos?, promovida no Porto pelo Jornal de Notícias, Marcelo Rebelo de Sousa criticou também os nacionalismos ou populismos xenófobos.

“Contar para um projeto com aliados efetivos ou eventuais desse projeto é uma forma de demissão própria”, defendeu o Chefe de Estado, ao abrir a conferência organizada por ocasião dos 129 anos do JN.“Como europeus, temos de transportar o nosso destino nas nossas mãos. Naturalmente que em amizade com os Estados Unidos da América, em amizade com a Grã-Bretanha e, como bons vizinhos, sempre que seja possível com outros países, mesmo a Rússia. Mas temos de saber que temos de lutar pelo nosso futuro sozinhos”, propugnou no domingo Angela Merkel.


“Há cerca de um ano, no Parlamento Europeu, expus as minhas ideias sobre a Europa. Só que desde então pelo menos dois factos maiores ocorreram: o referendo britânico e a eleição norte-americana”, continuou Marcelo.

“E esses factos maiores dão plena atualidade a essa asserção: se queremos construir uma Europa teremos de ser nós a construí-la. Não poderemos contar com a iniciativa, a liderança, a benevolência, a condescendência dos aliados, amigos ou vizinhos da Europa”, reforçou o Presidente da República, acompanhando assim as últimas intervenções públicas da chanceler alemã, Angela Merkel, após a cimeira do G7.

“A responsabilidade é nossa, de todos, não é deles. O que tem feito falta ao mundo é o protagonismo da União Europeia no domínio da política externa. E esse protagonismo é fundamental para o equilíbrio mundial”, insistiu.

Outro dos pontos do discurso de Marcelo Rebelo de Sousa foi o recrudescimento de expressões políticas nacionalistas ou populistas.

“Mas será que algum europeu pensa que é puro? Algum europeu pensa que provém de uma raça privilegiada? E que, portanto, deve defender o seu mundo dos forasteiros? Mas a Europa nasceu de uma encruzilhada de culturas e civilizações. A Europa atrai porque tem várias matrizes que confluíram. A Europa fechada em hipernacionalismos, em populismos xenófobos, é uma Europa pobre, é uma Europa culturalmente vazia”, vincou o Presidente.
“Tem de haver uma definição”

Ainda segundo o Chefe de Estado, “a definição das políticas perante migrantes e refugiados” terá de ser aclarada: “Pode ser ingrato ou difícil, mas tem de haver uma definição. Ser líder político é muitas vezes ter de afrontar os populismos a cada instante. É isso que é a liderança. Não é ir atrás desses populismos”.

Os líderes, prosseguiu Marcelo, terão de demonstrar se “são ou não capazes de pedagogicamente afrontar as tensões, as tendências, os tropismos vividos nas suas sociedades”, ou “perdem eles a prazo, perdem os respetivos Estados, perdem as respetivas sociedades e perde a Europa e perde o mundo”.

“Porque esse tropismo multiplica-se para além de fronteiras de continentes”, advertiu.

No entender do Presidente da República, impõe-se “ser muito claro na condenação, como aquilo que é um atentado contra os direitos fundamentais das pessoas, mas não se pode aceitar, a pretexto do combate a essa realidade, o desvirtuar do que é fundamental no projeto europeu”.

“É um projeto de democracia e de liberdade e de humanismo e por isso também de circulação das pessoas e circulação das ideias e de abertura ao exterior”, concluiu.

c/ Lusa
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