Segurança apertada em Maputo. Daniel Chapo toma posse como presidente de Moçambique

por Carlos Santos Neves - RTP
Várias vias do centro de Maputo, perto da Praça da Independência, foram fechadas ao trânsito Luísa Nhantumbo - EPA

Debaixo de apertadas medidas de segurança, incluindo o corte de várias artérias no centro de Maputo, os moçambicanos assistem esta quarta-feira à investidura de Daniel Chapo como quinto presidente do país. Uma tomada de posse que é contestada desde outubro nas ruas, em sucessivas vagas de protestos encabeçadas por apoiantes do candidato presidencial Venâncio Mondlane e fortemente reprimidas pelas autoridades.

Perto de 2.500 convidados e dois chefes de Estado juntam-se em Maputo para a tomada de posse de Daniel Chapo, o atual secretário-geral da Frelimo - Frente de Libertação de Moçambique.

Chapo, de 48 anos, foi proclamado a 23 de dezembro pelo Conselho Constitucional como vencedor da eleição presidencial, com 65,17 por cento dos votos, nas eleições gerais de 9 de outubro – processo que incluiu legislativas e eleições para assembleias provinciais, igualmente vencidas pelo partido no poder.Foi em maio de 2024 que Daniel Chapo, então governador da província de Inhambane, foi designado pelo Comité Central da Frelimo para ser o candidato do partido no poder à sucessão de Filipe Nyusi na Presidência moçambicana.


Daniel Francisco Chapo nasceu em Inhaminga, na província central de Sofala, a 6 de janeiro de 1977. É o primeiro presidente da República nascido após a independência de Moçambique, em 1975. É formado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo.

A cerimónia de investidura tem lugar durante a manhã desta quarta-feira na Praça da Independência, no coração de Maputo.

Será assim concretizada a entrega dos símbolos do poder pelo presidente cessante, Filipe Nyusi, à presidente do Conselho Constitucional. Cabe então a Lúcia Ribeiro fazer a investidura de Daniel Chapo. Seguem-se discursos oficiais, momentos culturais, 21 salvas de canhão e a revista à Guarda de Honra das Forças Armadas de Defesa de Moçambique já protagonizada pelo novo comandante-em-chefe.

A vice-presidente da Comissão Interministerial para Grandes Eventos, Eldevina Materula, anunciou como únicos chefes de Estado com presença confirmada na cerimónia os Presidentes da África do Sul, Cyril Ramaphosa, e da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló.

Estão também presentes três vice-presidentes - de Tanzânia, Maláui e Quénia - os primeiros-ministros de Essuatíni e do Ruanda e pelo menos oito ministros de diversos países, entre os quais o ministro português dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, e o ministro de Estado e chefe da Casa Civil do presidente de Angola, Adão de Almeida.

O Brasil é representando pelo embaixador em Maputo e Cabo Verde envia uma mensagem presidencial.
“Reposição da verdade eleitoral”
O candidato presidencial Venâncio Mondlane, regressado na passada quinta-feira a Moçambique, convocou três dias de paralisação e manifestações, a partir do início da destas semana, para contestar a tomada de posse dos deputados e a investidura do novo presidente.

Diante dos jornalistas que o aguardavam à chegada a Maputo, propôs-se desde logo "quebrar a narrativa" de estar "ausente por vontade própria" e denunciou o que descreveu como "genocídio silencioso".

“O regime optou por uma estratégia de criar uma espécie de um genocídio silencioso. As pessoas estão a ser sequestradas nas suas casas, as pessoas estão a ser executadas extrajudicialmente nas matas, estão a ser descobertas valas comuns com supostos apoiantes de Venâncio Mondlane, há um crescimento geométrico de assassinatos”, acusou.

Venâncio Mondlane acusou na terça-feira o ministro Paulo Rangel de ser parcial em relação à contestação pós-eleitoral em Moçambique.
Tiago Contreiras, Gabriel dos Santos | RTP em Maputo

Desde outubro que manifestantes pró-Mondlane reclamam nas ruas a “reposição da verdade eleitoral”. As manifestações e os confrontos com a polícia fizeram já pelo menos 300 mortos e mais de 600 feridos a tiro, de acordo com organizações da sociedade civil.

Segundo o Conselho Constitucional, Venâncio Mondlane reuniu 24 por cento dos votos na eleição para a Presidência da República.

c/ Lusa
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