Síria. Assad prevê para breve derrota final dos grupos armados e da revolta

por Graça Andrade Ramos - RTP
O Presidente sírio Bashar al-Assad, duranteuma visita às tropas sírias estacinadas em Idlib, em outubro de 2019 Reuters

Num discurso emitido esta noite pela televisão síria, o Presidente Bashar al-Assad expressou o seu total apoio às Forças Armadas sírias e prometeu prosseguir a ofensiva militar dos últimos meses, até "o país ser libertado", num desafio direto ao Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan.

Assad reconheceu que a recém-captura de extensos territórios na província noroeste de Idlib, a grupos armados apoiados oficiosamente pela Turquia, não significa o fim imediato dos nove anos de guerra.

O Presidente pressagiou, contudo, a derrota final da revolta que tentou derrubá-lo.

Num sinal do Governo de que a guerra se está a aproximar do fim, o ministro dos Transportes sírios anunciou esta segunda-feira o regresso das operações aéreas no aeroporto internacional de Alepo já a partir de terça-feira.

De acordo com agências de notícias da oposição síria, milhares de pessoas terão saído à rua na cidade para celebrar a vitória das Forças Armadas.

Soldados sírios mantêm sob vigilância a auto-estrada que liga Alepo à capital, Damasco, recém-conquistada e de onde os bloqueios e controles estão a ser desmantelados, acrescentaram.

Ao elogiar as forças armadas do país pelo seus recentes sucessos, Assad afirmou que o povo sírio está "determinado a libertar todos os territórios sírios do terrorismo".

"Eu sabia bem que os soldados árabes da Síria estão a lutar com todas as forças, e o patriotismo dos residentes de Alepo, aliado ao seu sentido de filiação com a sua pátria étnica e exército, irão alterar os cálculos dos inimigos", afirmou Assad.

O Presidente sírio atacou depois a Turquia, sem a mencionar diretamente, alertando que países "hostis ao povo sírio estão ainda a tentar proteger terroristas que usam civis como reféns e escudos humanos".

Assad afirmou que não se pode continuar a tolerar tal situação, à custa de vida, segurança e estabilidade dos cidadãos do país.
EUA e Turquia denunciam atrocidades
As Forças Armadas Sírias anunciaram esta segunda-feira a expulsão nos últimos dias dos grupos jihadistas da província de Alepo.

Afirmaram que mais de 30 aldeias foram libertadas do controlo islamita e prometeram, com as forças russas, caçar os extremistas islâmicos "onde quer que se encontrem".

Num discurso na televisão, o porta-voz do exército, o general Ali Mayhoub, afirmou que as tropas sírias continuam a avançar no terreno para "erradicar o que resta os grupos terroristas" na Síria. Os soldados estão de parabéns pelo rápido avanço "em tempo recorde", sublinhou.

De acordo com Mayhoub, os grupos jihadistas que restam estão agora refugiados numa pequena parte da província de Idlib, a serem já acossados pelas operações sírias e russas.

Nas últimas horas, os Estados Unidos e a Turquia mostraram preocupação com a violência na Síria e pediram à Rússia para suspender o apoio ao que descrevem como "atrocidades" do Governo sírio de Bashar al-Assad.

O Presidente dos EUA e o seu homólogo tiveram uma conversa telefónica no dia em que o chefe da diplomacia russa, Sergei Lavrov, declarou que a vitória do regime sírio era "inevitável".ONU: 900 mil em fuga

De acordo com números das Nações Unidas, o avanço militar do exército sírio, apoiado pela força aérea russa, levou desde dezembro à fuga de quase 875 mil sírios para zonas junto à fronteira turca. São, na sua maioria, mulheres e crianças.

David Swanson, um porta-voz do Gabinete da ONU para a Coordenação de Questões Humanitárias, revelou esta segunda-feira que a mais recente vaga, cerca de quatro mil nos últimos quatro dias, provém da região de Alepo, onde têm tido lugar fortes confrontos armados.

Meio milhão dos fugitivos das últimas dez semanas são crianças, referiu Swanson.

Repórteres da televisão do Qatar, a Al Jazeera, afirmam que milhares de crianças estão a ser obrigadas a dormir relento sob temperaturas de dez graus negativos, por falta de lugar nos campos administrados pela ONU.

Na semana passada, após vários confrontos armados terem vitimado vários soldados turcos, o Presidente Erdogan prometeu levar a guerra a toda a Síria, se mais algum dos seus militares morresse. Prometeu igualmente expulsar as forças sírias de todos os pontos chave de Idlib.

Erdogan acusou igualmente a Rússia de ser cúmplice de Assad nos bombardeamentos das populações civis, durante a ofensiva de reconquista de Idlib por parte de Damasco.

Ancara, que destacou reforços militares para a província síria no âmbito de um plano de cessar-fogo acordado com Moscovo, viu-se depois forçada a ameaçar igualmente de castigo os grupos armados que pegassem em armas.

A Turquia tem 12 postos de observação em Idlib – resultado do acordo de 2018 entre Ancara e Moscovo – com o objetivo de impedir uma ofensiva do Governo.

Contudo, as forças de Bashar al-Assad avançaram de forma independente. Quatro postos turcos estão cercados pelas forças sírias. Ancara ameaçou atacar Damasco se não se retirarem até ao final deste mês.
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