Suíça. A vitória da extrema-direita e o recuo dos ecologistas em legislativas

por Rachel Mestre Mesquita - RTP
Hansjörg Keller (kel_foto) - Unsplash

Num contexto de crise migratória europeia e de ressurgimento da ameaça terrorista na Europa, a direita populista suíça é a grande vencedora das eleições legislativas de domingo, com cerca de 29 por cento dos votos. Um reforço da posição do UDC, o principal partido político do país, depois de uma campanha eleitoral contra a "imigração em massa" e a favor "neutralidade estrita".

O partido conservador da União Democrática do Centro (UDC, na sigla em francês) também conhecido como Partido Popular Suíço (SVP, na sigla em alemão)  fez um grande sucesso nas eleições de domingo, tendo conseguido aproximar-se do seu resultado histórico de 29,4 por cento, no auge da crise migratória europeia em 2015.

Além de ter conseguido recuperar os assentos parlamentares perdidos nas últimas eleições, em 2019, ganhou nove assentos suplementares no Conselho Nacional (câmara baixa do Parlamento). Ficou muito à frente do segundo lugar, o Partido Socialista suíço (PS, na sigla em francês), que conseguiu cerca de 17,5 por cento dos votos e aumentou a representação com mais dois assentos que em 2019.

"Temos uma progressão muito clara da UDC para a extrema-direita. Vai ser mais difícil lutar pelo poder de compra, pela igualdade e pela política climática", disse Cédric Wermuth, copresidente do Partido Socialista suíço (PS) à agência France Presse (AFP).
A luta pela ecologia, uma prioridade do passado
Muito longe do bom desempenho nas eleições anteriores, o partido ecologista "Os Verdes" assistiu ao seu maior fracasso eleitoral, não tendo conseguido alcançar os dez por cento dos votos.

Lisa Mazzone, deputada dos Verdes, explicou à AFP que a campanha eleitoral decorreu num “contexto duro de violência e medo”. "Há muitas guerras em curso e as pessoas estão a recolher-se nas suas próprias identidades" acrescentou Nicolas Walder, vice-presidente dos Verdes, numa entrevista ao canal público suíço RTS.

"Há quatro anos, as pessoas eram um pouco mais idealistas e progressistas, o que explicava o bom desempenho dos Verdes, mas agora as pessoas estão mais preocupadas com a segurança e são novamente mais conservadoras", afirmou Michael Hermann, politólogo da empresa de sondagens Sotomo, segundo a agência Reuters.

Ao contrário do que aconteceu em 2019, as preocupações com a segurança superaram os receios sobre a iminente crise climática que se tem feito sentir cada vez mais em todo o mundo e particularmente na Suíça, onde os glaciares estão a diminuir a um ritmo acelerado.
A campanha do medo
O partido conservador suíço apostou numa retórica contra a “imigração em massa”, os “diktats de género” e a “loucura do wokismo” durante a campanha eleitoral e procurou alimentar o medo em relação aos migrantes, mostrando criminosos encapuzados, rostos feridos e mulheres assustadas nos seus anúncios, cartazes e publicações nas redes sociais. Além das críticas da oposição, o partido foi acusado de“xenofobia” pela Comissão Federal contra o Racismo suíça.

“Há muita gente na Suíça que tem medo de que a situação piore”, afirmou Thomas Aeschi, líder do grupo parlamentar do UDC, à AFP. “A situação de segurança já não é a mesma de antigamente”, acrescentou.
O principal tema da campanha foi a luta contra a “imigração em massa”, que culpa pela criminalidade, pelo aumento do consumo de eletricidade e pelo aumento dos custos sociais – nomeadamente das despesas públicas com seguros de saúde e alojamento – embora a Suíça não tenha acolhido recentemente nenhuma vaga de imigrantes em massa, ao contrário dos seus países vizinhos da União Europeia, como a França, Itália ou a Alemanha.

Com o resultado destas eleições "recebemos um mandato muito claro do povo suíço para colocar em cima da mesa questões que são importantes para eles, como a imigração ilegal (...) e um fornecimento seguro de energia", reagiu Marco Chiesa, presidente do UDC, em declarações ao canal suíço RTS.

Também durante a campanha o partido populista União Democrática do Centro (UDC) apelou ao reforço do compromisso de “neutralidade estrita” da Suíça, criticando o alinhamento com a União Europeia na imposição de sanções contra a Rússia, após a invasão da Ucrânia.

Conhecido por ser anti-EU, o UDC "quer boas relações com a União Europeia, mas o que não queremos é um acordo em que a Suíça deve fazer o que a UE diz" disse Thomas Aeschi, líder do grupo parlamentar do UDC, à AFP.

No último fim de semana, os eleitores suíços foram chamados às urnas para eleger os 200 deputados do Conselho Nacional (Parlamento), por representação proporcional. Apesar da grande maioria do eleitorado ter enviado as suas intenções de voto por correio.

As eleições na Suíça prosseguem nas próximas semanas em vários cantões, tendo em vista a eleição dos 46 senadores do Conselho de Estado (Senado) eleitos por sistema maioritário e, no próximo dia 13 de dezembro, para eleger os sete membros do Conselho Federal (Governo), no qual os quatro primeiros partidos partilharão as sete pastas de governação do país.

Os resultados das eleições na Suíça, um dos países mais ricos do mundo, reforçam a tendência europeia de viragem à direita causada pelo “medo” e "incerteza", não só pelos efeitos das crises financeira, energética e humanitária, mas também pelo aumento da ameaça terrorista e dos conflitos na Ucrânia e, mais recentemente, no Médio Oriente.

c/agências

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