Taiwan. China está a avançar com "maior rapidez" no plano de anexação, alerta Blinken

por Joana Raposo Santos - RTP
Para Blinken, a estratégia da China está a "alterar profundamente o status quo e a criar tremendas tensões". Josh Edelson - Reuters

Os planos da China para anexar Taiwan estão a avançar "com maior rapidez", alertou o secretário de Estado dos Estados Unidos. Na mesma altura em que decorre o congresso do Partido Comunista chinês, Antony Blinken avisou que a eventual anexação da Ilha Formosa agravará a crise económica global.

As declarações foram feitas na Universidade de Stanford em conversa com a antiga secretária de Estado Condoleezza Rice, à qual Blinken transmitiu que a paz e estabilidade entre Pequim e Taipé foram bem-sucedidas durante décadas, mas que a China está agora a mudar a sua abordagem.

“Em vez de manter o status quo que foi estabelecido de uma forma positiva, [a China] tomou a decisão de que o status quo já não é aceitável e está determinada a alcançar a reunificação com maior rapidez”, considerou o responsável norte-americano.

“Se os meios pacíficos não funcionarem, então [Pequim] irá tentar a coerção, e se isso também não resultar a China deverá usar a força para alcançar o seu objetivo”, acrescentou.

Para Blinken, esta estratégia está a “alterar profundamente o status quo e a criar tremendas tensões”, o que deveria causar “profunda preocupação em países de todo o mundo”.

Os comentários de Antony Blinken acontecem na mesma altura em que o Partido Comunista Chinês realiza um congresso que acontece apenas duas vezes a cada dez anos. No discurso de abertura de domingo, o presidente Xi Jingping frisou que os seus planos para anexar Taiwan permanecem na agenda de “rejuvenescimento” da China.

Em anos recentes, o Partido Comunista e o Exército de Libertação Popular aumentaram os atos de intimidação contra Taiwan, incluindo a realização de ações quase diárias de reconhecimento aéreo.

Ainda em agosto deste ano, depois de uma visita da norte-americana Nancy Pelosi a Taiwan, as forças militares chinesas realizaram exercícios em torno da ilha. Desde então, Pequim aumentou também as travessias militares da linha mediana, que separa as águas dos dois territórios.
Anexação até 2049?
Apesar de a China ter já deixado claro que pretende tomar Taiwan, não existe previsão exata de quando tal poderá acontecer. Algumas figuras militares dos EUA e de Taiwan acreditam que o Exército de Libertação Popular poderá tomar a ilha dentro de poucos anos, enquanto vários analistas apontam para a meta de rejuvenescimento nacional de Xi Jinping até 2049, data em que se assinala o centenário da República Popular da China.

“É possível que o secretário de Estado Blinken esteja preocupado com o ritmo e o alcance da modernização militar da China, que claramente está focada em Taiwan, mas a capacidade militar chinesa por si só não revela necessariamente a intenção de usar a força num curto prazo”, considerou ao Guardian Drew Thompson, ex-funcionário do Departamento de Estado norte-americano.

Já o especialista em assuntos chineses Bill Bishop disse não existir documentação pública nem indicação por parte de Xi Jinping que leve a crer numa aceleração do plano de Pequim. “Terão os Estados Unidos na sua posse informações que indiquem uma mudança [na calendarização]?”, questionou no Twitter.

O setor de inteligência dos Estados Unidos nem sempre tem sido bem-sucedido no que diz respeito à China. Em 2010, as autoridades chinesas terão desmantelado uma rede norte-americana de espionagem dentro do país, matando ou detendo até 20 elementos da CIA.

c/ agências
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