Terrorista de direita espanhol refugiado no Brasil tenta impedir extradição

por RTP
Funeral dos massacrados de Atocha, 1977 DR

Carlos García Juliá fugiu de Espanha em 1991, após 14 anos de prisão, e desde então tem vivido na América Latina sob várias identidades falsas. Em dezembro do ano passado foi identificado e detido no Brasil, mas a sua extradição para Espanha pode ainda demorar.

Ao contrário de vários países europeus, a Espanha mantém com o Brasil um acordo de extradição que, em princípio, deverá permitir a entrega do fugitivo às autoridades espanholas. Ao ser descoberto em dezembro, Juliá vivia em São Paulo, segundo o diário espanhol El Pais, com um passaporte falso venezuelano e com um emprego de motorista da Uber.

Garcia Juliá foi um dos cinco assassinos a soldo que em 27 de janeiro de 1977 irromperam num escritório de advogados do sindicato Comisiones Obreras, abatendo a tiro cinco pessoas. Os autores materiais do crime foram todos identificados e, com uma única excepção, todos capturados.

O assassino agora refugiado no Brasil foi, em fevereiro de 1980, condenado a uma pena de 193 anos de prisão num tribunal espanhol. Ficou na cadeia durante 14 anos mas, em 1991, aproveitou-se da liberdade condicional que lhe fora concedida para pedir uma autorização para emigrar para o Paraguai, onde vigorava ainda a ditadura militar de Stroessner.

Surpreendentemente para alguém com uma pena tão longa por cumprir, essa autorização foi-lhe concedida, apenas com a condição de se apresentar todos os meses na Embaixada espanhola em Asunción.

Também no Paraguai estava refugiado um outro terrorista de extrema-direita, Emilio Hellín, condenado a 43 anos de cadeia por ter assassinado por engano a activista estudantil Yolanda González, tomando-a erradamente por uma militante da ETA. Hellín também fugira aproveitando uma saída precária da cadeia.

Dois anos depois de ter partido para a América Latina, Juliá foi detido na Bolívia por tráfico de drogas e financiamento de grupos paramilitares. Cumpriu pena numa cadeia de La Paz e, ao ser libertado, andou pelo Chile, Venezuela, Argentina e finalmente Brasil, sempre com identidades falsas.

Agora, o pedido de extradição espanhol poderá encontrar-se protelado por o advogado de Juliá ter declarado que o seu constituinte se lhe opõe. De um ponto de vista jurídico, contudo, não parece existir qualquer dúvida de que esse pedido venha a ser atendido.

Resta apenas uma incógnita: a de saber se o ultra-direitista presidente Jair Bolsonaro fará uso da sua prerrogativa constitucional de impedir a extradição do assassino agora capturado.
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