Trump autoriza transição de poder. Administração Biden começa a ganhar forma

por Andreia Martins - RTP
Joshua Roberts - Reuters

O Presidente norte-americano, Donald Trump, autorizou na segunda-feira o início da transição formal para a Administração do Presidente-eleito, Joe Biden, mas mantém a intenção de continuar com as contestações legais à eleição de 3 de novembro. Entretanto, começa a ganhar forma o gabinete que vai governar os Estados Unidos durante os próximos quatro anos, com destaque para a nomeação da economista Janet Yellen, que deverá ser a primeira mulher secretária do Tesouro na história do país, ou para o regresso do ex-secretário de Estado John Kerry como enviado especial no combate à crise climática.

Ao fim de 20 dias após a eleição, o Presidente dos Estados Unidos deu luz verde para o início da transição entre a atual Administração e o Presidente-eleito. No Twitter, Donald Trump anunciou que deu autorização a Emily Murphy, chefe da Administração de Serviços Gerais, a prosseguir com as medidas necessárias para a passagem de poder.

“Agradeço a Emily Murphy a sua constante dedicação e lealdade pelo nosso país. Ela foi assediada, ameaçada e abusada – e não quero que isso lhe aconteça, à sua família e aos empregados na Administração de Serviços Gerais. A nossa causa continua FORTE e vamos continuar a luta, e acredito que vamos vencer! Ainda assim, no melhor interesse do nosso país, recomendei a Emily e à sua equipa para que fizesse o que é necessário fazer relativamente aos protocolos iniciais, e indiquei à minha equipa que fizesse o mesmo”, escreveu Donald Trump em duas mensagens na rede social.



Entretanto, a CNN revela que a Administração de Serviços Gerais já informou o Presidente-eleito que a atual Administração está pronta para iniciar o processo de transição formal. Numa carta enviada a Joe Biden, Emily Murphy esclarece que não foi pressionada pela Casa Branca a atrasar o processo e que não houve qualquer favoritismo da sua parte a pesar neste atraso.

“Saiba que tomei a minha decisão de forma independente, com base na lei e nos factos disponíveis. Nunca fui direta ou indiretamente pressionada por qualquer funcionário do Poder Executivo – incluindo os que trabalham na Casa Branca ou na Administração de Serviços Gerais – em relação ao conteúdo ou ao momento da minha decisão. Quero esclarecer que não recebi nenhuma instrução para atrasar a minha determinação”, escreve a responsável.

A missiva representa a aprovação formal por parte da responsável que certifica a vitória de Joe Biden, um processo que passa geralmente despercebido. Assim, a transição está oficialmente em curso e os funcionários da atual Administração e da equipa de Joe Biden poderão estar coordenados neste processo que culmina na tomada de posse, marcada para 20 de janeiro.

Para além do acesso a fundos de transição, o Presidente-eleito e a respetiva equipa passam a poder contactar com os vários braços da Administração, funcionários e dirigentes públicos, ao contrário do que tinha acontecido nas últimas semanas.

Dado o primeiro passo para o processo formal de transição, a prioridade para a equipa de Joe Biden será o acesso a dados sobre a Covid-19 e aos planos de distribuição das futuras vacinas.  

Yohannes Abraham, diretor executivo da equipa de transição de Joe Biden, refere que o início formal do processo é um "passo necessário no sentido de enfrentar os desafios que nosso país enfrenta, incluindo manter a pandemia sob controlo e recuperar a nossa economia".
Quem integra a Administração Biden?
A verdade é que o Presidente-eleito não ficou à espera do processo formal de transição para começar a desenhar o gabinete com que vai trabalhar a partir de janeiro. Ron Klain, que teve um papel decisivo durante a crise do Ébola durante a Administração Obama, crítico da resposta da equipa de Donald Trump à atual pandemia, será o chefe de Gabinete do próximo Presidente norte-americano.

Já Antony Blinken, vice-secretário de Estado entre 2015 e 2017, europeísta e multilateralista convicto, será agora o secretário de Estado, e a afro-americana Linda Thomas-Greenfield será a Embaixadora dos EUA junto das Nações Unidas.

Ao lado de Joe Biden e da primeira mulher eleita como vice-presidente, Kamala Harris, estará também Janet Yellen. A economista de 74 anos, que foi primeira mulher à frente da Reserva Federal dos Estados Unidos (FED), entre 2014 e 2018, deverá agora ser a primeira mulher com a pasta do Tesouro.

Para o Pentágono, Michèle Flournoy, vice-secretária no primeiro mandato de Obama, entre 2009 e 2012, deverá ser a primeira mulher na história dos Estados Unidos a tomar posse como secretária de Defesa.

Como diretora dos Serviços de Inteligência Nacional, Joe Biden deverá apontar Avril Haines, antiga vice-diretora da CIA e vice-conselheira de Segurança Nacional, e que será também a primeira mulher a liderar neste cargo criado após os atentados de 11 de Setembro.



Para dirigir o Departamento de Segurança Interna, a escolha de Joe Biden recai em Alejandro Mayorkas, um advogado imigrante, de origem cubana que fez parte da Administração Obama como vice-secretário do mesmo departamento. Será o primeiro responsável imigrante com raízes latinas a ocupar o cargo que supervisiona, entre outras, a pasta da imigração.

Destaque ainda para a escolha de John Kerry como enviado especial para o combate à crise climática. Kerry, candidato presidencial pelo Partido Democrata em 2004, foi secretário de Estado durante o segundo mandato da Administração Obama e assinou, entre outros pactos, o Acordo de Paris.

Jake Sullivan, conselheiro de vários candidatos democratas que também integrou a Administração Obama, deverá ser o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca.

As escolhas de Joe Biden terão ainda de ser confirmadas pelo Senado. Para já, os representantes do Partido Republicano têm mantido o silêncio sobre o tema. Mitch McConnell, líder da maioria republicana naquela câmara, não quis comentar as escolhas já anunciadas pelo Presidente-eleito.

Após a eleição de 3 de novembro, nenhum dos partidos conseguiu alcançar a maioria no Senado norte-americano. A decisão foi adiada para 5 de janeiro, com a marcação de uma segunda volta para escolher os dois representantes do Estado da Geórgia, uma votação decisiva para definir como será a implementação da agenda do novo Presidente norte-americano.

Nesta altura, os republicanos já conseguiram garantir a nomeação de 50 senadores enquanto os democratas têm 48 lugares. Para almejar à maioria, o Partido Democrático necessita de garantir a eleição dos dois lugares na Geórgia, uma vez contra com o voto de desempate da próxima vice-presidente Kamala Harris, que será simultaneamente presidente do Senado norte-americano.
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