O Presidente norte-americano, Donald Trump, autorizou na segunda-feira o início da transição formal para a Administração do Presidente-eleito, Joe Biden, mas mantém a intenção de continuar com as contestações legais à eleição de 3 de novembro. Entretanto, começa a ganhar forma o gabinete que vai governar os Estados Unidos durante os próximos quatro anos, com destaque para a nomeação da economista Janet Yellen, que deverá ser a primeira mulher secretária do Tesouro na história do país, ou para o regresso do ex-secretário de Estado John Kerry como enviado especial no combate à crise climática.
Trump autoriza transição de poder. Administração Biden começa a ganhar forma
“Agradeço a Emily Murphy a sua constante dedicação e lealdade pelo nosso país. Ela foi assediada, ameaçada e abusada – e não quero que isso lhe aconteça, à sua família e aos empregados na Administração de Serviços Gerais. A nossa causa continua FORTE e vamos continuar a luta, e acredito que vamos vencer! Ainda assim, no melhor interesse do nosso país, recomendei a Emily e à sua equipa para que fizesse o que é necessário fazer relativamente aos protocolos iniciais, e indiquei à minha equipa que fizesse o mesmo”, escreveu Donald Trump em duas mensagens na rede social.
...fight, and I believe we will prevail! Nevertheless, in the best interest of our Country, I am recommending that Emily and her team do what needs to be done with regard to initial protocols, and have told my team to do the same.
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) November 23, 2020
“Saiba que tomei a minha decisão de forma independente, com base na lei e nos factos disponíveis. Nunca fui direta ou indiretamente pressionada por qualquer funcionário do Poder Executivo – incluindo os que trabalham na Casa Branca ou na Administração de Serviços Gerais – em relação ao conteúdo ou ao momento da minha decisão. Quero esclarecer que não recebi nenhuma instrução para atrasar a minha determinação”, escreve a responsável.
A missiva representa a aprovação formal por parte da responsável que certifica a vitória de Joe Biden, um processo que passa geralmente despercebido. Assim, a transição está oficialmente em curso e os funcionários da atual Administração e da equipa de Joe Biden poderão estar coordenados neste processo que culmina na tomada de posse, marcada para 20 de janeiro.
Para além do acesso a fundos de transição, o Presidente-eleito e a respetiva equipa passam a poder contactar com os vários braços da Administração, funcionários e dirigentes públicos, ao contrário do que tinha acontecido nas últimas semanas.
Dado o primeiro passo para o processo formal de transição, a prioridade para a equipa de Joe Biden será o acesso a dados sobre a Covid-19 e aos planos de distribuição das futuras vacinas.
Yohannes Abraham, diretor executivo da equipa de transição de Joe Biden, refere que o início formal do processo é um "passo necessário no sentido de enfrentar os desafios que nosso país enfrenta, incluindo manter a pandemia sob controlo e recuperar a nossa economia".
Quem integra a Administração Biden?
A verdade é que o Presidente-eleito não ficou à espera do processo formal de transição para começar a desenhar o gabinete com que vai trabalhar a partir de janeiro. Ron Klain, que teve um papel decisivo durante a crise do Ébola durante a Administração Obama, crítico da resposta da equipa de Donald Trump à atual pandemia, será o chefe de Gabinete do próximo Presidente norte-americano.
Já Antony Blinken, vice-secretário de Estado entre 2015 e 2017, europeísta e multilateralista convicto, será agora o secretário de Estado, e a afro-americana Linda Thomas-Greenfield será a Embaixadora dos EUA junto das Nações Unidas.
Ao lado de Joe Biden e da primeira mulher eleita como vice-presidente, Kamala Harris, estará também Janet Yellen. A economista de 74 anos, que foi primeira mulher à frente da Reserva Federal dos Estados Unidos (FED), entre 2014 e 2018, deverá agora ser a primeira mulher com a pasta do Tesouro.
Para o Pentágono, Michèle Flournoy, vice-secretária no primeiro mandato de Obama, entre 2009 e 2012, deverá ser a primeira mulher na história dos Estados Unidos a tomar posse como secretária de Defesa.
Como diretora dos Serviços de Inteligência Nacional, Joe Biden deverá apontar Avril Haines, antiga vice-diretora da CIA e vice-conselheira de Segurança Nacional, e que será também a primeira mulher a liderar neste cargo criado após os atentados de 11 de Setembro.
Today, I’m announcing the first members of my national security and foreign policy team. They will rally the world to take on our challenges like no other—challenges that no one nation can face alone.
— Joe Biden (@JoeBiden) November 23, 2020
It’s time to restore American leadership. I trust this group to do just that. pic.twitter.com/uKE5JG45Ts
Para dirigir o Departamento de Segurança Interna, a escolha de Joe Biden recai em Alejandro Mayorkas, um advogado imigrante, de origem cubana que fez parte da Administração Obama como vice-secretário do mesmo departamento. Será o primeiro responsável imigrante com raízes latinas a ocupar o cargo que supervisiona, entre outras, a pasta da imigração.
Destaque ainda para a escolha de John Kerry como enviado especial para o combate à crise climática. Kerry, candidato presidencial pelo Partido Democrata em 2004, foi secretário de Estado durante o segundo mandato da Administração Obama e assinou, entre outros pactos, o Acordo de Paris.
As escolhas de Joe Biden terão ainda de ser confirmadas pelo Senado. Para já, os representantes do Partido Republicano têm mantido o silêncio sobre o tema. Mitch McConnell, líder da maioria republicana naquela câmara, não quis comentar as escolhas já anunciadas pelo Presidente-eleito.
Após a eleição de 3 de novembro, nenhum dos partidos conseguiu alcançar a maioria no Senado norte-americano. A decisão foi adiada para 5 de janeiro, com a marcação de uma segunda volta para escolher os dois representantes do Estado da Geórgia, uma votação decisiva para definir como será a implementação da agenda do novo Presidente norte-americano.
Nesta altura, os republicanos já conseguiram garantir a nomeação de 50 senadores enquanto os democratas têm 48 lugares. Para almejar à maioria, o Partido Democrático necessita de garantir a eleição dos dois lugares na Geórgia, uma vez contra com o voto de desempate da próxima vice-presidente Kamala Harris, que será simultaneamente presidente do Senado norte-americano.