Trump saúda reação norte-coreana ao cancelamento da cimeira

por Andreia Martins - RTP
"Vamos ver o que acontece. Estamos em conversações com eles. Pode até ser no dia 12", disse o Presidente norte-americano Kevin Lamarque - Reuters

O Presidente norte-americano considera que a reação de Pyongyang ao cancelamento do encontro em Singapura foi “produtiva” e "calorosa" e deixou mesmo mesmo em aberto a possibilidade de vir a realizar a cimeira a 12 de junho, tal como estava inicialmente previsto.

Quase 24 horas depois do cancelamento daquela que seria uma cimeira inédita entre os líderes de Estados Unidos e Coreia do Norte, as declarações enunciadas pelos dois lados fogem à retórica de confronto adotada por outros responsáveis durante a última semana. De tal forma que o Presidente norte-americano admite até mudar de ideias. 

Num primeiro momento, o Presidente elogiou o posicionamento construtivo de Pyongyang em reação ao cancelamento da conferência que estava marcada para 12 de junho, em Singapura. 


“Muito boa notícia receber esta afetuosa e produtiva declaração da Coreia do Norte. Em breve veremos onde nos poderá levar, esperançosamente, para uma prosperidade e paz duradouras. Só o tempo (e o talento) dirá!”, escreveu Donald Trump no Twitter. 

Depois, em declarações aos jornalistas à saída da Casa Branca, deixou em aberto a possibilidade de vir a permitir a realização da cimeira que ontem cancelou. "Vamos ver o que acontece. Estamos em conversações com eles. Pode até ser no dia 12. Gostariamos que fosse", referiu o Presidente, citado pela agência Reuters.

O presidente norte-americano reagia às palavras que chegaram esta sexta-feira da Coreia do Norte. Kim Kye-gwan, primeiro vice-ministro dos Negócios Estrangeiros norte-coreano, comprovou a disponibilidade dos norte-coreanos em "sentar-se cara a cara [com os Estados Unidos], a qualquer momento e de todas as formas".

Ainda que tenha "lamentado" a decisão "repentina e unilateral" de Donald Trump de cancelar a cimeira, o responsável adotou um tom concliatório. "Apreciamos que o Presidente Trump tenha tomado uma decisão corajosa, que nenhum outro Presidente dos EUA teve, para a realização de um evento tão crucial como a cimeira", assinalou Kim Kye-gwan. 

Na quinta-feira, o Presidente norte-americano anunciou o cancelamento da cimeira de 12 de junho devido à "hostilidade aberta" entre as partes em declarações recentes.

Desde há uma semana que a Coreia do Norte vinha a ameaçar que poderia não comparecer no encontro de Singapura, isto depois de John Bolton, conselheiro de Trump para a Segurança Nacional, ter sugerido a aplicação do "modelo líbio" no caso norte-coreano e que Kim Jong-un poderia ter o mesmo destino de Khadafi.

De seguida, foi a vez de o vice-presidente Mike Pence fazer a mesma comparação, assinalando que a Coreia do Norte "podería ter o mesmo fim" que conheceu o regime líbio.

A nova referência ao país do Magrebe, com tudo o que isso implica, voltou a provocar Pyongyang. É que o regime liderado por Muhammad Khadafi aceitou desistir do programa nuclear em 2003, em troca do levantamento de sanções económicas e políticas pelos Estados Unidos, à imagem do que Washington procurava conseguir agora com a Coreia do Norte.

No entanto, a ditadura viria a ser derrubada oito anos numa operação que culminou com a execução do líder líbio às mãos do Conselho Nacional de Transição, um grupo de oposição apoiado pelo Ocidente.
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