Ucrânia. Emmanuel Macron apela aliados a "sobressalto" e a "decisões fortes"

por Graça Andrade Ramos - RTP
Emmanuel Macron, na abertura de uma reunião no Eliseu, Paris, sobre o apoio aliado à Ucrânia em fevereiro de 2024 Gonzalo Fuentes - Reuters

O presidente francês reúne-se esta tarde no Eliseu com 21 chefes de Governo ou de Estado e seis outros ministros, na maioria europeus, num encontro de trabalho sobre o reforço da entrega de munições à Ucrânia e a resposta a dar à estratégia de intimidação de Moscovo.

"Estamos sem dúvida num momento que exige um sobressalto de todos", desafiou Emmanuel Macron, no seu discurso inicial, frisando que este "implica decisões fortes" e um "novo impulso" do apoio a Kiev face à Rússia.

O presidente francês lembrou que, com este conflito entre a Rússia e a Ucrânia, "é a segurança de todos nós que está em jogo", exortando os presentes a prepararem-se para um ataque russo. 

"Nos últimos meses, todos nós fomos sujeitos a mais ataques em termos de informação e de ciberataques e, ao mesmo tempo, verifiquei que praticamente todos os países representados à volta desta mesa puderam dizer [...] que o consenso, a análise coletiva era que, dentro de alguns anos, deveríamos estar preparados para que a Rússia ataque", declarou Emmanuel Macron.

"Vemos, e de forma particular nos últimos meses, um endurecimento da Rússia", acrescentou o líder francês, o qual "infelizmente foi ilustrado cruelmente pela morte de Alexei Navalny", o principal opositor do presidente russo, Vladimir Putin.

"Na frente ucraniana, as posições são cada vez mais duras e sabemos também que a Rússia prepara novos ataques, em particular para siderar a opinião ucraniana", advertiu ainda.

"Em primeiro lugar, a Rússia não pode nem deve ganhar esta guerra na Ucrânia a bem da própria Ucrânia", reafirmou Emmanuel Macron, acrescentando que esta condição é necessária, não apenas para permitir à Ucrânia continuar a existir, mas também, em segundo lugar, "para garantir a nossa segurança coletiva de hoje e de amanhã", na Europa e no Ocidente

"Em terceiro lugar, todos concordamos que não desejamos entrar em guerra com o povo russo e que estamos determinados a manter a escalada sob controlo, como temos feito com sucesso desde o início do conflito", rematou.

Esta reunião de alto nível serve para "partilhar todos os elementos que são úteis para caracterizar a situação se vive, e ver, a nível nacional e coletivo, como fazer mais", acrescentou Macron, "em termos de apoio orçamental, mais em termos de apoio militar, mais em termos da capacidade disponibilizada, e também em termos da prossecução de acordos bilaterais" com a Ucrânia.
Zelensky agradece

A abertura do encontro ficou marcada por uma intervenção do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, que agradeceu à França o seu apoio e a Emmanuel Macron em particular, afirmando que aguarda "com impaciência" a visita deste último a Kiev, marcada para março.

Na sua mensagem gravada, Zelensky agradeceu igualmente a todos os presentes o apoio prestado à Ucrânia nos primeiros dois anos de conflito.

"Juntos já salvamos milhares de vidas, e juntos deveremos garantir que Putin não possa destruir o que já conseguimos realizar e não possa estender a sua agressão a outros países", afirmou o presidente ucraniano.

Falta de munições

A Ucrânia tem vindo a sofrer derrotas no campo de batalha da frente leste, devido à falta de armas e de soldados.

Responsáveis informados sobre o propósito da reunião desta segunda-feira, sublinharam que não deverá ser anunciada qualquer nova remessa de armamento à Ucrânia, uma vez que o encontro se destina sobretudo a encontrar formas de incrementar a eficácia no terreno e a coordenação entre os aliados e Kiev.

Uma das hipóteses em cima da mesa, proposta pela República Checa, é a aquisição a países terceiros de centenas de milhares de munições, algo que a França tem visto com cautela, preferindo prioritizar o desenvolvimento da indústria de Defesa europeia.

A União Europeia não tem conseguido cumprir com as remessas de um milhão munições de artilharia até março, prometidas à Ucrânia.

No Eliseu, o correspondente da RTP em França, José Manuel Rosendo, resumiu o que está em causa na reunião "de emergência", como lhe chamou a presidência francesa.
Nota positiva
Paris pretende galvanizar um apoio que parece estar a esmorecer, na altura em que a guerra entra no seu terceiro ano e depois de uma reunião em Munique, sobre segurança, que decorreu numa atmosfera sombria e pessimista.

"Queremos enviar a Putin uma mensagem muito clara, de que não irá vencer na Ucrânia", referiu um conselheiro presidencial francês em conferência de imprensa antes do encontro no Eliseu. "O nosso objetivo é esmagar esta ideia, que ele nos quer fazer crer, de que de alguma forma está a ganhar", acrescentou.

"Temos de ser capazes de enviar mais munições", explicou a mesma fonte, admitindo que estas possam ser "adquiridas onde estiverem disponíveis". "A França não tem uma posição dogmática" sobre a questão, frisou.

Os participantes da reunião incluem o primeiro-ministro demissionário português, António Costa, o chanceler alemão, Olaf Scholz, o ministro britânico dos negócios Estrangeiros, David Cameron, o primeiro-ministro holandês Mark Rutte, assim como os líderes dos países bálticos e escandinavos, entre outros.

Os Estados Unidos, cujo pacote de apoio mais recente tem estado bloqueado pelos republicanos no Congresso, estão representados pelo secretário de Estado adjunto para os Assuntos Europeus e da Eurásia, Jim O'Brien.

A reunião começou com uma nota positiva para os aliados no apoio à Ucrânia. O Parlamento húngaro aprovou finalmente a adesão da Suécia à NATO, após meses de adiamentos.

Emmanuel Macron felicitou a Suécia, saudando o facto desta e da Finlândia se terem "juntado à nossa organização".

A Suécia e a Finlândia solicitaram a adesão à NATO, invertendo décadas de política de Defesa, depois da Rússia ter invadido a Ucrânia em 24 de fevereiro de 2022.

com Lusa
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