UE pondera aplicar "medidas restritivas" para sancionar repressão no Irão

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Dilara Senkaya - Reuters

A União Europeia quer sancionar o Irão com “medidas restritivas” tendo em conta “o assassinato de Mahsa Amini e a forma como as forças de segurança iranianas reagiram às manifestações”, anunciou o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, esta terça-feira. Face ao anúncio de novas sanções por parte dos EUA, o Irão apontou “a hipocrisia” do presidente norte-americano e alertou que Joe Biden deveria “preocupar-se com as consequências” das sanções contra Teerão.

"Continuaremos a analisar todas as opções à nossa disposição com os Estados-membros, incluindo medidas restritivas", disse Josep Borrell perante os representantes eleitos do Parlamento Europeu reunidos em sessão plenária em Estrasburgo.

Momentos antes, a ministra francesa dos Negócios Estrangeiros tinha avançado que a UE está a ponderar impor congelamentos de bens e restrições de viagens a várias autoridades iranianas envolvidas na repressão aos manifestantes nas últimas semanas.

"A ação da França no coração da UE é visar os responsáveis pela repressão, responsabilizando-os pelos seus atos", disse Catherine Colonna no parlamento.


A Alemanha pediu na semana passada sanções da UE contra o Irão, onde os protestos incitados pela morte de Mahsa Amini, detida pela polícia por violar o código de vestuário da República Islâmica, estão a ser violentamente reprimidos. Pelo menos 92 pessoas foram mortas nos protestos desde 16 de setembro, segundo a ONG Iran Human Rights. Há ainda centenas de detidos.

"Dentro da UE, estou a fazer os possíveis para pôr em prática sanções contra aqueles no Irão que espancaram mulheres até à morte e dispararam contra manifestantes em nome da religião"
, escreveu a ministra alemã dos Negócios Estrangeiros na quinta-feira passada, no Twitter.

A última vez que os 27 Estados-membros da UE concordaram com sanções contra Teerão foi em 2021. A UE tem evitado este tipo de medidas na esperança de reavivar o acordo nuclear com o Irão depois de os Estados Unidos se terem retirado em 2018 - negociações que, de momento, estão estagnadas.
Irão critica Biden após anúncio de novas sanções
Os Estados Unidos e o Canadá já impuseram sanções à polícia de moralidade iraniana por abuso de mulheres, responsabilizando a polícia pela morte de Mahsa Amini, de 22 anos, durante a sua custódia policial. A jovem curda morreu três dias após ter sido detida por violar o código de vestuário feminino da República Islâmica, que exige que as mulheres usem lenços hijab e roupas modestas.

O presidente norte-americano, Joe Biden, já disse que esta semana a sua Administração "imporá mais custos" àqueles que “perpetram violência contra protestos pacíficos”, nomeadamente estudantis. "Continuaremos a responsabilizar as autoridades iranianas e a apoiar o direito dos iranianos de protestar livremente", disse Biden.

Biden não deu nenhuma indicação, ainda, das novas medidas previstas contra o Irão, já alvo de pesadas sanções económicas norte-americanas, em grande parte devido ao seu controverso programa nuclear. Mas Teerão já respondeu às futuras novas sanções, criticando a “hipocrisia” do presidente dos EUA.

"Joe Biden deveria ter pensado um pouco sobre o histórico de direitos humanos do seu país antes de falar sobre a situação humanitária no Irão, mesmo que a hipocrisia não exija uma reflexão profunda", disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Irão, Nasser Kanani.

"O presidente norte-americano deveria preocupar-se com as consequências das inúmeras sanções (...) contra a nação iraniana, que representam claramente um exemplo de crime contra a humanidade", acrescentou.


O líder supremo do Irão, o ayatollah Ali Khamenei, já tinha atacado Washington na segunda-feira, acusando os EUA e Israel de terem provocado as manifestações – as maiores registadas no país desde 2019, então contra o aumento dos preços dos combustíveis.

"Quem é que planeou isto? Eu digo que é claro que o planeamento foi feito pela América, o falso regime sionista usurpador, assim como os seus agentes pagos, com a ajuda de alguns iranianos traidores no estrangeiro", disse Khamenei.

Para além dos EUA e do Canadá, também França disse estar a trabalhar dentro da UE para impor sanções ao Irão, enquanto o Reino Unido convocou o principal diplomata do Irão à capital britânica para fazer passar uma mensagem aos líderes em Teerão.

c/agências
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