Vacina da AstraZeneca suspensa nos Países Baixos, DGS e Infarmed atentos

por Andreia Martins - RTP
A DGS e o Infarmed pedem aos profissionais de saúde que notifiquem as autoridades de imediato caso "suspeitem de reações adversas após a vacinação". Reuters

Os Países Baixos anunciaram no domingo a suspensão da vacina da AstraZeneca até 28 de março. Esta suspensão preventiva responde à ocorrência de "possíveis efeitos secundários" de doentes vacinados na Dinamarca e Noruega, que também já suspenderam a inoculação desenvolvida por esta farmacêutica. Em Portugal, a Direção-Geral da Saúde e o Infarmed asseguraram no domingo que a vacina da AstraZeneca pode continuar a ser administrada e que os dois casos tromboembólicos registados no país apresentam um "padrão clínico" diferente de outros registados no resto da Europa. No entanto, pedem aos profissionais de saúde que notifiquem de imediato as autoridades portuguesas caso suspeitem de reações adversas após a vacinação.

É mais um na já longa lista de países europeus que decidiu suspender a administração de vacinas desenvolvidas pela farmacêutica AstraZeneca e Universidade de Oxford em resposta aos casos de formação de coágulos sanguíneos em pessoas vacinadas. Só na última semana, Irlanda, Noruega, Dinamarca, Islândia e Bulgária tinham tomado a mesma decisão “por precaução”.

De acordo com o Ministério holandês da Saúde, não foram registados quaisquer casos tromboembólicos possivelmente relacionados com a vacinan no país. A tutela aconselha os cidadãos que tomaram esta inoculação a contactarem o seu médico caso apresentem sintomas inesperados ou desconhecidos, ou a identificação de manchas azuis (na pele três dias após a inoculação.

"Com base em novas informações, a Autoridade holandesa do medicamento aconselhou, como medida de precaução e enquanto se aguarda investigação adicional, a suspensão da administração da vacina da AstraZeneca", anunciou o Ministério holandês da Saúde no domingo em comunicado

As novas informações a que o Ministério faz referência dizem respeito a “seis novos relatos de possíveis efeitos colaterais” na Dinamarca e Noruega.

“Estes são sinais raros e graves de formação de coágulos (trombose) e de um número reduzido de plaquetas sanguíneas (trombocitopenia) em adultos com menos de 50 anos de idade”, refere a tutela holandesa.

Hugo de Jonge, ministro da Saúde nos Países Baixos, sublinha que é crucial apurar se as queixas verificadas no resto da Europa “são queixas depois da vacinação ou devido à vacinação”.

“Não deve haver dúvidas sobre as vacinas. Devemos ter cuidado, por isso é aconselhável pressionar o botão de pausa por precaução”, sublinhou o ministro.
“Benefícios continuam a superar os riscos”

A Agência Europeia do Medicamento (EMA) - sediada em Amsterdão – indicava na semana passada que, até 10 de março, se tinham registado 30 casos de tromboses entre cerca de cinco milhões de pessoas vacinadas na União Europeia com a vacina da AstraZeneca, um número que está em linha com o que é observado na população em geral.

“O número de eventos tromboembólicos em pessoas vacinadas não é maior do que o número observado na população em geral”, salienta.

Há exatamente uma semana, a Áustria tinha anunciado a suspensão da administração de um lote de vacinas produzidas pela AstraZeneca, após a morte de uma enfermeira de 49 anos a quem tinha sido dada a vacina, e que sofreu “sérios problemas de coagulação”.

Outros países europeus – Luxemburgo, Estónia, Lituânia e Letónia – suspenderam a vacinação com doses desse mesmo lote da AstraZeneca identificado na Áustria. O lote em causa tinha um milhão de vacinas e foi distribuído por 17 países (em que Portugal não se inclui). Também a Dinamarca confirmou às autoridades europeias a morte de um doente que havia recebido a vacina.

Numa investigação preliminar, a Agência Europeia do Medicamento (EMA) concluía que não havia ligação entre a morte a enfermeira de 49 anos na Áustria e a administração da vacina.

Não obstante, a EMA anunciou na semana passada que está a investigar os eventos tromboembólicos citados pelos vários Governos europeus.

“Atualmente não há indicação de que a vacinação tenha motivado estes acontecimentos, que não estão listados como efeitos colaterais desta vacina. A posição do comité de segurança PRAC (Pharmacovigilance Risk Assessment Committee) da Agência Europeia do Medicamento é que os benefícios da vacina continuam a superar os riscos e a vacina pode continuar a ser administrada enquanto decorre a investigação dos casos de eventos tromboembólicos”, adiantava então a EMA.

A inoculação da AstraZeneca é uma das quatro já aprovadas pela Agência Europeia do Medicamento, e é por isso uma das vacinas que integra o plano de vacinação em Portugal. Há menos de uma semana, a 10 de março, a Direção-Geral da Saúde passou a recomendar esta inoculação a maiores de 65 anos. Perante novos dados científicos de eficácia, a utilização passou a ser permitida “sem reservas” a partir dos 18 anos de idade.
Dois eventos tromboembólicos em Portugal

No domingo, após a suspensão desta vacina em vários países, as autoridades portuguesas vieram reforçar a segurança na inoculação da AstraZeneca em comunicado enviado às redações. 

Os casos notificados por outros países europeus “estão a ser avaliados” pela Agência Europeia do Medicamento e espera-se uma conclusão “durante a próxima semana”.

Em comunicado conjunto, o Infarmed e a Direção-Geral da Saúde adiantam ainda que foram registados dois casos de eventos tromboembólicos em Portugal após a toma da vacina da AstraZeneca, “sendo que não apresentam o mesmo padrão clínico dos que se encontram em avaliação” pelas autoridades europeias.

“O número de eventos tromboembólicos comunicados na população vacinada na União Europeia (cerca de 5 milhões de doses) e no Reino Unido (cerca de 11 milhões de doses) continua a não ser superior ao verificado na população em geral. Até ao momento não há evidência de que a vacinação possa estar na origem destes eventos”, destacam o Infarmed e a DGS.

Com estes dados, as autoridades de saúde adiantam que a vacina pode continuar a ser administrada. No entanto, pedem aos profissionais de saúde notifiquem de imediato o Sistema Nacional de Farmacovigilância caso "suspeitem de reações adversas após a vacinação”.
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