É mais um na já longa lista de países europeus que decidiu suspender a administração de vacinas desenvolvidas pela farmacêutica AstraZeneca e Universidade de Oxford em resposta aos casos de formação de coágulos sanguíneos em pessoas vacinadas. Só na última semana, Irlanda, Noruega, Dinamarca, Islândia e Bulgária tinham tomado a mesma decisão “por precaução”.
De acordo com o Ministério holandês da Saúde, não foram registados quaisquer casos tromboembólicos possivelmente relacionados com a vacinan no país. A tutela aconselha os cidadãos que tomaram esta inoculação a contactarem o seu médico caso apresentem sintomas inesperados ou desconhecidos, ou a identificação de manchas azuis (na pele três dias após a inoculação.
"Com base em novas informações, a Autoridade holandesa do medicamento aconselhou, como medida de precaução e enquanto se aguarda investigação adicional, a suspensão da administração da vacina da AstraZeneca", anunciou o Ministério holandês da Saúde no domingo em
comunicado.
As novas informações a que o Ministério faz referência dizem respeito a “seis novos relatos de possíveis efeitos colaterais” na Dinamarca e Noruega.
“Estes são sinais raros e graves de formação de coágulos (trombose) e de um número reduzido de plaquetas sanguíneas (trombocitopenia) em adultos com menos de 50 anos de idade”, refere a tutela holandesa.
Hugo de Jonge, ministro da Saúde nos Países Baixos, sublinha que é crucial apurar se as queixas verificadas no resto da Europa “são queixas depois da vacinação ou devido à vacinação”.
“Não deve haver dúvidas sobre as vacinas. Devemos ter cuidado, por isso é aconselhável pressionar o botão de pausa por precaução”, sublinhou o ministro.
“Benefícios continuam a superar os riscos”
A Agência Europeia do Medicamento (EMA) - sediada em Amsterdão – indicava na semana passada que, até 10 de março, se tinham registado 30 casos de tromboses entre cerca de cinco milhões de pessoas vacinadas na União Europeia com a vacina da AstraZeneca, um número que está em linha com o que é observado na população em geral.
“O número de eventos tromboembólicos em pessoas vacinadas não é maior do que o número observado na população em geral”, salienta.
Há exatamente uma semana, a Áustria tinha anunciado a suspensão da administração de um lote de vacinas produzidas pela AstraZeneca, após a morte de uma enfermeira de 49 anos a quem tinha sido dada a vacina, e que sofreu “sérios problemas de coagulação”.
Outros países europeus – Luxemburgo, Estónia, Lituânia e Letónia –
suspenderam a vacinação com doses desse mesmo lote da AstraZeneca identificado na Áustria. O lote em causa tinha um milhão de vacinas e foi distribuído por 17 países (em que
Portugal não se inclui). Também a Dinamarca confirmou às autoridades europeias a morte de um doente que havia recebido a vacina.
Numa
investigação preliminar,
a Agência Europeia do Medicamento (EMA) concluía que não havia ligação entre a morte a enfermeira de 49 anos na Áustria e a administração da vacina.
Não obstante, a EMA anunciou na semana passada que
está a investigar os eventos tromboembólicos citados pelos vários Governos europeus.
“Atualmente não há indicação de que a vacinação tenha motivado estes acontecimentos, que não estão listados como efeitos colaterais desta vacina. A posição do comité de segurança PRAC (Pharmacovigilance Risk Assessment Committee) da Agência Europeia do Medicamento é que os benefícios da vacina continuam a superar os riscos e a vacina pode continuar a ser administrada enquanto decorre a investigação dos casos de eventos tromboembólicos”, adiantava então a EMA.
A inoculação da AstraZeneca é uma das quatro já aprovadas pela Agência Europeia do Medicamento, e é por isso
uma das vacinas que integra o plano de vacinação em Portugal. Há menos de uma semana, a 10 de março, a Direção-Geral da Saúde passou a recomendar esta inoculação a maiores de 65 anos. Perante novos dados científicos de eficácia, a utilização passou a ser permitida “
sem reservas” a partir dos 18 anos de idade.
Dois eventos tromboembólicos em Portugal
No domingo, após a suspensão desta vacina em vários países, as autoridades portuguesas vieram reforçar a segurança na inoculação da AstraZeneca em comunicado enviado às redações.
Os casos notificados por outros países europeus “estão a ser avaliados” pela Agência Europeia do Medicamento e espera-se uma conclusão “durante a próxima semana”.
Em comunicado conjunto, o Infarmed e a Direção-Geral da Saúde adiantam ainda que foram registados dois casos de eventos tromboembólicos em Portugal após a toma da vacina da AstraZeneca, “sendo que não apresentam o mesmo padrão clínico dos que se encontram em avaliação” pelas autoridades europeias.
“O número de eventos tromboembólicos comunicados na população vacinada na União Europeia (cerca de 5 milhões de doses) e no Reino Unido (cerca de 11 milhões de doses) continua a não ser superior ao verificado na população em geral. Até ao momento não há evidência de que a vacinação possa estar na origem destes eventos”, destacam o Infarmed e a DGS.
Com estes dados, as autoridades de saúde adiantam que a vacina pode continuar a ser administrada. No entanto, pedem aos profissionais de saúde notifiquem de imediato o Sistema Nacional de Farmacovigilância caso "suspeitem de reações adversas após a vacinação”.